Na obra 'Escola Politécnica, 110 anos Construindo o Futuro', lançada em SP, os historiadores Shozo Motoyama e Marilda Nagamini dissecam a vida de uma das mais importantes instituições de ensino e pesquisa em engenharia do Brasil
Eduardo Geraque escreve para a 'Agência Fapesp':
O Estado de SP respirava café na última década do século retrasado. A burguesia que surgira no início do Período Republicano no Brasil foi uma das principais defensoras da criação de uma escola de ensino técnico e tecnológico no estado.
O então deputado estadual Antônio Francisco de Paula Souza, defensor ardoroso da idéia, aproveitou o clima favorável dos anos 1890 para lançar uma campanha pela criação do Instituto Politécnico.
'Desde o início da Poli, a proposta era sempre associar o ensino teórico ao prático', disse a historiadora Marilda Nagamini à 'Agência Fapesp'.
A pesquisadora, ao lado do professor Shozo Motoyama, do Centro Interunidade de História da Ciência da USP, é uma das autoras do livro Escola Politécnica, 110 anos Construindo o Futuro, lançado na semana passada em SP.
Oficialmente, a Escola Politécnica de SP surgiu em 1892 fruto de duas leis estaduais. A influência suíça, nos primeiros anos, se tornou bastante grande. 'O Paula Souza havia estudado em Zurique e isso contribuiu para essa relação', explica Marilda.
Dentro da proposta teórico-prática que havia nos primórdios da Poli, o funcionamento do Gabinete de Resistência dos Materiais, concebido a partir de um plano elaborado por Ludwig von Tetmayer, do Laboratório de Ensaios de Zurique, pode ser considerado exemplar. 'Lá eram realizados os testes com concreto, ou o cimento armado, como era conhecido na época esse material'.
Na exaustiva radiografia que é feita pelos historiadores em todo o livro, fica claro que essa relação entre teoria e prática nunca mais iria abandonar as atividades politécnicas.
A própria modernização da cidade de SP, nas primeiras décadas do século passado, contou com a participação da Escola de Engenharia. Os projetos saídos dos laboratório da Poli foram fundamentais na opção que os políticos da época fizeram.
Trocar a taipa pelo concreto na construção das casas era uma medida considerada mais do que necessária.
Segundo Marilda, a contribuição da Politécnica também pode ser observada na organização da cidade em termos de saneamento básico. Tanto na questão do abastecimento de água, como na construção dos sistemas de tratamento de
Seja com Paula Souza, com seu seguidor Francisco de Paula Ramos de Azevedo, ou mesmo com os dirigentes mais contemporâneos da Politécnica essa relação entre laboratório e a rua esteve sempre presente.
Mesmo mais recentemente, quando a chamada terceira revolução industrial, marcada pela chegada da informática, ocorreu.
'No momento, dentro dessa filosofia, um dos grandes desafios que a Poli enfrenta é o de redesenhar o ensino da engenharia no país', disse a historiadora.
(Agência Fapesp, 24/8)
JC e-mail 2592, de 24 de Agosto de 2004.
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