Terapia tem índice de cura de 90% e dispensa a intervenção cirúrgica em diversos casos; baixo custo de implantação e operação são vantagens, segundo comissão nacional do SUS
Equipamentos desenvolvidos em São Carlos para o tratamento de câncer de pele recebeu aval para serem integrados ao SUS (Sistema Único de Saúde), como alternativa efetiva de baixo custo.
A decisão da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) de recomendar a incorporação vai dar aos pacientes uma alternativa de tratamento ao carcinoma basocelular, o tipo de câncer mais frequente no Brasil e no mundo.
Desenvolvido no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica sediado no IFSC (Instituto de Física de São Carlos), da USP, o dispositivo da MM Optics é baseado em terapia fotodinâmica e consegue uma melhor discriminação visual do câncer de pele, aumentando o contraste de visualização das margens da lesão.
O tratamento inclui a aplicação de uma pomada, que é absorvida pelas células tumorais e dá origem a um tipo de pigmento fotossensibilizante “primo” da clorofila. Depois da remoção da pomada, a região recebe por 20 minutos a irradiação de luz LED vermelha, que ativa a “prima da clorofila” e desencadeia uma série de reações, destruindo as células tumorais e preservando as sadias.
O tratamento proposto pelos são-carlenses é composto por duas sessões, com uma semana de intervalo.
Os testes foram realizados em 72 centros de saúde de todo o país, sob a coordenação de Valderlei Bagnato, professor do IFSC. Só no Hospital “Amaral Carvalho”, em Jaú, mais de 2 mil lesões de pacientes foram tratadas usando o equipamento . Os estudos foram também feitos em outros nove países da América Latina.
Segundo os pesquisadores, o tratamento eliminou cerca de 85% dos tumores, sem apresentação de efeitos colaterais. Os pacientes apenas tiveram vermelhidão no local, mas sem formação de cicatriz. Em um novo protocolo, com duas aplicações em única sessão, a eficácia subiu para 93%.
“Há uma grande quantidade de pacientes que necessitam viajar longas distâncias para ter acesso ao tratamento cirúrgico ou que moram em municípios com extensas filas de espera para cirurgia. Nesses casos, a possibilidade de tratamento pela terapia fotodinâmica, que é um procedimento ambulatorial, se torna uma relevante opção terapêutica, segura e efetiva” , afirma a professora do IFSC e uma das autoras da técnica, Cristina Kurachi.
“SEGURO E EFICAZ”, DIZ CONITEC
O conselho ressaltou o papel de inovação das universidades e afirmou que o tratamento proposto por pesquisadores da USP São Carlos é “alternativa segura e eficaz” para os casos em que a intervenção cirúrgica não é recomendada.
O corpo de pesquisadores que avaliou a técnica destacou que o procedimento tem vantagens em relação à cirurgia por ser feito de forma ambulatorial e não demandar grande infraestrutura. A presença de profissionais já capacitados e a infraestrutura estar disponível em dezenas de serviços públicos de saúde também abriram caminho para a chancela à adesão. O tratamento se mostrou eficaz a longo prazo, com índice de cura em 90% e baixos indicadores de recidiva.
Apesar dos prós e da decisão favorável do colegiado, caberá ao secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde deliberar pela implantação ou não da tecnologia no SUS.
*Com informações da Agência FAPESP