Estudo em laboratório, conduzido por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, identificou um fármaco capaz de inibir a inflamação e a replicação do coronavírus; novos testes devem ser realizados para indicação em humanos
A absorção do medicamento no estômago é baixa, ou seja, não existe atualmente a possibilidade de tratar a covid-19 com a ingestão oral do fármaco. Porém, testes clínicos já estão em andamento para fazer o reposicionamento da droga para ela ser ministrada de outra forma em casos graves de infecção por sars-cov-2.
Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto identificaram fármacos com potencial para interromper a inflamação que piora os casos graves de covid-19. O destaque foi a niclosamida, um vermífugo conhecido desde a década de 1950 que se mostrou como melhor fármaco para inibir tanto o processo inflamatório quanto a replicação do sars-cov-2. Os resultados obtidos por testes in vitro e de infecções em camundongos está no artigo Identification of immunomodulatory drugs that inhibit multiple inflammasomes and impair sars-cov-2 infection publicado hoje na revista
Science Advances.
“É uma droga já utilizada há muitos anos em casos de infecção por tênia e está aprovada para uso oral no Brasil. Mas é importante destacar que a absorção do medicamento no estômago é baixa, ou seja, não existe possibilidade de tratar a covid-19 com ingestão oral da niclosamida. Mas já existem testes clínicos em andamento para fazer o reposicionamento da droga para ser ministrada de outra forma em casos grave de infecção por sars-cov-2”, explica Dario Simões Zamboni, coordenador do estudo e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
A busca pelos medicamentos, conta Zamboni, foi realizada em uma biblioteca com mais de 2.500 compostos químicos. A comunidade científica vinha procurando por “moléculas que tivessem atividade de inibir a ativação dos inflamassomas”, explica o professor, acrescentando que tinham como base a informação de que “os inflamassomas, que são proteínas presentes dentro das células de defesa do nosso organismo, estão muito ativados nos casos graves da covid-19 e a ativação excessiva dessas proteínas piora o quadro dos pacientes e pode levar à óbito”.
A ativação dos inflamassomas é um dos processos que ativam a tempestade de citocinas, resposta imunológica descontrolada que pode causar prejuízos ao corpo humano. Segundo o professor Zamboni, o sistema imune do paciente com a forma grave da covid-19 entra em um processo inflamatório que não é desativado após o controle da replicação viral; e a desativação da inflamação é o que se espera depois do controle da infecção. “São pacientes que procuram assistência médica e que podem até controlar a infecção pelo sars-cov-2, mas o processo inflamatório continua e pode levar o paciente à óbito”, explica.
Para os testes, em laboratório, os pesquisadores ativaram inflamassomas infectando macrófagos, que são células presentes no sistema imune, com a bactéria Legionella pneumophila, causadora da pneumonia. Após a infecção, quantificaram a ativação desses inflamassomas usando diversos compostos químicos para encontrar potenciais inibidores do processo inflamatório.
O estudo conta com participação de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), que é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) sediado na FMRP; do Centro de Pesquisa em Virologia e do Hospital das Clínicas (HCFMRP), ambos da FMRP. O trabalho foi financiado pela Fapesp, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Mais informações: e-mail dszamboni@fmrp.usp.br, com o professor Dario Simões Zamboni