O tema “violência escolar” não pode ser analisado a partir de um único ponto de vista, já que existem diferentes fatores para que essa violência aconteça, como o social, o político, o econômico e o cultural. E, para acabar com a violência no contexto escolar, é primordial a conscientização dos alunos quanto aos danos que ela traz à vida de todos. Essa foi a constatação dos próprios alunos do ensino médio entrevistados pela pesquisadora Michelly Rodrigues Esteves para a sua tese de doutorado, defendida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Participaram da pesquisa alunos de uma escola de ensino médio do município de Alfenas (MG), que mostraram seu posicionamento em relação à violência que abrange todo o contexto escolar. Segundo Michelly, “no Brasil, os adolescentes estão entre os grupos populacionais mais vitimados pela violência, que apresenta diferentes tipos, sendo apontados no estudo três delas: verbal, física e psicológica” (leia o texto ao lado).
Para os adolescentes entrevistados, a violência dentro da escola começa com a falta de aceitação das diferenças, que pode ocorrer entre os alunos, entre professores e alunos e, também, entre funcionários e alunos. “A direção da escola e os professores também são considerados agentes de violência quando são extremamente autoritários, deixando de ouvir o que os alunos têm a dizer”, conta a pesquisadora.
Além da intolerância com as diferenças, sejam elas de gênero, físicas ou sociais, de acordo com Michelly, as atitudes violentas começam com palavras agressivas, que, em alguns casos, constituem uma forma de chamar a atenção dos colegas e, até mesmo, dos professores e, a partir disso, geram atitudes mais severas. Segundo relato dos alunos, “a agressão física pode ser uma alternativa quando a conversa não resolve e quando as pessoas se mostram muito provocativas em público”.
De fora para dentro – Além da violência que já começa dentro da escola, ela também pode ser ocasionada por influências externas, como é o caso da rua e da família. Para a pesquisadora, os adolescentes entendem a rua como assustadora ou acolhedora. “Ela pode ser também um local de refúgio, onde eles encontram amizades, liberdade e, consequentemente, descobertas, que nem sempre são classificadas como boas.” Nesse caso, diz Michelly, o aluno tende a levar o que aprende na rua para dentro da escola.
Quanto ao papel da família, segundo o estudo, muitas vezes os pais se envolvem de forma insuficiente na vida dos filhos, sendo possível perceber uma relação pouco harmoniosa entre família e escola. A violência psicológica e a física, diz a pesquisadora, são aplicadas em algumas famílias como medidas punitivas e disciplinadoras e não são raros os relatos de filhos que presenciaram ou que ainda presenciam a violência sofrida por suas mães. “A instituição família precisa ser fortalecida, ter os seus princípios e os seus valores devidamente alicerçados e reconhecidos na parceria com a escola”, afirma Michelly.
Para evitar a violência dentro da escola e facilitar a convivência social, existem normas, regras de conduta e de funcionamento do local. Para a pesquisadora, os sistemas de ensino devem introduzir, desde os primeiros anos, a educação para a paz e a mediação de conflitos nos currículos escolares. “As escolas devem estimular as crianças e os adolescentes a terem capacidade de reflexão e contextualização e mostrar que todos os seres humanos apresentam suas diversidades e, por mais diferentes que pareçam, têm necessidades comuns”, diz a orientadora da tese, professora Maria das Graças Bomfim de Carvalho. “É preciso trabalhar na comunidade escolar a intolerância com as diferenças.”
A tese de doutorado de Michelly, “Violência no contexto escolar sob a óptica de alunos do ensino médio”, foi defendida no ano passado. O estudo recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Escola é um dos locais mais violentos para o adolescente
Em sua tese de doutorado, defendida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, a pesquisadora Michelly Rodrigues Esteves afirma que, no Brasil, os adolescentes estão entre os grupos populacionais mais vitimados pela violência. “Os locais de maior ocorrência de violências são a rua e o domicílio. A escola ocupa o terceiro lugar.”
Segundo a tese, “a violência no contexto escolar não pode ser analisada a partir de um único ponto de vista. Existe uma multiplicidade de fatores relacionados a essa temática. As suas manifestações devem ser reconhecidas. Deve ser estabelecida a sua articulação com o todo e a sua contextualização sócio-histórica”.
De acordo com a pesquisa, a falta de aceitação das diferenças se transforma em violência verbal, física e psicológica e envolve, além dos alunos, a direção, os professores e os demais funcionários da escola. A violência que se expressa na rua muitas vezes é reconstituída na escola.
Para elaborar a tese, a pesquisadora ouviu alunos de 15 a 18 anos de uma escola urbana pública da rede de ensino médio de Alfenas (MG). “A construção dos dados ocorreu por meio de 11 entrevistas abertas e individuais; dois grupos focais, seguidos por diálogos com as 11 turmas regulares do ensino médio; observação participante e constantes anotações no diário de campo.”
De Ribeirão Preto