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Jornal do Brasil

Tempestade cria polêmica científica (1 notícias)

Publicado em 24 de janeiro de 1996

Por ALEXANDRE MANSUR
Nevascas recordes nos Estados Unidos e trombas d'água no Brasil. Para alguns ambientalistas, os dois fenômenos naturais refletem uma tendência global. Eles estimam que o aquecimento global provocado pelo efeito estufa deve acentuar este tipo de catástrofe nos próximos anos. Mas os pesquisadores brasileiros discordam. O Instituto Wordwatch, organização ambientalista americana, enfatiza que as tempestades de neve que se abateram sobre Nova Iorque e Washington representam uma antecipação do que está por vir. Outro sintoma do efeito estufa, ainda de acordo com o instituto, foi a estação extraordinária de tempestades que vêm atingindo as regiões tropicais do planeta. Destruição — O alerta é a tônica do último relatório anual publicado pelo Wordwatch, o Estado do mundo, divulgado este mês. Nesta edição, os pesquisadores destacam a sucessão de desastres que "vêm provocando destruição sem precedentes" nos últimos cinco anos. O instituto cita diversos fenômenos climáticos, como do furacão, Andrew, em agosto de 1992, às enchentes na China, na primavera de 1994. E as tempestades, com fortes chuvas e vendavais que deixam os brasileiros alarmados, coincidem com o que os climatologistas esperam de um planeta mais quente. Segundo os especialistas em efeito estufa, o aquecimento global deve aumentar o índice de umidade do ar e agravar as tempestades tropicais. No entanto, os cientistas brasileiros estão mais cautelosos. "Isto tudo ainda é muito especulativo. Não dá para se fazer uma relação direta entre o efeito estufa e as chuvas de verão", diz Luís Carlos Austin, chefe do 6º distrito do Instituto Nacional de Meteorologia. Austin afirma a que média pluviométrica nos meses de verão — entre 100 e 270 milímetros por mês — não mudou no estado do Rio, desde que as medições são feitas, há mais de um século. "Não está chovendo mais. As pessoas é que têm memória curta", garante. O meteorologista diz que há uma expectativa exagerada em relação ao efeito estufa. E lembra que ainda existem aspectos questionados, como o efeito de feedback da atmosfera. "Com o calor, também aumenta a concentração de nebulosidade. Ha se transforma em chuvas, que acabam esfriando o sistema", explica Austin. Longo prazo — "Não estou questionando a validade do efeito estufa, mas ele deve trazer influências para a atmosfera a médio e longo prazo", avisa o meteorologista. Ele justifica as chuvas fortes que descem sobre o Rio como um mecanismo de depuração da atmosfera. Quem concorda com ele é o engenheiro Marcos Freitas, especialista em mudanças climáticas globais do Programa de Planejamento Energético da Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Não há base científica para fazer uma correlação entre as tempestades recentes e o efeito estufa", afirma. "Estatisticamente, é possível que apareçam alguns sinais do aquecimento global, mas ainda é cedo para apontar quais são", avisa. Freitas aponta as ilhas de calor geradas pela concentração de edifícios e ruas asfaltadas nas grandes cidades como fatores também capazes de aumentar a instabilidade do clima nestas regiões. SENSORES MONITORAM ANIMAIS Os movimentos e hábito do gado e dos grandes animais selvagens poderão ser controlados à distância com um tacógrafo criado pelo Instituto de Pesquisas Zoológicas de Berlim. O sistema funciona com a instalação de dois sensores em uma coleira.