Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) testaram um tratamento com a droga nitroprussiato de sódio em uma linhagem de ratos que desenvolve espontaneamente alguns dos sintomas associados à esquizofrenia. Os resultados obtidos com um grupo de animais adolescentes sugerem que, no futuro, a doença talvez possa ser tratada de modo preventivo em jovens considerados de risco, ou seja, com casos de esquizofrenia na família. As informações são da Agência Fapesp nesta segunda-feira (13).
O trabalho, coordenado por Vanessa Costhek Abílio, professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), e apoiado pela FAPESP, foi publicado na revista CNS Neuroscience & Therapeutics. O nitroprussiato de sódio é um sal que, no organismo, serve como importante fonte de óxido nítrico – um potente vasodilatador. Por esse motivo, desde os anos 1920, o composto vem sendo prescrito para o tratamento de casos severos de hipertensão. Mais recentemente, observou-se que a droga poderia beneficiar também pacientes com esquizofrenia.
Em 2013, foi publicado um importante estudo de pesquisadores brasileiros no periódico JAMA Psychiatry, da Associação Médica Norte-Americana, relatando a descoberta dos efeitos terapêuticos da aplicação de nitroprussiato de sódio em pacientes com sintomas graves de esquizofrenia.
Liderado por Jaime Eduardo Cecilio Hallak, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e coordenador do INCT-Medicina Translacional, o estudo revelou que a aplicação de uma única injeção de nitroprussiato de sódio proporcionou a imediata redução de sintomas positivos (alucinações, entre outros), negativos (embotamento afetivo, entre outros), de ansiedade e depressivos em pacientes com esquizofrenia severa.
“O trabalho de Hallak mostrou que, em 20 pacientes graves, internados por conta do transtorno, uma única injeção de nitroprussiato de sódio levou a uma melhora global e duradoura nos sintomas”, disse Vanessa Abílio à Agência FAPESP. A descoberta desencadeou uma série de pesquisas e, atualmente, há fortes indícios do efeito benéfico do nitroprussiato de sódio para pacientes com esquizofrenia. “Decidimos investigar se a droga também teria efeito preventivo sobre a esquizofrenia. Para isso, tratamos os animais antes que apresentassem as manifestações da doença”, disse a pesquisadora.
De alguma forma, a administração de nitroprussiato de sódio na fase adolescente dos ratos espontaneamente hipertensos influenciou de modo benéfico toda esta cadeia de relações neuroquímicas, impedindo o aparecimento de alterações comportamentais quando os animais atingiram a idade adulta. Segundo os autores, novos estudos são necessários para investigar se o uso de novas possibilidades terapêuticas, como o nitroprussiato de sódio, poderá tornar possível o tratamento preventivo da esquizofrenia.