Artigo publicado na revista Phycology mostra que há espaço para transformar 100% da matéria-prima de macroalgas marinhas (algas marinhas) em ingredientes para cosméticos usando tecnologia verde disponível industrialmente.
“O artigo surgiu da ideia de conectar o desenvolvimento de pesquisas científicas relevantes sobre o universo das macroalgas com a potencial demanda da indústria de cosméticos”, disse Leonardo Zambotti Villela, último autor do artigo. Ele tem um Ph.D. em bioquímica e biologia molecular pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) no Brasil e é pesquisador vinculado ao Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular (LBBM) desse instituto.
“Realizamos uma revisão da literatura para explorar como os extratos de macroalgas são usados atualmente e ver quais outras atividades são possíveis e valiosas para a indústria cosmética. Decidimos incorporar todo o conhecimento da literatura científica e industrial em cenários e estratégias de biorrefino para que as algas marinhas podem ser 100% convertidas em ingredientes. Isso envolveu o desenvolvimento de um pipeline desde a coleta ou produção de macroalgas até o processamento pós-produção”, disse Villela.
Segundo Villela, os objetivos do grupo incluíam a análise de protocolos que facilitassem a transição dos resultados da pesquisa científica para aplicações industriais. Em sua opinião, muitos aspectos da pesquisa biotecnológica não são totalmente explorados. “A indústria só pode usar descobertas sobre toxicidade e atividade biológica , como efeitos antienvelhecimento e antioxidantes, entre outros, se vierem de experimentos que seguem rigorosamente os protocolos de agências como a OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ] e ISO [International Organization for Standardization]. Nosso estudo oferece um atalho para essa transição”, disse ele.
Uma exploração mais abrangente do potencial dos extratos pode permitir que a indústria de cosméticos atenda aos requisitos de sustentabilidade ambiental , social e relacionados à governança (ESG) agora em voga em todo o mundo corporativo.
Pesquisadores reuniram evidências sobre o potencial das algas brasileiras. “Sempre estivemos na vanguarda da biotecnologia e ecologia, especialmente bioprospecção e pesquisa ecotoxicológica”, disse Villela. “Além disso, durante muitos anos participamos do Programa Antártico Brasileiro [Proantar] e coletamos macroalgas da Antártica para pesquisas ambientais e prospecção de ativos biológicos.”
O grupo pertence à Redealgas, uma rede de pesquisadores filiados a instituições no Brasil e no exterior que exploram o potencial das algas, especialmente das macroalgas, tanto em termos de biotecnologia quanto de impacto socioambiental. “É uma rede altamente produtiva tanto do ponto de vista acadêmico quanto de patentes. Também trabalha com comunidades litorâneas em programas sociais para seu desenvolvimento profissional”, disse Villela.