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Correio da Amazônia

Teste permite identificar infecção prévia por zika e pela dengue (35 notícias)

Publicado em 31 de janeiro de 2025

Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma forma simples e rápida de identificar pessoas previamente expostas a cada um dos quatro sorotipos do vírus da dengue, bem como ao vírus zika. Trata-se de um teste imunoenzimático do tipo ELISA, plataforma amplamente utilizada em laboratórios de análises clínicas do país, passível de ser adaptado para outras tecnologias automatizadas e testes rápidos do tipo point of care.

O trabalho foi conduzido no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com cientistas da Faculdade de Medicina (FM-USP) e da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), estes liderados pelo professor Jaime Henrique Amorim. Os resultados foram publicados no Journal of Medical Virology.

A dengue é a arbovirose mais disseminada globalmente. É causada por um flavivírus que apresenta quatro sorotipos antigenicamente distintos (DENV 1, 2, 3 e 4) e que cocirculam com pelo menos outros nove vírus do mesmo grupo, entre eles o zika (ZIKV). As semelhanças compartilhadas entre os antígenos do DENV e do ZIKV levam a reações cruzadas e à redução da especificidade do diagnóstico sorológico.

Com o objetivo de tornar mais preciso o exame que detecta anticorpos presentes no sangue de pessoas previamente infectadas, mesmo aquelas sem sintomas aparentes, os pesquisadores utilizaram fragmentos de proteínas dos vírus, em particular a proteína do envelope viral (a camada mais externa do patógeno). Tal fragmento, denominado EDIII, está envolvido na ligação do vírus às células humanas.

Durante o estudo, financiado pela FAPESP por meio de seis projetos e conduzido durante o doutorado de Samuel Santos Pereira no ICB-USP, o teste foi inicialmente validado com amostras de sangue de camundongos experimentalmente infectados com os vírus DENV e ZIKV.

Nessa etapa, ele mostrou-se capaz de diferenciar anticorpos específicos contra cada um dos patógenos e, além disso, diferenciou anticorpos gerados pelos quatro sorotipos do DENV. Em seguida, o teste foi validado com cerca de 650 amostras de soro sanguíneo recolhidas de pessoas em São Paulo durante a epidemia de zika no Brasil (2015-2017). Os resultados indicaram sensibilidade de 87,8%, que indica a capacidade de evitar resultados falso-negativos, e especificidade de 91,4%, que se traduz na capacidade de evitar falso-positivos.

“Também testamos 318 amostras de soro colhidas de pessoas saudáveis na cidade de Barreiras [oeste da Bahia, região endêmica para DENV e outros arbovírus], sem diagnóstico prévio de dengue, como forma de avaliar a capacidade de monitoramento do teste para anticorpos específicos gerados após exposição aos vírus”, conta Luís Carlos de Souza Ferreira, professor do ICB-USP e coordenador do trabalho.

Segundo o pesquisador, cerca de 65% das amostras reagiram com pelo menos um antígeno de dengue (88 apenas com o sorotipo 1 e 90 delas com mais de um tipo de DENV). Curiosamente, apenas três amostras foram reativas para ZIKV, indicando que esse patógeno não circula na região há alguns anos ou que os anticorpos específicos gerados após a infecção têm curta duração.

“Coletivamente, esses resultados mostram que temos uma ferramenta poderosa para monitorar a imunidade sorológica de qualquer pessoa exposta a esses vírus, particularmente em populações que vivem em áreas endêmicas para dengue e zika ou que tomaram ou pretendem tomar uma das vacinas disponíveis para a prevenção da dengue”, diz Ferreira.

Fonte: CNN Brasil