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Exame

Tesouro escondido

Publicado em 25 junho 2003

Por Por Roberta Paduan
Preste atenção nas três histórias a seguir No mundo todo, não passa de dez o número de empresas que desenvolvem sistemas de controle e defesa de tráfego aéreo - uma das atividades mais dependentes de tecnologia que existem. A brasileira Atech, de São Paulo, integra essa dezena. Seus sistemas controlam 80% dos aviões que cruzam o país - ela foi responsável pela integração do bilionário e controvertido Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Na América Latina, a Atech é a única a desenvolver esse tipo de sistema. As demais fabricantes de software de controle e defesa de espaço aéreo são sediadas em países como Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha. Há dois anos, Gérson Schmitt, presidente da Paradigma, de Florianópolis, esperava em Anaheim, Califórnia, diante de 5 000 pessoas de 60 países, o momento de receber da Microsoft a medalha de melhor empresa latino-americana de comércio eletrônico. Surpresa: a empresa de Bill Gates anunciou a Paradigma como ganhadora não apenas da medalha de melhor empresa latino-americana mas também do troféu de melhor empresa mundial do setor. Num encontro de segurança pública na Espanha, em 2000, policiais brasileiros perguntaram aos espanhóis de qual empresa americana era o banco de dados que usavam. A resposta: não se tratava de uma empresa americana, mas da Light Infocon, de Campina Grande, na Paraíba. A Polícia Nacional e o Ministério da Defesa da Espanha usam o software brasileiro desde 1999. Agora ouça o que diz Alice Amsden, professora de política econômica do festejado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT): "A produção de tecnologia da informação no Brasil é um dos segredos mais bem guardados do mundo". Alice chegou a essa conclusão depois de avaliar o desempenho de 57 empresas brasileiras que desenvolvem software e serviços relacionados. A pesquisa faz parte de um estudo que compara as indústrias de tecnologia da informação e comunicações de três países emergentes: Brasil, Índia e China. Para Alice, o Brasil deve ser considerado uma das principais forças do setor entre os países em desenvolvimento. "Mesmo desconhecido no exterior, o software brasileiro está se transformando num tesouro", diz ela. Para muita gente, essa afirmação deve soar exagerada. E não sem motivo. O cenário é desconhecido não só pelos estrangeiros mas pelos próprios brasileiros. Poucos sabem que, nos últimos anos, a indústria nacional de software deu um salto de capacitação e competitividade. As empresas criaram novas tecnologias, ajudaram a abastecer o mercado interno, aprenderam a competir e, muitas vezes, a ganhar das multinacionais. De 1995 para cá, o setor cresceu à taxa média anual de 11%, índice que equivale a cinco vezes o crescimento do PIB nacional (veja quadro abaixo). Só nos últimos cinco anos, as empresas estudadas por Alice cresceram em média 300%. Recentemente, elas até abriram as portas do mercado internacional. Na opinião de especialistas, o software brasileiro não faz feio na comparação com o das demais economias emergentes. "Observe a indústria de tecnologia da informação do México, país que vive uma fase de ascensão econômica, é vizinho dos Estados Unidos, pertence ao Nafta e tem renda per capita maior que a brasileira", diz o português Francisco Veloso, professor de gestão e política tecnológica da universidade americana Carnegie Mellon e da Universidade Católica de Portugal. "Teoricamente, o México poderia ser uma potência tecnológica, mas seu mercado equivale a um sétimo do brasileiro." De acordo com Veloso, um dos indicadores fundamentais de desenvolvimento da indústria de tecnologia brasileira é seu tamanho em relação ao PIB nacional: 1,5%. Na Índia, esse índice é de 1,7%, e na China, de 0,6%. Até pouco tempo atrás, o Brasil movimentava mais dinheiro com a indústria de software que a própria Índia, geralmente citada como a grande potência emergente no setor. Em 2000, por exemplo, o faturamento indiano com programas de computador era de 5,8 bilhões de dólares, contra 7,3 bilhões da indústria brasileira. Em 2001, o Brasil foi o sétimo maior mercado de software do mundo, com 7,7 bilhões de dólares. Mas aí o mercado indiano já movimentava 8,2 bilhões de dólares - 6% mais que o brasileiro. Não há números fechados para 2002, mas os especialistas ainda registram o Brasil em sétimo lugar, empatado com China e Índia. O governo estima que, no ano passado, a comercialização de software e serviços relacionados somaram 8,5 bilhões de dólares no país. Para este ano, a previsão é de 9,2 bilhões. Tal resultado, quase 1,8% do PIB, colocaria a indústria nacional de software em terceiro lugar entre as 500 maiores empresas brasileiras. Por que, então, fala-se tanto em software indiano? "A Índia obteve uma visibilidade internacional importantíssima porque voltou sua produção tecnológica para a exportação", afirma Veloso. Enquanto o mercado doméstico indiano consumiu apenas 2 bilhões de dólares de software em 2001, as empresas locais contabilizaram 6,2 bilhões em exportações. Já no Brasil, do total de 7,7 bilhões das receitas produzidas pelo software naquele ano, 6,7 bilhões foram comprados por empresas brasileiras ou instaladas aqui, segundo dados coletados para a pesquisa do MIT pelo Softex, um programa do governo de incenti vo ao setor. As exportações de software brasileiras mal chegaram a 100 milhões de dólares em 2001 (sem contar os programas de computador vendidos com outros produtos, de telefones celulares a aviões da Embraer). É aí que moram a oportunidade e a necessidade. "Se permanecermos locais, morreremos aqui dentro", afirma Gabriel Marão, vice-presidente da Itautec, empresa do grupo Itaúsa especializada em equipamentos e sistemas de informação. Embora a Itautec esteja presente em Portugal há 15 anos abastecendo o mercado de varejo com sistemas de automação comercial, nunca teve como meta se expandir para outros países, nem pelo restante da Europa. "Só agora os assuntos exportação e internacionalização são considerados uma necessidade clara", afirma Marão. A razão que levou a Itautec a tentar se internacionalizar é mais do que concreta: trata-se de ganhar ou perder negócios. Todo software hoje precisa rodar não apenas no Brasil mas pelo menos na América Latina. E essa ficha não caiu só na Itautec. Durante a apuração desta reportagem, praticamente todos os entrevistados estavam com viagens marcadas para o exterior com o objetivo de vender seus produtos lá fora. Dois executivos da Atech visitaram a África numa missão organizada pelo Ministério da Defesa brasileiro para apresentar empresas nacionais a governos e empresários de Angola, Namíbia e África do Sul. Laércio Cosentino, presidente da Microsiga, especializada em softwares de gestão empresarial, interrompeu uma entrevista às 17h30 de uma terça-feira para ir às pressas ao aeroporto de Guarulhos rumo ao México, onde teria, no dia seguinte, uma reunião com um potencial cliente. Paulo Sahd, dono da RMS, especializada em sistemas de gestão e automação para varejo, também atendeu a reportagem de EXAME com vôo marcado para o México, onde a empresa tem uma subsidiária desde 2001 (a RMS mexicana foi responsável, no ano passado, por 30% da receita total da empresa, ou 3 milhões de dólares). CONDIÇÕES DE BRIGA Mas será que essas empresas teriam condições de competir no exterior numa área em que o Brasil não tem a menor tradição internacional? Aqui é preciso abrir um breve parêntese histórico para compreender as características da indústria nacional de software. A reserva de mercado do setor de informática, iniciada no regime militar e encerrada apenas em 1992, foi responsável por um brutal atraso tecnológico. Míope, a reserva foi incapaz de enxergar a natureza da indústria da tecnologia da informação. Com o pretexto de desenvolver a produção nacional de equipamentos eletrônicos, protegeu essa indústria sem dar muita bola para aquilo que, fora do Brasil, era visto como a maior fonte de riqueza no mundo da tecnologia da informação: não os computadores, mas os programas que os faziam funcionar. Por aqui, o software nem era visto como produto. Era dado como brinde pelas fabricantes de equipamentos. Sem condição de competir em escala internacional, a indústria de hardware que a reserva ajudou a criar iniciou a década de 90 produzindo verdadeiras carroças digitais e praticamente ruiu com a abertura. Mas foram, ironicamente, a capacidade técnica dos programadores e o conhecimento acumulado pelos empresários nos anos da reserva que fomentaram no país, ao longo da última década, uma competitiva indústria local de software, pois programas de computador dependem, mais que qualquer outro negócio, de cérebros para absorver e criar conhecimento. "Hoje encontramos produtos e serviços tecnológicos no Brasil que podem competir em qualquer lugar do mundo", diz Veloso. Ele visitou pessoalmente oito empresas brasileiras durante a pesquisa do MIT. A afirmação de Veloso não implica, em absoluto, que o software nacional vá sair por aí enfrentando potências como IBM, Microsoft ou Oracle. Mas é preciso entender que a indústria de software é, em certo sentido, tão vasta quanto a de agropecuária, pois praticamente todos os processos de negócios podem sofrer certo grau de automação. Assim como um país é mais competitivo no trigo, outro no milho e um terceiro na soja ou no gado, também pode haver espaço para o Brasil em nichos específicos de programas de computador. O jornal espanhol El País, por exemplo, foi buscar em Belo Horizonte a empresa que im plantou um sistema de busca em seu site, a Akwan (trata-se, por sinal, do mesmo sistema usado pelos sites da Editora Abril, que edita EXAME). A Akwan não está mais no El País, mas, graças às portas abertas na Espanha, tem sua tecnologia em três bancos locais: BBVA, La Caixa e La Caja Segóvia. Esse exemplo mostra que, do ponto de vista estratégico, é fundamental para o país conhecer os setores em que o software nacional pode competir. Eis, segundo nossa reportagem, os principais candidatos: SISTEMAS FINANCEIROS A era das trocas freqüentes de moeda e dos pacotes econômicos teve um lado bom: os anos de inflação deram aos programadores brasileiros do mercado financeiro uma tarimba invejável. Hoje o sistema financeiro brasileiro, integrado pelo Sistema de Pagamentos Brasileiro, é um dos poucos - senão o único - no mundo a fazer transações em tempo real para clientes comuns. Empresas como a EverSystems são bons exemplos do sucesso das inovações voltadas para o cliente do mercado financeiro. De 1991 a 2002, o faturamento da EverSystems foi de zero a 32 milhões de dólares. Ela fez o primeiro home banking do Brasil (para o Unibanco) e depois apostou em inovações, como o envio de informações financeiras por pager ou o primeiro serviço de e-mail banking do mundo (do Citibank). Sua lista de clientes inclui BankBoston, Santander, Bank of America e Lloyds TSB. No ano passado, 11 milhões de dólares das receitas foram gerados por subsidiárias na Venezuela, no Uruguai, nos Estados Unidos e na Argentina. GOVERNO ELETRÔNICO É inegável a repercussão da apuração eletrônica das eleições brasileiras nos Estados Unidos, sobretudo diante do fiasco da recontagem manual dos votos da Flórida. No Brasil, nas últimas eleições, a Justiça eleitoral finalizou a apuração dos 114 milhões de votos em menos de 10 horas. Mas não é só isso. Fora o sistema de entrega de declarações de imposto de renda - atualmente realizada eletronicamente por 95% das pessoas físicas e 100% das jurídicas -, em 1987 o governo brasileiro tornou-se o primeiro no mundo a pagar todas as contas eletronicamente. Desde então, é possível saber em que é gasto cada tostão do Orçamento da União. Representantes dos governos de 50 países visitaram o Brasil para conhecer o sistema por recomendação do Banco Mundial. O Brasil também foi o primeiro país a colocar online, em 1997, todas as transações de importação e exportação. "O governo eletrônico é uma área particularmente importante, porque o Brasil já tem bandeira no exterior", afirma Veloso. Trata-se de um segmento em que não apenas o governo mas sobretudo as empresas brasileiras podem disputar negócios em outros países. Na área de compras públicas, a catarinense Paradigma, aquela que foi premiada pela Microsoft entre 800 candidatos do mundo todo, depois de ajudar a criar 13 dos 20 portais de compras públicos do país, agora nutre expectativas no mercado europeu. Outra empresa brasileira que atua nessa área, a Vesta também recebeu em 2001 um prêmio na Europa pelo desenho do ComprasNet, portal de compras do governo federal que movimentou transações no valor de 2 bilhões de dólares em 2002. A Vesta já vendeu seus sistemas aos governos da Bolívia e de El Salvador e tem três outros contratos pendentes. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO Derivadas das necessidades tanto do setor financeiro quanto do governo, várias empresas brasileiras se especializaram em segurança de dados. O Citibank, por exemplo, só fechou contrato para instalar os sistemas brasileiros nas subsidiárias na América Latina depois que uma auditoria constatou que a EverSystems trabalhava com um nível de segurança mais confiável do que o utilizado pela matriz americana na época. Um cientista da Scopus, empresa de tecnologia do Bradesco, já ganhou um dos maiores prêmios internacionais de segurança da informação. A carioca Módulo, que atua no monitoramento das eleições eletrônicas, é outra com potencial global no setor, embora já se tenha frustrado na primeira incursão aos Estados Unidos. No ano passado, a Módulo faturou 28,5 milhões de reais e atualmente, com 150 empregados, opera no mercado americano por meio de associações com empresas locais. TELECOMUNICAÇÕES Essa é outra área em que o Brasil tem competência global. Um exemplo freqüentemente citado é o da Trópico, de Campinas, empresa criada a partir do software para centrais telefônicas desenvolvido no CPqD, braço da antiga Telebrás que ganhou autonomia e se transformou num centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento. A central telefônica para pequeno e médio portes comercializada globalmente pela Lucent também foi desenvolvida no Brasil, numa parceria entre o Bell Labs e a Fitec, fundação privada com sede em Campinas, Belo Horizonte e Recife. Além das centrais, a área de celulares também tem gerado oportunidades para programadores brasileiros. A subsidiária brasileira da Motorola mantém em Jaguariúna, no interior de São Paulo, cerca de 100 funcionários que trabalham na área de desenvolvimento de chips empregados globalmente não apenas em celulares mas também em eletrodomésticos como máquinas de lavar. Trata-se não do processo fabril de produção dos chips (eles são fabricados no Japão), mas da área nobre, a de programação e desenvolvimento. "Não ficamos só com a carne de pescoço", diz o piauiense Armando Gomes, diretor de tecnologia e desenvolvimento de semicondutores da Motorola. No ano passado, a família de chips Nitron, projetada pela equipe de Gomes, foi escolhida como produto do ano pela revista americana Electronic Products Magazine, uma das mais importantes publicações mundiais do setor. Ainda na Motorola brasileira, a área de desenvolvimento de software foi designada como centro de competência de programas que permitem a troca de mensagens instantâneas por celular. "Conquistamos nossa reputação ao entregar produtos de qualidade dentro dos prazos", afirma Rosana Fernandes, gerente de pesquisa e desenvolvimento de software para telefone celular. Desde o início do ano, os chineses usam um programa de troca de mensagens por celular desenvolvido no Brasil pela equipe de Rosana. SOFTWARE DE GESTÃO Focadas em pequenos e médios negócios, as empresas brasileiras de sistemas de gestão empresarial conseguiram se tornar líderes desse segmento no país. Juntas, empresas nacionais, como a paulista Microsiga, a mineira RM e as catarinenses Datasul e Logocenter, detêm 60% do mercado nacional de sistemas integrados de gestão, os ERPs, de acordo com a Pesquisa de Recursos de Informática, realizada anualmente pela Fundação Getulio Vargas. Mais recentemente, essas empresas também passaram a produzir sistemas de relacionamento com o cliente (CRM) e de inteligência de negócios (business intelligence). "Se conseguimos abastecer o mercado brasileiro, que é o sétimo do mundo, temos condição de ir para fora", diz Cosentino, da Microsiga. "Agora, o negócio é aprender a exportar." Dos 230 milhões de reais faturados pela Microsiga em 2002, cerca de 18 milhões vieram de negócios fechados no México, no Chile e na Argentina. TERCEIRIZAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA Foi com o desenvolvimento local de software para clientes estrangeiros, conhecido como offshore, que a Índia firmou sua marca mundial. Depois de abrir o mercado de informática na década de 80 - dez anos antes do Brasil -, os indianos investiram na transformação de programas criados para computadores de grande porte em sistemas que pudessem rodar em máquinas menores. Em pouco mais de dez anos, a Índia criou uma indústria de mais de 8 bilhões de dólares. Hoje, o setor está em fase de reestruturação e quer assumir também desenvolvimentos mais complexos. "Não é algo que se possa chamar de crise, mas a indústria indiana também está frente a um desafio: tornar-se fornecedora de produtos e serviços de maior valor agregado", diz Veloso. "Esse momento abre uma oportunidade para empresas brasileiras com prática em serviços mais complexos." O TAMANHO DO SETOR O Brasil é o sétimo maior mercado de software do mundo. Confira os números dessa indústria Vendas em 2002 8,5 bilhões de dólares Empresas* 5 400 Funcionários* 158 000 Importação em 2001 1 bilhão de dólares Exportação em 2001 100 milhões de dólares *Ao final do ano 2000 Em custos, o Brasil já se equipara à Índia. Estudos recentes do Gartner Group e da International Data Corporation (IDC), consultorias especializadas em pesquisa, afirmam que o custo por hora de um programador indiano é de cerca de 24 dólares. Na China, o valor varia de 10 a 24 dólares e, no Brasil, de 10 a 20 dólares. Várias empresas nacionais já montaram as chamadas fábricas de software para conquistar o filão da terceirização. A Stefanini, por exemplo, fechou contratos nos Estados Unidos para desenvolver programas para Citibank, Goodyear e Kimberly-Clark. Esta última, aliás, nem era cliente da empresa no Brasil. Contratos estrangeiros respondem hoje por 15% da receita da Stefanini, que foi de 172 milhões de reais em 2002. Pode-se dizer sem receio que se abriu uma nova janela de oportunidades para a indústria nacional de software. Também surgiu, nos últimos anos, uma nova geração de empreendedores pronta para aproveitá-la. Seu grande desafio é construir uma marca que alie o Brasil à tecnologia da informação. "Se o Brasil se concentrar nesses setores, tem grandes chances de dar o salto para o mercado internacional", afirma Veloso. "Mas isso não quer dizer que conseguirá, pois os esforços teriam de começar já." E há pela frente um longo e apressado trabalho (leia a reportagem seguinte). Por que esse esforço deve ser feito? Por pelo menos dois motivos. O primeiro: o setor de tecnologia da informação e das comunicações é um dos últimos mercados globais de alto valor agregado ainda em formação e que, portanto, oferece oportunidades aos emergentes. Segundo motivo: é nessa área que o Brasil pode diminuir mais rapidamente o seu subdesenvolvimento, porque a tecnologia da informação permeia todos os setores produtivos. Tome-se o caso da Atech, empresa que fez a integração do Sivam e disputa mercado com gigantes americanas e européias. Sua existência é prova de que o Brasil reúne não apenas a capacidade de desenvolver software da maior qualidade mas também a inteligência necessária para entender como a tecnologia pode transformar e reorganizar a economia para obter ganhos reais de qualidade e produtividade. A CARA DA NOVA GERAÇÃO Uma idéia na cabeça e um tomate na mão Um notebook e um painel com um grande tomate vermelho. Foi com esse aparato que o carioca André Fonseca, sócio-fundador da Automatos, chegou em 2001 ao Internet World, em Nova York, um dos mais concorridos eventos do setor de tecnologia. A empresa, que faturou 3 milhões de reais no primeiro trimestre deste ano, nem havia finalizado seus produtos - sistemas que gerenciam computadores a distância pela internet -, mas deu certo. O painel com o tomate e a frase Whos watching your servers now? (Quem está tomando conta de seus servidores agora?) chamou a atenção. Duas pequenas empresas americanas se tornaram e até hoje são clientes da Automatos. Atualmente, o sistema monitora 600 servidores e 20 000 microcomputadores da Telemar. Na Alemanha, três centros de dados também utilizam o software da Automatos. Mais: em setembro do ano passado, Fonseca foi à sede da então Compaq, em Houston, para fechar um contrato de parceria tecnológica com a empresa que hoje pertence à HP. Aos 33 anos, Fonseca representa uma nova geração de empresários que está construindo uma categoria diferente de negócios no Brasil. São empresas que já nascem estruturadas para competir num mercado globalizado. "Em tecnologia não há vários mercados. O mercado é um só: o mundo inteiro", diz Fonseca. Ele e seus dois sócios iniciais - Agostinho Villela, de 36 anos, e Marcelo Salim, de 39 - decidiram abrir a sede jurídica da empresa na cidade californiana de Cupertino, no Vale do Silício, apesar de 31 dos 40 funcionários trabalharem no Rio de Janeiro. A primeira versão dos sistemas foi feita em inglês para facilitar a tradução para outras línguas. Logo no início, a Automatos conseguiu investimentos de duas empresas de capital de risco: Latintech e GP Investimentos. Empresários como Fonseca não viveram - ou viveram muito pouco - o período de reserva de mercado. Também construíram seus negócios num período de estabilidade econômica. Livre desses percalços, essa nova geração leva o nome do Brasil para dentro de empresas no exterior, eventos e associações internacionais de tecnologia. "Nessa área, é preciso mostrar a cara", diz Fonseca. A cara do novo software brasileiro. É HORA DE AGIR O que o governo e os empresários precisam fazer para o Brasil não perder o bonde do software Por Sérgio Teixeira Jr. e Roberta Paduan Políticas oficiais na área de tecnologia podem ser um desastre, como o Brasil aprendeu com a reserva de mercado dos anos 80. A proibição de importações não falhou apenas na missão de criar uma indústria nacional forte. Todos os setores da economia foram prejudicados - computadores são essenciais para a competitividade de mineradoras, fábricas de sabonetes ou supermercados. A reserva foi um caso claro em que a ajuda oficial só serviu para atrapalhar. Mas isso não quer dizer que o governo não tenha o que fazer. Nem que a própria indústria de software esteja madura e não possa melhorar em vários pontos. Ao contrário. Em conversas com empresários, investidores, especialistas e com os próprios integrantes do governo, EXAME reuniu as principais ações que o governo e o setor devem tomar. Não se trata de reeditar o protecionismo da era em que imperava a finada Secretaria Especial de Informática (SEI), como sugerem alguns, nem de política industrial. Da parte do governo, são necessárias medidas pontuais - algumas óbvias, outras nem tanto. Da parte dos empreendedores, uma mudança de atitude e de foco, tão essencial para quem quer deixar de olhar para o próprio umbigo e se abrir para o mundo. UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA O PAÍS Diante dos números de exportação alcançados pela Índia, a resposta da grande maioria dos entrevistados por EXAME foi unânime: só chegaremos perto disso se houver estratégia. "É preciso criar um projeto nacional para impulsionar o desenvolvimento dessa indústria da mesma forma como foi feito com a aeronáutica e a agricultura", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Unicamp e um dos responsáveis, quando presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo salto brasileiro na área da genômica. "Se o governo não criasse o ITA, não teríamos a Embraer. O poder atual da agricultura brasileira também deve muito à Embrapa." Como resume o advogado americano Stephen Davidson, especializado em assessorar empresas que querem entrar nos Estados Unidos: "O Brasil precisa de um plano de negócios". Anualmente são formados cerca de 25 000 brasileiros capacitados para a área de tecnologia - mais ou menos o que forma só a região de Bangalore, na Índia, país que a cada ano conta com 220 000 novos engenheiros de software e cientistas da computação. Além da tradição de um país ligado à matemática (o número zero foi criado pelos indianos), houve um grande esforço do governo indiano em criar uma reputação de alta qualidade para seus produtos. A Índia é o país com o maior número de empresas com certificações CMM nível 5, uma das mais importantes para as empresas que vendem serviços de programação. Nem mesmo nos Estados Unidos há tantas empresas com esse selo de qualidade. "Os indianos têm a reputação de ser ótimos programadores", diz Davidson. "É preciso criar reconhecimento semelhante para o Brasil, uma marca para o país." Sempre que questionados, representantes do governo brasileiro afirmam que a tecnologia da informação é um setor estratégico. "Não dá para pensar em desenvolvimento industrial, da ciência, da educação ou de qualquer outra área sem base na informática", disse a EXAME o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral. Mas declarações do próprio ministro ainda revelam quão titubeantes são as autoridades brasileiras ao lidar com o tema: "Não queremos trabalhar a área de software apartada da microeletrônica", diz Amaral. "Precisamos avançar na produção de chips." A frase de Amaral, além de repetir a mesma confusão entre software, hardware e serviços que se fazia na época da reserva de mercado, deixa de lado todas as áreas em que hoje o país já é competitivo (como mostra a reportagem anterior). Para falar sobre o assunto, por sinal, ninguém melhor que o americano Craig Barrett, presidente mundial da Intel, a maior fabricante de chips do planeta. Barrett, que já foi obrigado a instalar uma fábrica na Costa Rica em vez de no Brasil, por falta de interesse do governo, foi categórico em entrevista a EXAME: "Essa janela de oportunidades já passou. Vocês têm agora de se concentrar em software e serviços". Apesar dos vacilos nas declarações oficiais, isso não quer dizer que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja paralisado em relação ao assunto (embora muitas vezes transmita exatamente essa impressão). Francelino Grando, responsável pela Secretaria de Política de Informática (Sepin), faz algumas afirmações vagas sobre as medidas que o governo pode tomar para promover a marca Brasil, como o envio de uma missão de empresas aos Estados Unidos, previsto para setembro. Grando também promete dar foco à exportação de software e à formação de recursos, embora não detalhe como. Para tornar o Brasil uma marca em software, porém, não basta ter dinheiro. "A gente precisa é de informação", diz Paulo Sahd, presidente da empresa de software de automação comercial RMS. "A estrutura diplomática do governo poderia ajudar nesse aspecto." Um caso típico de omissão é o da Stefanini, empresa de consultoria tecnológica que mantém funcionários em seis países estrangeiros. "Passamos dois anos e meio batendo de porta em porta até saírem os primeiros contratos", afirma Bruno Mondin, diretor de negócios da Stefanini. De acordo com ele, uma empresa brasileira de tecnologia não precisa apresentar apenas a si própria mas também o Brasil. E há poucas que se podem permitir esse tipo de investimento, pois cerca de 82% das empresas do setor são pequenos negócios. "Já mobilizamos nossas representações em Washington, Boston, Los Angeles e Bruxelas para identificar oportunidades e promover nossos destaques, como a eleição eletrônica e as declarações do imposto de renda", afirma o secretário Grando. Isso não significa necessariamente que o governo deva entrar em ação e investir rios de dinheiro em marketing. Outra opção para as empresas seria associar-se a parceiros já estabelecidos no exterior. "Ninguém compra software porque parte do desenvolvimento acontece na Índia", diz Davidson. "Compra-se Microsoft, Oracle, IBM." Segundo Fernando Nery, fundador e presidente do conselho da Módulo e-Security, empresa especializada em consultoria de segurança, trabalhar com parceiros estrangeiros é um aprendizado. "Fizemos um acordo com uma empresa da Flórida para entrar no mercado americano. Foi um desastre", diz Nery. "O parceiro não tinha estrutura organizada e não conquistamos nenhum cliente." A experiência fez com que a Módulo relativizasse a importância de levar sua marca para o exterior. "Agora fazemos questão é de um parceiro forte", afirma Nery. É HORA DE DESESTATIZAR Para exportar, é preciso escala. Um bom começo para as empresas nacionais seria vender para o melhor cliente do país: o governo. "É hora de desestatizar a produção de software", diz José de Miranda Dias, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). "Em qualquer órgão estatal, não apenas nas empresas públicas especializadas, há desenvolvimento de tecnologia. Se a terceirização fosse estimulada, o impacto na indústria nacional seria enorme." Muitas vezes, ao contrário, o acesso das empresas nacionais aos contratos das estatais é dificultado. No ano passado, a Pulso, uma empresa de São Paulo especializada em software para comércio eletrônico e internet que faturou 5 milhões de reais, ficou de fora de uma concorrência pública porque as exigências do edital impossibilitavam a presença de competidores nacionais. "Era um sistema de pagamentos que podíamos oferecer", diz Cláudio Prado, presidente da Pulso. "Exigia-se do fornecedor a experiência em quatro contratos similares. Mas não há sequer quatro serviços desse tipo no Brasil." Possivelmente, porém, o principal entrave ao desenvolvimento da indústria brasileira de tecnologia seja mesmo a incipiente cultura de empreendedorismo no país. "A gente depara com ótimos produtos nas mãos de pessoas que não têm a menor noção de como transformá-los em negócios", afirma Marília Rocca, presidente do Instituto Empreender Endeavor, organização não-governamental de apoio ao empreendedorismo. Prova disso foi uma recente parceria da Endeavor com a Microsiga, que pretendia apoiar projetos de software com potencial de mercado. Dos poucos projetos inscritos, nenhum foi selecionado. Ou faltava adequação do produto ao mercado ou o desenvolvedor não estava disposto a trabalhar para criar um mero plano de negócios. "Empreendedorismo tem de ser ensinado no colégio, nas faculdades de engenharia, de letras, não só nas de administração de empresas", diz Marília. FINANCIAMENTO Passada a fase empreendedora, é preciso pensar em como financiar o crescimento das empresas. E - acredite - existe dinheiro para isso. Com recursos do governo, costumam acontecer coisas curiosas. De acordo com Djalma Petit e Giancarlo Stefanuto, do Softex, órgão do governo que coordenou a parte brasileira do estudo comparativo entre Índia, Brasil e China, o Banco do Brasil aprovou uma linha de financiamento para a compra do software da alemã SAP, deixando de fora as nacionais Microsiga ou Datasul. É preciso, portanto, distribuir o dinheiro do governo de maneira mais inteligente. Pode parecer um paradoxo, mas até o estímulo ao capitalismo de risco, uma das molas mestras da indústria da tecnologia da informação em qualquer país do mundo, depende em boa medida do governo. "Sempre que se pensa em capital de risco vem à cabeça o Vale do Silício", diz Carlos Kokron, representante para a América Latina da Intel Capital, um dos maiores fundos de risco do mundo. "Mas é bom lembrar que foram necessários 40 anos para o Vale chegar ao que é hoje." Para criar uma indústria saudável, que tenha vida própria, é essencial ter melhor compreensão do típico ciclo de vida de uma empresa de base tecnológica. Em geral, trata-se de três fases distintas, cada uma com necessidades específicas. É fácil entender esse processo acompanhando a história da Innovaction, empresa de São Paulo especializada em software para centrais de atendimento telefônico e gerenciamento de projetos, fundada em 1995 por três matemáticos. A Innovaction só chegou aos 500 000 de faturamento depois de quatro anos. Em 1999, conseguiu o primeiro investimento de risco: 1 milhão de reais do executivo Antonio Queiroz, na época presidente da Monsanto. Queiroz iniciou uma reestruturação na empresa e contratou o paulistano Jedey Miranda como presidente. "Eles tinham ótimos técnicos, mas faltava gestão", diz Miranda. Em 2002, a Innovaction entrou na segunda fase, graças a um aporte, em dois anos e meio, de 20 milhões de reais da Stratus Venture Capital, em troca de 45% da empresa. Até a chegada do dinheiro, foram necessários quase um ano de negociação, uma auditoria da PricewaterhouseCoopers e a checagem, pelos investidores, das referências dadas pelos empreendedores, com clientes e parceiros. Em 2002, a Innovaction já faturava 2,5 milhões de reais e sua carteira havia aumentado de 12 para 45 clientes. Casos como o da Innovaction ainda são raros, raríssimos. Falta no Brasil gente como Queiroz, investidores que fazem o primeiro aporte de capital, mais conhecidos como anjos (ou angels). Nos Estados Unidos, em geral esse papel é cumprido por um empreendedor de sucesso que quer diversificar sua carteira. Como por aqui a renda fixa deve continuar sendo mais atraente por um bom tempo, não seria a hora de o governo dar esse primeiro impulso? "No fim do ano passado, fizemos 80 investimentos de 250 000 reais a fundo perdido em empresas iniciantes", diz Vanda Scartezini, ex-titular da Sepin, hoje responsável pela área estratégica de tecnologia do estado de São Paulo. "Mas é pouco. Para ter resultado, é necessário ter continuidade." A segunda fase, quando o negócio já está mais estruturado, é a especialidade dos fundos de capital de risco. Nesse caso, o problema não é dinheiro. Há fundos privados e públicos de sobra no país. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Capital de Risco, 27 administradoras de recursos investiram no Brasil cerca de 33 milhões de dólares em empresas de tecnologia da informação no primeiro semestre do ano passado. O problema é outro: faltam opções para que o investimento se transforme em lucros - no jargão do investidor, falta saída. Uma alternativa é a compra por outra companhia. Outra, a preferida pelos fundos, é a abertura de capital. Mas todos sabem que correr risco na bolsa, hoje, é uma excentricidade. "O capital de risco é recente aqui, e os ciclos estão chegando à maturação nos próximos dois ou três anos", diz Kokron. "Logo os investidores vão cobrar o retorno." Por fim, há o caso das empresas já desenvolvidas, com fluxo de receitas assegurado, mas às vezes insuficiente para dar um passo importante. O caso da Vesta é exemplar. A empresa de São Paulo, que faturou 11 milhões de reais em 2002 e registra em seu currículo participações importantes nos maiores sucessos de governo eletrônico, recentemente desistiu de um contrato por falta de financiamento. "Tínhamos todas as chances de levar o contrato para fazer o sistema eletrônico de cobrança de um cliente estrangeiro", diz Paula Santos, fundadora e executiva-chefe da Vesta. "Mas o pagamento só viria na entrega do serviço, e não tínhamos os recursos em caixa para contratar os 100 programadores necessários." IMPOSTOS, IMPOSTOS... Todos os setores da economia sofrem com a legislação trabalhista, mas numa empresa de software o problema é especialmente grave. Além de um imóvel e de uma rede de computadores, o principal investimento desse tipo de negócio são as pessoas. "A CLT é incompatível com o desenvolvimento de software", afirma Miguel Abuhab, fundador e presidente do conselho da Datasul, uma das maiores companhias de software do país. "Programação é um trabalho criativo e pouco sujeito aos critérios válidos para outras indústrias." O alto custo de pessoal foi um dos motivos que levaram a Datasul a separar as áreas de desenvolvimento de seu carro-chefe, o software de gestão, em franquias independentes. Há outros empecilhos bem mais recentes que as caducas leis trabalhistas. O secretário Grando promete ser um soldado do software nacional, mas logo na primeira batalha os empreendedores foram atingidos por "fogo amigo". Num acordo negociado no fim do ano passado na transição entre as equipes de FHC e Lula, as empresas de software foram excluídas da medida provisória que criou o Simples, regime que concede benefícios fiscais a pequenas empresas. Há promessas de que o setor venha a contar com uma legislação exclusiva, mas quem entende dos descaminhos de Brasília afirma que são pequenas as chances de que essa legislação seja criada. As dificuldades da estrutura oficial brasileira se estendem à área de proteção à propriedade intelectual. Há dois mecanismos básicos de proteção a programas de computador: direito autoral e patente. Não é novidade que quase 60% do software usado no Brasil é pirata: não paga direito autoral. Representantes do governo Lula têm defendido que órgãos públicos e instituições de ensino adotem softwares livres (que podem ser copiados e modificados), como forma de disseminar o uso legal dos programas de computador. Mas isso não resolve a questão do uso ilegal da maior parte dos programas, que continua endêmico. "O Brasil melhorou no combate à pirataria, mas os índices de infração ainda são o dobro dos registrados em países desenvolvidos", diz Craig Mundie, vice-presidente sênior da Microsoft. Para o empreendedor, ter o produto de seu trabalho desvalorizado é fatal. Já o órgão do governo federal que concede patentes, o Inpi, tem hoje uma fila de processos estimada em três a cinco anos. Há produtos aguardando oito anos por uma decisão. Só para comparar: nos Estados Unidos, todo o processo de patenteamento leva em média oito meses. Parte desse descaso é fruto de um problema crônico do setor: a desarticulação política. Todos conhecem a Anfavea, da indústria automotiva, ou a Abifarma, da farmacêutica. A área de tecnologia da informação no Brasil, porém, reúne uma miríade de associações e siglas que na maioria das vezes não têm representatividade. Na Índia, uma única associação, a Nasscom, congrega as empresas de tecnologia do país. Segundo Ernesto Haberkorn, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro), das 5 400 empresas de desenvolvimento e serviços de software existentes no Brasil, apenas 1 200 são associadas a alguma entidade. "Se não unir, não tem jeito", diz Haberkorn. Ele articula atualmente a união das duas principais associações do setor: Assespro e Abes. ...E MAIS IMPOSTOS Outra questão fundamental é a tributação internacional. O Brasil é um dos poucos países do mundo não-signatários do Information Technology Agreement (ITA), acordo internacional que estabelece tarifa zero na importação e na exportação de produtos e serviços de tecnologia da informação. "Uma sugestão que sempre faço ao governo brasileiro é que ratifique o ITA", diz Barrett, da Intel. Mesmo que essa decisão esteja ligada a outras disputas comerciais do país, há caminhos alternativos para aumentar as exportações. "A Índia soube explorar brechas no acordo da Organização Mundial do Comércio", diz o advogado Fabio Kujawaski, do escritório Carvalho de Freitas e Ferreira, de São Paulo. "Não vejo por que o Brasil não possa fazer o mesmo." É verdade que a janela de oportunidades para o software nacional está aberta, mas há muito a fazer para que ela não se feche como no passado. E o tempo é curto.