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Tratamento tópico é testado contra câncer de pele

Publicado em 03 outubro 2017

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP estão testando em camundongos uma técnica que associa corrente elétrica de baixa intensidade a uma formulação contendo quimioterápicos nanoencapsulados para o tratamento de câncer de pele. Resultados preliminares do estudo foram apresentados nos Estados Unidos, durante a Fapesp Week Nebraska-Texas, organizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e realizada entre os dias 18 e 22 de setembro, nos Estados Unidos.

“Um dos desafios para esse tipo de tratamento tópico é fazer com que o fármaco consiga atravessar o estrato córneo – a camada mais superficial da pele, composta basicamente de células mortas. Essa é uma importante barreira do tecido contra a entrada de microrganismos, mas também dificulta a penetração de medicamentos”, explicou Renata Fonseca Vianna Lopez, professora da FCFRP. Aplicar uma corrente unidirecional de baixa intensidade é uma das formas de fazer com que substâncias químicas atravessem a pele, sendo empurradas até a circulação pelo campo elétrico. Essa técnica é conhecida como iontoforese.

No caso do câncer de pele, porém, a intenção não é que o fármaco atravesse todo o tecido e chegue ao sangue e sim que ele se concentre na região abaixo do estrato córneo que precisa de tratamento. Essa é a razão pela qual, no trabalho coordenado por Renata, optou-se por colocar o quimioterápico dentro de nanopartículas. O trabalho vem sendo realizado no âmbito de um Projeto Temático apoiado pela Fapesp. Os primeiros testes in vivo foram feitos durante o doutorado de Raquel Petrilli. Os pesquisadores induziram, nos animais, a formação de um tumor do tipo carcinoma de células escamosas – um dos tipos mais frequentes de câncer de pele – por meio de uma injeção subcutânea de células tumorais humanas que superexpressam o gene EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico, na sigla em inglês). A presença dessa proteína, explicou Renata Lopez, torna o tumor mais agressivo.

A terapia foi feita com uma formulação contendo o quimioterápico 5-fluorouracil encapsulado em uma nanopartícula (lipossoma) funcionalizada com um anticorpo anti-EGFR. As células malignas são capazes de capturar maior quantidade do fármaco encapsulado nesses lipossomas. Parte dos roedores recebeu a formulação no tumor por meio de injeções subcutâneas e parte por aplicação tópica associada à iontoforese. O grupo que recebeu a formulação associada à iontoforese apresentou uma redução tumoral significativamente maior do que o que recebeu por via injetável. “Além de reduzir o tamanho do tumor, o tratamento tópico o deixou menos agressivo. Acreditamos que esse método associado à iontoforese permite que o fármaco se disperse por toda a área tumoral, enquanto na aplicação subcutânea ele fica concentrado em um só local”, avaliou a professora.

Técnica versátil

Em outro trabalho, o grupo de Renata usou um tipo de nanopartícula polimérica – mais rígida – contendo o anti-inflamatório dexametasona associado à iontoforese para o tratamento de uveíte – inflamação no tecido ocular. Os resultados, divulgados em 2015 no Journal of Controlled Release , foram obtidos na tese de doutorado de Joel Gonçalves Souza, trabalho que venceu o prêmio Capes de Tese da área de Farmácia em 2015.

“Quando aplicamos o medicamento diretamente no olho, ele é eliminado rapidamente pelos mecanismos de defesa, como a drenagem lacrimal. Com o método de aplicação associado à iontoforese conseguimos maior penetração e melhores resultados”, comentou Renata. Atualmente, durante o doutorado de Camila Lemos, o grupo pretende testar um método que usa a iontoforese no tratamento de feridas crônicas, como as que se desenvolvem em portadores de diabete.

“Nesse caso, não temos a barreira do estrato córneo. Usamos a iontoforese para avaliar a sua influência na liberação da substância de interesse de uma formulação e para investigar o seu efeito no crescimento de microrganismos”, explicou Renata. A estratégia consiste em colocar um peptídeo com ação anti-inflamatória sobre um filme feito de fibras extraídas do casulo do bicho-da-seda (fibroína). Esse filme é colocado sobre a ferida como um curativo e, sobre ele, é aplicada a corrente elétrica.

“Quando colocamos o peptídeo diretamente na ferida, ele se degrada muito rapidamente. Já no filme a liberação ocorre de forma lenta e sustentada. A iontoforese permite que uma grande quantidade do peptídeo seja liberada do filme logo no início do tratamento e acelere a cicatrização”, explicou a pesquisadora. Além disso, contou Lopez, resultados preliminares sugerem que a iontoforese também interrompe a proliferação de alguns tipos de microrganismos (especificamente as bactérias gram-positivas) que podem agravar a lesão.

Karina Toledo/ Agência Fapesp, com edição do Jornal da USP (Leia aqui o texto original)