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Um Só Planeta

"Temos a ciência dando as cartas do jogo e precisamos disso para construir uma sociedade verdadeiramente sustentável", diz Paulo Artaxo em evento que discutiu as oportunidades para o Brasil pós-COP26 (61 notícias)

Publicado em 16 de novembro de 2021

Na COP26, realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow (Escócia), resoluções importantes foram tomadas, como a regulamentação de mecanismos de mercado de carbono, o compromisso com o desmatamento zero e a redução de 30% nas emissões de metano, entre outras medidas.

O webinário “Caminhos para o Brasil pós-COP26”, promovido pelo Programa FAPESP em Mudanças Climáticas Globais, reuniu na tarde desta terça-feira (16) pesquisadores, especialistas e membro do governo estadual para analisar as principais recomendações da COP26 e apontar os caminhos que o Brasil precisará seguir para atender seus compromissos climáticos.

Com a mediação de Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o evento gratuito e online contou com a participação de Marco Antonio Zago, Presidente da FAPESP, Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Eduardo Trani, Subsecretário do Meio Ambiente, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Para Artaxo, o Pacto Climático de Glasgow demonstrou um enorme abismo entre a voz da ciência e as negociações diplomáticas estabelecidas durante o encontro global. "Apesar do foco dessa conferência ser limitar o aquecimento do planeta em até 1,5°C, com os compromissos que foram acordados, poderemos chegar em 2.4 a 2.7 °C até 2100. Também não tivemos qualquer decisão a respeito dos mecanismos de perdas e danos, por exemplo", enfatizou.

Ainda assim, o professor enxerga de forma positiva outros acordos feitos durante o encontro, com a redução de 30% nas emissões de metano em 2030 comparado com 2020 e as revisões das metas do Acordo de Paris que serão mais frequentes e devem ser realizadas a cada 12 meses. "O enfrentamento real das mudanças climáticas vai requerer um novo modelo de governança", ressaltou.

Quando o assunto é governança, Ana Toni também pontuou a necessidade de mudarmos a forma de se fazer política e a necessidade de uma transição dos sistemas atuais para garantirmos a urgência que precisamos com essa agenda. "Convido os cientistas políticos a nos ajudarem nesta transição. Não podemos mais eleger políticos que não tenham essa agenda como tema prioritário", afirmou.

O professor Jacques Marcovitch também reforçou a necessidade de representantes que olhem para esta agenda com seriedade. "Os políticos devem renovar essas estratégias e nós devemos nos preparar para as eleições do ano que vem enxergando como os planos desses políticos nos impactam. Também precisamos garantir que haja o monitoramento das promessas e que a sociedade civil cobre o que foi prometido", disse.

Para Marcovitch, para lidar com a crise climática precisamos do mesmo tipo de investimento tecnológico que fizemos para a pandemia da Covid-19. "Temos métricas sofisticadas estabelecidas na área de saúde, que foram implementadas ao longo de décadas, e sabemos do papel que a mídia teve na cobertura da pandemia do coronavírus, junto com plataformas que fazem o controle do número de casos e de mortes. É disso que precisamos para monitorar a crise climática. Precisamos de uma conectividade universal de qualidade no Brasil todo. O futuro está em nossas mãos", concluiu.

O subsecretário do Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Trani também enfatizou os planos do governo dentro dessa agenda. "Nós estamos comprometidos com os dois programas da ONU, o Race to Zero e o Race to Resilient e deveremos publicar até julho de 2022 o nosso plano de ação climática para alcançarmos essa meta de sermos carbono neutro até 2050. É essencial que a gente olhe para as ações subnacionais e não apenas do governo federal. A participação dos estados e municípios além do setor privado e do terceiro setor são estratégicas para garantirmos um futuro mais sustentável", ressaltou.

No final do painel, Toni reforçou que já passou da hora de enxergarmos que os recursos da Terra são limitados. "Precisamos respeitar esses limites. Não existe mais isso de pegar um pouco daqui e um resto dali, temos que entender nossos limites enquanto humanidade", disse.

Em sua fala final, Artaxo defendeu a construção de um novo sistema socioeconômico que acompanhe as transformações trazidas pelas mudanças climáticas. "Temos que mudar todo o sistema que nos trouxe até esta crise e isso não será feito em uma só COP. No próximo ano, a Conferência de Estocolmo fará 50 anos, ou seja, já faz 50 anos que sabemos que estamos esgotando os recursos naturais do Planeta. Já passou da hora de mudarmos a forma como utilizamos esses recursos e isso não será feito em 1 ou 2 anos, mas temos a ciência dando as cartas do jogo e precisamos disso para construir uma sociedade verdadeiramente sustentável", concluiu.

Confira o webinário completo: