Até o final do ano, a USP (Universidade de São Paulo) volta a ter todos os seus sete museus - quatro deles passam, no momento, por reformas - abertos ao público. Mas todo o rico acervo da universidade, que engloba de artes plásticas aos mais diversos ramos de conhecimento científico, continuarão com um velho e conhecido problema: o horário restrito de funcionamento. Vários deles não abrem aos domingos e, durante a semana, funcionam apenas no chamado "horário comercial".
Não que os museus fiquem às moscas, eles costumam ter um bom público, de caravanas de estudantes a visitantes individuais mas um horário mais ampliado seria, sem dúvida, uma boa forma de colocar os tesouros da USP mais próximos da população. Mas, pelo menos para os museus que funcionam dentro do campus, não há esta possibilidade por enquanto. A Reitoria da USP é enfática ao afirmar que não pretende reabrir o campus, embora tenha uma solução a longo prazo: já destinou uma área, com acesso pela avenida Corifeu de Azevedo Marques, para a construção de um grande complexo de museus. Para esta área, onde será instalado o novo Museu de História Natural, serão transferidos também os outros museus do campus. A área que será destinada aos museus tem 120 mil m2, dos quais 40 mil m2 de terreno plano.
Este grande complexo já tem projeto pronto e a reitoria está em fase, agora, de captação de recursos no Brasil e exterior. Com a possibilidade de uma entrada fora do campus, pode-se pensar na ampliação dos horários de visita. Por enquanto, conhecer o acervo dos museus da USP depende da disponibilidade de horários, do empréstimo de obras para exposições temporárias fora do campus ou da Internet, através do site www.usp.br que traz ainda acesso a alguns dos principais museus do mundo.
Pertencem à USP, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) com duas unidades dentro do campus e outra no Ibirapuera; o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), o Museu Oceanográfico, Museu de Geociências, as coleções do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), todos no campus: o Museu de Zoologia e o Museu Paulista, no bairro do Ipiranga.
O centenário Museu de Zoologia, criado no século passado é o mais antigo da USP e está passando por uma ampla reforma que inclui a modernização de suas salas e arquivos onde estão guardadas mais de sete milhões de exemplares, de pequenos invertebrados aos grandes vertebrados brasileiros como peixes-boi, golfinhos e macacos. O Museu de Zoologia abre de terça a domingo, das 10 h às 17 horas, mas, por causa da reforma, só volta a funcionar no final do ano. O museu tem a maior coleção de aves da região neotropical do mundo, com cerca de 75 mil exemplares; a maior coleção de ictiologia da região neotropical - e uma das dez maiores do mundo - com 1,3 milhões de peixes. Tem também a maior coleção de répteis e anfíbios neotropicais, com 130 mil espécimes, a segunda maior coleção de mamíferos do continente com 28 mil espécimes, e a maior coleção de crustáceos da América Latina.
O Museu de Geociências também está fechado para reformas e deve ser reaberto somente no final de outubro. Explica a diretora Maria Lúcia Rocha Campos que a reforma do museu objetiva torná-lo menos árido. "Nosso objetivo é fazer uma exposição mais dinâmica, mais acessível, com uma abordagem mais didática e voltada especialmente para os alunos,de 2o-grau", explica. Todo o acervo está sendo informatizado e os usuários terão informações completas via Internet. O museu foi criado em 1934 e entre suas amostras se destacam os minerais brasileiros; diversas variedades de quartzo, como ametista, citrino e ágata; minerais de ferro e manganês e o terceiro maior meteorito brasileiro, de 628 quilos. O museu, quando aberto, funciona de segunda a sexta das 8h as 12h e das 13h30 às 17h.
O Museu Oceanográfico e Aquário é na verdade mais um serviço do Instituto Oceanográfico do que um museu. Se destina a atender estudantes de 1º e 2º graus, mas segundo um dos responsáveis, o professor Sérgio Teixeira de Castro, também recebe outros visitantes. Pode ser vista lá a exposição permanente de oceanografia que mostra a estrutura, a dinâmica e a biodiversidade dos oceanos. Em seus 15 aquários marinhos, de 3 a 80 litros, são simulados os principais ambientes oceânicos. Faz parte ainda do museu a Expo-Antártica uma exposição fotográfica que registra expedições científicas do Instituto Oceanográfico à Antártica. O museu fica aberto de segunda a sexta-feira das 9h ás 17 horas.
O mais conhecido dos museus da USP é, sem dúvida, o MAC (Museu de Arte Contemporânea). Sua sede principal, dentro do campus, está passando por uma reforma enquanto boa parte do seu acervo participa de uma exposição na Fiesp. O MAC do Ibirapuera também passou por uma reforma, mas foi reaberto em maio. Tanto o MAC Sede como o MAC Anexo funcionam de segunda a sexta, das 10h as 19h, sábados das 10h as 14 horas e fecham domingos e feriados. O MAC Ibirapuera abre todos os dias, mas apenas das 12h às 18 horas. O acervo do MAC é composto por cerca de 8 mil obras entre óleos, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais que constituem uma referência internacional sobre a produção do século XX no Brasil e no mundo ocidental. O acervo para ser apresentado ao todo necessitaria de uma área de 10 mil m2. Parte dele pode ser visto na Fiesp na exposição "O Brasil no Século da Arte", com cerca de 200 obras de 150 artistas.
O acervo se iniciou em 1963 quando a USP recebeu a doação de Francisco Matarazzo Sobrinho, então presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do acervo que constituía o MAM. Além deste acervo, Matarazzo e sua mulher Yolanda Penteado doaram seus acervos particulares. O MAC recebeu, assim toda a história da constituição da primeira coleção especializada da arte do século XX na América Latina. Artistas e intelectuais também trabalharam para criação do MAC, inclusive com doação de obras. Nos anos 40, logo após a Segunda Guerra Mundial, houve ainda o estímulo do bem-sucedido exemplo do MoMA de Nova York. Também a ação institucional da Bienal de São Paulo, que transfere para o MAC inúmeras obras que participam das bienais tem garantido o crescimento do acervo do museu.
No IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), o acervo, formado ao longo dos seus 35 anos de existência, caracteriza-se por um expressivo conjunto de acervos pessoais de intelectuais brasileiros, aos quais se têm agregado obras de arte, documentos, publicações e pequenas coleções. O IEB também está fechado para reformas e a reinauguração está prevista para setembro, segundo a vice-diretora leda Dias Lima. Ela explica que o IEB tem o maior acervo de arte contemporânea depois do MAM do Rio. E visitado especialmente por estudantes universitários e por brazilianistas. O grande destaque para o público em geral são, sem dúvida, as coleções de artes visuais, iniciadas com o acervo de Mario de Andrade em 1968, adquirido da família do escritor. Fazem parte desse acervo os objetos e obras de arte que o autor colecionou durante toda a sua vida. Na área de artes plásticas, reúne pinturas, gravuras e desenhos representativos das primeiras gerações da arte moderna brasileira; peças que participaram da Semana de Arte Moderna de 22 e trabalhos fundamentais de modernistas, assim como de integrantes da geração dos anos 30/40. Hoje, além da coleção Mario de Andrade, existem as coleções de Maria Tereza L. de Arruda Camargo, de Anita Malfatti, Carlos Alberto Passo, Bernardino Ficarelli, Mariana Quito, Heloísa e Graciliano Ramos, além de doações avulsas e compras. Esses tesouros poderão ser vistos, depois da reabertura, das 14h as 17 horas, de segunda a sexta-feira.
O Museu Paulista, ou Museu do Ipiranga, como é popularmente conhecido, também pertence à USP. O museu está preparando, para o segundo semestre, uma grande exposição sobre mobiliário, segundo a museóloga e coordenadora do serviço de objetos do museu, Heloísa Barbuy. Uma das peças de destaque será um contador do século XVIII. O contador é um tipo de armarinho com uma série de gavetas de diversos tamanhos e portinholas trabalhadas com detalhes em dourado e marfim. A exposição vai reunir peças do século XVIII ao inicio do século XX. O acervo do Museu Paulista inclui pinturas, gravuras, desenhos e fotografias, além de um enorme acervo de objetos nacionais e estrangeiros utilizados no Brasil e particularmente em São Paulo até 1950. A maioria das peças vai do século XIX ao século XX, mas o conjunto relativo ao período colonial também é grande. O museu abre das 9h às 16h45, de terça e domingo.
UM OLHAR SOBRE O PASSADO DO HOMEM
O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, que completa dez anos em agosto, possui um acervo de mais de 150 mil peças. O MAE abriga coleções de arqueologia do Mediterrâneo e Oriente Médio; arqueologia americana, com ênfase na pré-história brasileira; etnologia brasileira e etnologia africana. E tem um grande projeto: a construção do Museu do Homem, para o qual a USP procura financiamento. O objetivo é contar a história da humanidade dos primórdios aos dias atuais.
Para formar o extenso acervo que possui hoje, o MAE contou com os resultados de pesquisas desenvolvidas em sítios arqueológicos por seus próprios pesquisadores; de coletas realizadas em campo por várias gerações de etnológos, inclusive no final do século passado, e com diferentes tipos de aquisição, como os intercâmbios com museus italianos, em 1964, que originaram a coleção de arqueologia mediterrânea e do Oriente Médio.
A atual área de exposição é pequena, explica a diretora do museu, Paula Monteiro. Só permite a exposição de cerca de 5% do acervo. As exposições permanentes propiciam um bom olhar sobre o passado do homem e, especialmente, o passado do homem brasileiro. A exposição do acervo do Mediterrâneo e Oriente Médio na Antigüidade, do MAE, mostra artefatos produzidos e usados por grupos humanos de até 40 mil anos atrás, que viviam em áreas próximas ao mar Mediterrâneo, como as culturas egéia, grega, etrusca, romana e as culturas da Mesopotâmia e Egito, localizadas no Oriente Médio.
São fragmentos de peças da vida cotidiana, especialmente artefatos ligados à subsistência e à religião. O acervo conta com a reconstituição de uma tumba egípcia do Novo Império, na região de Tebas, com o complexo mobiliário que cerca o morto. Há também exemplares dos tabletes, em argila e pedra, gravados com a escrita assíria, mesopotâmica e babilônicas, assim como sinetes e cilindros-selos que recontam as administrações palacianas.
Na exposição Brasil Indígena, o acervo mostra as origens e expansão das sociedades indígenas e as manifestações culturais indígenas. O acervo sobre a África desmistifica a imagem de um continente isolado, integrado à história somente a partir da chegada dos europeus. A exposição mostra a diversidade cultural e a vida nas sociedades nos reinos e impérios africanos. O MAE fica aberto das 9h às 12 horas e das 13h30 as 17 horas. A ampliação do horário só virá com a planejada construção do complexo de museus, na Cidade Universitária. (R.N.)
Notícia
Gazeta Mercantil