Os dias de tempestades, com chuvas superiores a 50 milímetros, aumentaram consideravelmente na Região Metropolitana de São Paulo nos últimos anos. Segundo estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cem aden), até a década de 1950 praticamente não há registro de dias com chuva tão forte na Grande São Paulo. No entanto, nos últimos dez anos esse volume é superado em dois ou até cinco dias por ano. No início de fevereiro de 2020, as chuvas na capital paulista chegaram aos 114 milímetros em apenas 24 horas, o segundo maior registro desde 1943. Os temporais causaram fortes transtornos, com o registro de 160 pontos de alagamento na cidade.
O Corpo de Bombeiros recebeu mais de mil chamados de pessoas ilhadas pelas enchentes ou afetadas por deslizamentos de terra. “ Essas chuvas intensas, com duração de poucas horas e grande volume de água, com 80 ou até mais de 100 milímetros, têm deixado de ser eventos esporádicos. Estão acontecendo com frequência cada vez maior ”, disse o coordenador da pesquisa, José Antonio Marengo. A análise foi feita a partir dos registros das estações meteorológicas do Mirante de Santana, na zona norte da capital, e do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, no sul da cidade.
Os dados mostram um aumento dos dias com chuva forte e eventos extremos na Grande São Paulo, especialmente na primavera e no verão. Há também um aumento gradual, ao longo dos anos, do número de dias consecutivos de seca. A estação seca, que costumava ficar concentrada entre abril e setembro na maior parte do estado de São Paulo, agora se estende até outubro. Foi verificada ainda redução das noites frias com dias mais quentes, aumentando a frequência e a intensidade de tempestades. As mudanças no regime de chuvas podem estar, de acordo com o estudo, ligadas a alguns fatores. Um deles é o fenômeno chamado ilha de calor que atinge a metrópole.
A derrubada da vegetação nativa e o aumento da cobertura do solo com materiais que absorvem muito calor, como asfalto e concreto, elevam as temperaturas durante o dia. À noite, o calor acumulado é liberado para a atmosfera e a evaporação de água acelerada, propiciando a formação de nuvens causadoras de grandes temporais. As alterações observadas podem ter influência também do aquecimento global e de uma variação natural do clima. Os resultados foram publicados nos Anais da Academia de Ciências de Nova York e o estudo teve apoio do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Na sexta-feira, pelo quarto dia, os bombeiros trabalharam nas buscas por desaparecidos da chuva que deixaram um rastro de destruição em Santos, São Vicente e Guarujá, no litoral sul de São Paulo. Quarenta e uma pessoas continuam desaparecidas. Vinte e nove pessoas morreram. A cidade mais atingida foi o Guarujá, que concentra o maior número de mortes (24). Na cidade, sete morros foram atingidos, sendo dois com maior gravidade: o da Barreira do João Guarda e o da Bela Vista, conhecido como Macaco Molhado. Em Santos, há três mortos e cinco desaparecidos. São Vicente registrou duas mortes e tem um desaparecido. Ao todo, 483 pessoas estão desabrigadas: 228 no Guarujá, 3 em São Vicente, 150 em Santos e 102 em Peruíbe.