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Testes preliminares apontam medicamento com potencial ação contra inflamação em covid grave (75 notícias)

Publicado em 14 de setembro de 2022

Por Giovanna Grepi

Estudo em laboratório, conduzido por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, identificou um fármaco capaz de inibir a inflamação e a replicação do coronavírus; novos testes devem ser realizados para indicação em humanos

A absorção do medicamento no estômago é baixa, ou seja, não existe atualmente a possibilidade de tratar a covid-19 com a ingestão oral do fármaco. Porém, testes clínicos já estão em andamento para fazer o reposicionamento da droga para ela ser ministrada de outra forma em casos graves de infecção por sars-cov-2.

Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto identificaram fármacos com potencial para interromper a inflamação que piora os casos graves de covid-19. O destaque foi a niclosamida, um vermífugo conhecido desde a década de 1950 que se mostrou como melhor fármaco para inibir tanto o processo inflamatório quanto a replicação do sars-cov-2. Os resultados obtidos por testes in vitro e de infecções em camundongos está no artigo Identification of immunomodulatory drugs that inhibit multiple inflammasomes and impair sars-cov-2 infection publicado hoje na revista

Science Advances.

“É uma droga já utilizada há muitos anos em casos de infecção por tênia e está aprovada para uso oral no Brasil. Mas é importante destacar que a absorção do medicamento no estômago é baixa, ou seja, não existe possibilidade de tratar a covid-19 com ingestão oral da niclosamida. Mas já existem testes clínicos em andamento para fazer o reposicionamento da droga para ser ministrada de outra forma em casos grave de infecção por sars-cov-2”, explica Dario Simões Zamboni, coordenador do estudo e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

A busca pelos medicamentos, conta Zamboni, foi realizada em uma biblioteca com mais de 2.500 compostos químicos. A comunidade científica vinha procurando por “moléculas que tivessem atividade de inibir a ativação dos inflamassomas”, explica o professor, acrescentando que tinham como base a informação de que “os inflamassomas, que são proteínas presentes dentro das células de defesa do nosso organismo, estão muito ativados nos casos graves da covid-19 e a ativação excessiva dessas proteínas piora o quadro dos pacientes e pode levar à óbito”.

A ativação dos inflamassomas é um dos processos que ativam a tempestade de citocinas, resposta imunológica descontrolada que pode causar prejuízos ao corpo humano. Segundo o professor Zamboni, o sistema imune do paciente com a forma grave da covid-19 entra em um processo inflamatório que não é desativado após o controle da replicação viral; e a desativação da inflamação é o que se espera depois do controle da infecção. “São pacientes que procuram assistência médica e que podem até controlar a infecção pelo sars-cov-2, mas o processo inflamatório continua e pode levar o paciente à óbito”, explica.

Para os testes, em laboratório, os pesquisadores ativaram inflamassomas infectando macrófagos, que são células presentes no sistema imune, com a bactéria Legionella pneumophila, causadora da pneumonia. Após a infecção, quantificaram a ativação desses inflamassomas usando diversos compostos químicos para encontrar potenciais inibidores do processo inflamatório.

O estudo conta com participação de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), que é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sediado na FMRP; do Centro de Pesquisa em Virologia e do Hospital das Clínicas (HCFMRP), ambos da FMRP. O trabalho foi financiado pela Fapesp, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Mais informações: e-mail dszamboni@fmrp.usp.br, com o professor Dario Simões Zamboni