O caminho para o denvolvimento nacional passa por mais investimentos em ciência, tecnologia e inovação, que devem ser inevitavelmente acompanhados por mais investimentos na educação. Essa foi a ideia central defendida durante a abertura da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na noite de domingo, 21 de julho, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, o tema escolhido para nortear as discussões do maior encontro científico da América Latina, "Ciência para o novo Brasil", não poderia ser mais apropriado, já que abrange questões como o atual estágio de desenvolvimento econômico do Brasil, enquanto potência emergente, e a maturidade da ciência produzida no país. "Vivemos um momento de mudanças na configuração social e econômica do país. Nos últimos dez anos, 40 milhões de brasileiros ascenderam para a classe C. Há possibilidade da economia brasileira se afirmar como a quinta maior do mundo até 2020", disse sobre o "novo Brasil".
Raupp refletiu sobre qual deve ser o papel da ciência para dar continuidade a esse processo de redução das desigualdades sociais. "Os cientistas devem ter uma postura pró-ativa. A sociedade brasileira tem grande expectativa e já identificou a ciência como parceira para ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas e do país", afirmou o ministro. Ele ainda lembrou que a boa ciência realizada nas universidades e institutos de pesquisa é construída nos bancos escolares: "A educação é a base da própria ciência. Estamos vencendo o desafio do ingresso quantitativo no ensino fundamental, mas o desafio qualitativo está longe de ser superado."
A presidente da SBPC, Helena Nader, também destacou que os entraves na qualidade da educação básica afetam o ensino superior e, consequentemente, a pesquisa. "O Brasil tem ainda que vencer o desafio da melhoria da educação para estar inserido na economia do conhecimento. Essa demanda esteve recentemente na pauta de reivindicações das manifestações de rua. O Brasil está em débito com seus cidadãos desde a pré-escola ao ensino superior", ressaltou. E prosseguiu: "Enquanto esse país não reconhecer que educação é prioridade, que o salário do professor tem que ser competitivo, e que há necessidade de melhorar escolas e currículos, não haverá revolução universitária."
Durante a cerimônia, foi realizada a entrega do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, organizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O laureado dessa edição foi o físico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ildeu de Castro Moreira, que recebeu o prêmio das mãos de Raupp e do presidente do CNPq, Glaucius Oliva. "Embora apenas um indivíduo ganhe o prêmio, ele é a expressão coletiva do trabalho de muitas pessoas que fazem a divulgação da ciência, para que ela chegue à maioria da população", agradeceu Moreira.
Conforme previsto para este ano, foram homenageados a arqueóloga Niéde Guidón, que atua como professora visitante da UFPE, e o linguista Luiz Antonio Marcuschi, um dos primeiros docentes do Programa de Pós-Graduação em Letras (Linguística) da universidade. Houve ainda homenagens póstumas, com um minuto de silêncio dedicado à geógrafa Bertha Becker, ao compositor e zoologo Paulo Vanzolini, um dos fundadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e à botânica Maria Lea Salgado Labouriau, professora emérita da Universidade Nacional de Brasília (UNB).
A Reunião da SBPC vai até o dia 26 de julho. Até a próxima sexta-feira serão oferecidas 266 atividades, com a participação de pesquisadores renomados do Brasil e exterior, e gestores do sistema estadual e nacional de C&T. Haverá 82 conferências, 87 mesas redondas, 60 minicursos, 16 encontros, nove sessões especiais, seis simpósios e seis assembleias. Realizada desde 1948, ela é um importante espaço para difundir os avanços da C,T&I e debater políticas públicas na área.