Pânico. Pavor. Medo. Insegurança. Depressão. Quem foi vítima de violência sabe muito bem o significado de cada uma dessas palavras. Mas os traumas que um ato violento pode deixar no ser humano vão além das incômodas sensações psicológicas. O cérebro, acredite, pode atrofiar.
Uma coletânea de estudos, que ainda não foram publicados na Europa e nos Estados Unidos, realizados por grupos da Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, apontaram a constatação de redução significativa do volume do hipocampo, região do cérebro relacionada à memória, em vítimas de violência. Essa redução pode variar de 5% a 26% em relação a pessoas que não sofreram traumas. "A atrofia é proporcional à gravidade dos sintomas", explicou o psiquiatra Acioly Luiz Tavares de Lacerda, professor da pós-graduação da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e professor visitante da Universidade de Pittsburgh (EUA). "Com essa onda de violência, uma tecnologia promissora vai permitir que o exame de corpo de delito constate danos cerebrais em vítimas de ações violentas", completou Lacerda.
O trabalho agora será realizado no Brasil, com um estudo mais amplo e complexo. Os casos de transtorno de estresse pós-traumático estão sendo analisados por pesquisadores da Unifesp, entre eles Lacerda, que coordena o módulo que investiga as alterações cerebrais por meio de imagens de alta resolução de ressonância magnética. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), num total de R$ 5,2 milhões. Os trabalhos tiveram início em janeiro deste ano e devem ser concluídos dentro de um ano e meio.
De acordo com estudos epidemiológicos desenvolvidos em diferentes países, 25% das vítimas de situações traumáticas, como estupro, acidente de carro e seqüestro, desenvolvem quadro de ansiedade intensa e persistente. Ou seja, sofrem de insônia, têm pesadelos, perdem a tonalidade emocional (ficam apáticos) e apresentam reações de sobressalto. Leia-se: ficam "uma pilha de nervos". Há ainda o registro de prejuízo na memória, o que faz com que os relatos dos fatos da vida fiquem "pobres".
O trabalho da Unifesp vai envolver 200 voluntários da cidade de São Paulo, com idade entre 18 e 55 anos, vítimas dos mais variados tipos de violência. "Por uma questão de ética, resolvemos não incluir crianças no estudo", declarou o psiquiatra ao Cenário XXI.
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