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Terapias celulares podem reduzir em 60% o risco de morte por COVID-19, aponta estudo (71 notícias)

Publicado em 18 de agosto de 2023

O artigo compila dados de 195 ensaios clínicos feitos em 30 países, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021

O uso de terapias celulares em pacientes com COVID-19 reduziu em 60% o risco de morte pela doença. A conclusão, divulgada na revista Frontiers in Immunology, é de um estudo de revisão conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com cientistas alemães e norte-americanos. O artigo compila dados de 195 ensaios clínicos feitos em 30 países, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021.

Nos últimos anos, as chamadas terapias celulares avançadas têm ganhado espaço no combate a diversas doenças, sobretudo o câncer. Basicamente, as técnicas consistem em repor células saudáveis no organismo do paciente, de forma a restaurar ou alterar determinados conjuntos celulares. Outra estratégia é modular a função de um conjunto de células doente pela injeção de novas células (ou produtos celulares).

Nessas diferentes técnicas, podem ser usadas células-tronco (ou suas derivadas) do próprio paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas), que são cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem administradas. De acordo com o estudo, os tipos celulares mais utilizados nos ensaios clínicos para tratamento da COVID-19 foram as células estromais ou tronco mesenquimais multipotentes (oriundas do tecido conjuntivo), células natural killer (provenientes de linfoblastos) e células mononucleares (derivadas do sangue), respondendo por 72%, 9% e 6% dos estudos, respectivamente.

"As terapias celulares têm avançado muito nos últimos anos e têm sido usadas para tratar câncer, doenças autoimunes, cardíacas e infecciosas. Durante a pandemia, elas foram utilizadas para o tratamento de COVID-19 em diversos ensaios clínicos. Nosso trabalho é o primeiro a juntar todos esses dados espalhados pelo mundo e a verificar, por meio de uma meta-análise [método estatístico que permite agregar dados de diversos estudos independentes], o funcionamento dessas terapias no combate à nova doença, assim como para os problemas de saúde desencadeados pela COVID-19", afirma Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa.

O pesquisador lembra que, desde o começo da pandemia, a terapia com células-tronco e os modelos de organoides derivados de células-tronco receberam ampla atenção como um novo método de tratamento e estudo da COVID-19.

Isso porque células-tronco, em especial as células-tronco mesenquimais, têm apresentado um significativo poder de regulação imune e funções de reparo de dano tecidual. Em relação ao pulmão, por exemplo, os ensaios clínicos mostram – em menor ou maior grau – que as terapias celulares avançadas podem limitar a resposta inflamatória grave em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, reduzindo a lesão pulmonar. Dessa forma, o esperado com essas terapias é que ocorra a melhora da função pulmonar, desempenhando um papel positivo contra a fibrose, por exemplo.

A despeito da atenção que esse tipo de abordagem ganhou, Cabral-Marques avalia ser importante reforçar os reais efeitos protetores da vacinação. "Embora os resultados dos estudos mostrem que as terapias celulares avançadas possam vir a se estabelecer como um tratamento adjuvante importante para pacientes afetados pela COVID-19, em um futuro próximo, a prevenção da doença por meio da vacinação ainda continua sendo a melhor proteção", alerta.

POR MARIA FERNANDA ZIEGLER | AGÊNCIA FAPESP