Que rumos tomaram os pesquisadores brasileiros amparados com alguma modalidade de bolsa ao longo da vida acadêmica? Segundo minucioso estudo divulgado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) — Perfil e Trajetória Acadêmico-Profissional de Bolsistas Fapesp —, uma das principais instituições de fomento à pesquisa do País, 54,5% dos bolsistas apoiados pela instituição chegaram ao doutorado. Desse universo, 77% atuam em instituições de ensino e pesquisa do Brasil ou Exterior (1,7%) e só 13,2% não seguiram na carreira acadêmica.
“Esses dados revelam que ainda há a cultura de que as empresas brasileiras investem pouco em pesquisa e desenvolvimento e, por isso, não absorvem mão de obra qualificada, muito embora careçam dela. Há que se criar esse mercado para os produtores de conhecimento em todos os setores e o Brasil tem se esforçado para isso”, avalia o secretário estadual de ensino superior Carlos Vogt, um dos autores da pesquisa (presidia a Fapesp à época do levantamento).
Na avaliação de egressos da instituição que se tornaram pesquisadores, esse nicho de mercado não só existe como está em ascensão. “Conheço colegas que já foram absorvidos e sei que as empresas da área química estão investindo em pesquisa e desenvolvimento, a exemplo da Libbs Farmacêutica, em Cotia”, revela o doutorando em Química pela Unicamp Giovani Amarante, que se graduou e concluiu o mestrado em química na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O mestrando em Química pela Unicamp Adilson Brandão, também graduado em Química pela UFJF, partilha de opinião semelhante. “Não descarto a possibilidade de ingressar numa empresa nacional, nem a de seguir na academia como pesquisador e docente”, diz.
Na prática, ser bolsista significa dedicar-se exclusivamente ao conhecimento. “A bolsa que recebo hoje da Fapesp gira em torno de R$ 1,3 mil, valor que não cobre o custo de vida campineiro. Mas em termos de formação, essa dedicação compensa. E muito. Estou investindo em minha formação”, pontua.
E os químicos são os que mais vão adiante em termos de conhecimento. Segundo o levantamento da Fapesp, 75,5% dos doutorandos que já formam beneficiados com alguma modalidade de bolsa da instituição são da área de Química. As áreas de Astronomia e Ciência Espacial, Física, Engenharia, Saúde vem a seguir no mesmo ranking.
Celeiro Paulista
Ainda segundo o estudo, dos bolsistas Fapesp que se tornaram pesquisadores, 26,4% se ligaram a USP, 9,1% a Unesp a 8,4% a Unicamp. Segundo a Pró-Reitora de Pós-Graduação da Unicamp Teresa Dib Zambon Atvars, em 2008, a instituição concentrava 1.344 bolsistas Fapesp, sendo 631 mestrandos e 713 doutorandos, distribuídos em todas as áreas e segue atraindo novas cabeças desde 2006.
“A universidade tem um grande número de estudantes que recebem bolsas de convênios com empresas nacionais e multinacionais, com destaque para as áreas de engenharias e ciências do petróleo ”, avalia a pró-reitora.