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Gente de Opinião

Terceira Margem – Parte DXXIII - Antropologia Oportunista e Enganosa (1 notícias)

Publicado em 16 de dezembro de 2022

No capítulo anterior fiz um pequeno relato de uma ocorrência, na BR-174, que teve participação direta do meu caro Cmt do 6° BEC Luiz Cel Ornélio da Costa Machado. Contatei, sem sucesso, amigos de longa data da arma de engenharia, com a finalidade de encontrá-lo com o intuito de que ele reportasse, com suas próprias palavras, a versão do fato e fiquei muitíssimo chocado ao ler em um jornal de Santa Catarina a triste notícia do seu passamento para o Oriente Eterno.

Oito dias depois de sair para caminhar e não ser mais visto, o aposentado Ornélio da Costa Machado, 81 anos, foi encontrado morto na tarde desta Terça-feira, próximo a uma região de mangue, na Cachoeira do Bom Jesus, quase no limite com Ponta das Canas, no norte da Ilha. [...] Ornélio, aposentado do Exército do Brasil, era casado há 54 anos com Mara Regina da Silva Machado, 71 anos. Ela revelou ao “ Hora de Santa Catarina ” que na manhã do dia 31 de outubro, Ornélio, como de costume, saiu para fazer sua caminhada matinal até a praia. (HSC, 08.11.2016)

O Coronel Machado era um “ trecheiro ” dos mais notáveis de nossa Engenharia Militar. A sua grande experiência aliada a um profundo conhecimento técnico e liderança invulgar transmitiam aos seus subordinados uma tranquilidade e confiança nas suas próprias capacidades permitindo que dessem o melhor de si para o cumprimento de tão augusta missão. Essa pesquisa tão específica permitiu que acessássemos um artigo do já mencionado “ antropólogo ” (?) Stephen G. Baines, que reproduziremos novamente, em ordem cronológica:

O Território dos Waimiri-Atroari e o Indigenismo Empresarial (páginas 17 e 18)

UNB – Brasília, DF –1993

[Stephen Grant Baines]

Um militar, capitão do 6° BEC, q ue acom p anhava o General Eucl y des de Oliveira Fi g ueiredo e re p resen tantes da Parana p anema em suas visitas a esta área indí g ena, or g anizou reuniões em Manaus em 1983, a p oiando a proposta da Paranapanema de financiar a implantação de fazendas modelo em troca de autorização para realizar pesquisa e lavra de mineração dentro da área indígena através de acordos diretos entre a empresa e os capitães Waimiri-Atroari com o pagamento de royalties. (BAINES, 1993)

Minhas reportagens a respeito do tema, sob o título “ Resgates Históricos? Por quê? ”, foram publicadas no jornal digital ClicNews em 08.08.2011, reproduzida no FAPESP, no Blog Póstumo do Giulio Sanmartini no dia 15.08.2011 dentre outros, e sob cabeçalho “ Indígenas e o Direito de Mineração ” no jornal Gente de Opinião de 02.10.2011 entre outros...

Foi também repercutido no meu livro “ Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Negro ” editado pela AMZ Editora, em 2015.

Desafiando o Rio-Mar

Descendo o Negro

Caxias do Sul, RS – 2015

[Hiram Reis e Silva]

Os antropólogos de hoje, ideologicamente comprometidos, fundamentam suas “ teses ” e “ laudos antropológicos ” em posicionamentos ideológicos carregados de posturas pré-concebidas e não em fatos e comprovações científicas.

O Dr. Stephen Grant Baines é apenas um exemplo destes famigerados antropólogos estrangeiros que são acolhidos pelas hostes entreguistas que vicejam neste país a soldo de interesses alienígenas. [...]

A ins p e ç ão, em j ulho de 1983, do Gen Eucl y des de Oliveira Fi g ueiredo, Comandante do Comando Militar da Amazônia ( CMA ), foi uma ins p e ç ão de rotina a uma Unidade Militar sob seu comando e só faziam p arte da comitiva os militares do comando do CMA, 2 °

Gru p amento de En g enharia de Constru ç ão e do 6° BEC. A verdade é que o Ministro Extraordinário p ara Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em a g osto de 1983, determinou ao Comandante do 6 ° BEC, Coronel de En g enharia Ornélio da Costa Machado, q ue realizasse estudos j unto às Comunidades nativas p ara verificar da p ossibilidade de ex p lora ç ão de minérios em terras indí g enas por empresas privadas. ( REIS E SILVA, 2015 )

Qual não foi minha surpresa encontrar um documento mais atual do Baines em que ele usa as mesmas palavras de meus artigos e livro, alterando radicalmente o seu texto de 1993, sem ter qualquer prurido de deixar de citar a autoria de sua fonte.

Mineração e Usinas Hidrelétricas em Territórios de Povos Indígenas e de Outras Populações Tradicionais na Região Amazônica: A Necessidade de Novas Críticas Epistêmicas

29ª Reunião Brasileira de Antropologia

Natal, RN – 03 a 06.08.2014

[Stephen Grant Baines]

Em reuniões realizadas em Manaus, entre representantes (?) do 6° Batalhão de Engenharia de Construção [6° BEC] do Exército ( [1] ) representantes do Grupo Paranapanema e da FUNAI, organizadas por um capitão do ( [2] ), o mesmo afirmou que o Ministro Extraordinário p ara Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em agosto de 1983, determinou ao Comandante do 6 ° BEC, Coronel de En g enharia Ornélio da Costa Machado, q ue realizasse estudos j unto às comunidades indí g enas ( [3] ) p ara verificar da p ossibilidade de ex p lora ç ão de minérios em terras indí g enas por empresas privadas. ( [4] ) (BAINES, 2014)

Jornal do Comércio, n° 33.156 ‒ Manaus, AM

Sábado, 07.01.1984

Euclydes Inaugurou a Escola Indígena com o Nome de seu Pai

O General Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, Comandante da Escola Superior de Guerra, inaugurou, ontem, às 12h00, o Centro Educacional “ Euclydes de Oliveira Figueiredo ”, localizado na reserva dos índios Waimiri-Atroari, no quilômetro 270, da BR-174 [Manaus-Caracaraí]. O Centro Educacional é fruto de um pedido pessoal do chefe indígena Viana Iwandrera ao General Euclydes, quando este visitou aquela comunidade ainda como comandante do Comando Militar da Amazônia ‒ CMA.

O Comandante da ESG, acompanhado do Comandante da Base Aérea de Manaus, Cel Acir Rebelo, do Comandante do 2° Grupamento de Engenharia de construção, General Luiz Gonzaga de Oliveira, do General da reserva Mário Humberto Cardoso da Cunha, do Superintendente Regional de Produção da Mineração Paranapanema Junhici Tomita e do Delegado Regional da FUNAI, Kazuto Kawamoto, desembarcou no aeroporto do Núcleo de Apoio Waimiri-Atroari poucos minutos antes das 11h00.

Em seguida, foram para o Posto Indígena de Terraplenagem, onde fica localizado o Centro Educacional “ Euclydes de Oliveira Figueiredo ”. O General Euclydes e sua comitiva, a convite do chefe indígena Viana percorreram vários núcleos de plantações diversificadas por eles cultivadas.

Conheceram ainda a comunidade de “ Jawara ”, composta por 5 malocas, habitadas por 34 índios Atroari. O ex-comandante do CMA ficou impressionado com a diversificação das culturas de subsistência dos Atroari. Sempre cercado pelos índios, na sua maioria crianças e mulheres, Euclydes Figueiredo Filho conheceu as técnicas rudimentares de fabricação de farinha de mandioca.

A explicação foi feita pelo chefe Viana Iwandrera, elogiado pelo chefe da ESG pela sua capacidade de dinamizar aquele núcleo indígena. Dirigindo-se aos índios que os cercavam, o General Euclydes declarou:

‒ Viana é chefe de vocês. A ele vocês devem obedecer.

A reserva dos índios Waimiri-Atroari mede 1 milhão e 850 mil hectares. Ao todo, eles são aproximadamente 700, distribuídos em várias comunidades.

Ainda existem vários núcleos arredios, embora estejam sendo contatados há anos pela Fundação Nacional do índio.

O PI Terraplenagem, localizado à margem da BR-174 é um dos pontos de atração da FUNAI, que vem “ cumprindo com muita habilidade a sua meta de trabalho ”, como admite o delegado Kazuto Kawamoto.

Inauguração O General Euclydes e o chefe Viana desenlaçaram a fita de inauguração do “ Centro Educacional Euclydes de Oliveira Figueiredo ” ‒ construída em madeira rústica e coberta com palha de buritizeiro. O chefe Viana, num ligeiro discurso de agradecimento, declarou:

‒ O General esteve a q ui. Deu aten ç ão p ara o índio. Prometeu escola. Ho j e escola está p ronta. Estamos muito alegres... obri g ado General Fi g ueiredo.

O Delegado Regional da FUNAI, por sua vez, agradeceu a colabora ç ão das unidades militares instala das na re g ião p ela contribui ç ão q ue vêm dando à execu ç ão do p lano da p olítica indi g enista oficial, tendo como ponto básico a integração do índio à comunidade nacional.

Ele declarou, por outro lado, que Euclydes Figueiredo Filho, quando Comandante do CMA, não mediu esforços em ajudar a FUNAI no cumprimento de sua missão, concernente à proteção integral do índio e de seu patrimônio.

Explicou que a afixação do nome do seu saudoso pai, o Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo, naquele Centro Educacional, si g nifica a g ratidão p elos servi ç os q ue p restou às comunidades indí g enas q uando Comandante do CMA.

Por outro lado, destacou que a homenagem justificava uma dupla homenagem: ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo e ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho.

A Paranapanema A exemplo do delegado da FUNAI, o Genal Euclydes Figueiredo agradeceu à Mineração Paranapanema pelo gesto de reconhecimento ao seu pedido pessoal.

Ele disse que assim que o chefe Viana pediu-lhe uma escola, repassou essa reivindicação aos seus amigos da Paranapanema, que explora uma área de mineração contígua à reserva dos Atroari. Disse o General, referindo-se à Mineração Paranapanema:

‒ Eu estou profundamente emocionado com essa oportunidade de ver realizado por vocês aquilo que me pediram pra fazer. Eu não fiz nada. Eu só fiz é pedir aos amigos. E os amigos me atenderam.

Em seguida, o ex-Comandante do CMA disse que na Amazônia todos devem trabalhar conjuntamente, ressaltando que:

‒ Isso bastaria para justificar a nossa vinda e a nossa permanência no Comando é a nossa missão. É a missão do Exército. A gente procura ajudar a todos aqueles que trabalham em favor da população local, assim como a Marinha e a Aeronáutica.

Emocionado, Euclydes declarou que estava muito gratificado pelo fato de os índios terem escolhido o nome do seu pai, para homenageá-lo. Encarou a homenagem como uma prova de reconhecimento aos bons servi ç os p restados p or seu g enitor à comunidade nacional, ressaltando que ele seria sempre lembrado num local onde nunca tinha servido como militar.

Presente Antes de retornar ao NAWA, Euclydes conversou isoladamente com os índios que ali se encontravam, fazendo perguntas e respondendo indagações dos Atroari. O chefe Viana entregou-lhe um arco e duas flechas como presente. Euclides Figueiredo e sua comitiva ainda visitaram, no dia de ontem, a Mineração Paranapanema, no município de Presidente Figueiredo. (JC, N° 33.156)

Parece que na falaciosa narrativa atual isto também não foi considerado pelas lideranças WA como um tipo de apoio do Exército Brasileiro à Comunidade.

Bibliografia BAINES, Stephen Grant. O Território dos Waimiri-Atroari e o Indigenismo Empresarial – Brasil – Brasília, DF – UNB, 1993.

HSC, 08.11.2016. Idoso Desaparecido há mais de uma Semana é Encontrado Morto na Cachoeira do Bom Jesus – [Leonardo Thomé] – Brasil – Florianópolis, SC –

Hora de Santa Catarina 08.11.2016.

REIS E SILVA, Hiram. Desafiando o Rio Mar – Descendo o Negro – Brasil – Caxias do Sul, RS – AMZ editora, 2015.