Notícia

Portal Bragança

Tecnologia: Telescópio brasileiro fotografa nova fonte de ondas gravitacionais (1 notícias)

Publicado em 17 de outubro de 2017

No dia 17 de agosto deste ano, os interferômetros Ligo (do inglês Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) e Virgo detectaram pela primeira vez ondas gravitacionais emitidas pela colisão de duas estrelas de nêutrons. Esta é a quinta vez que este tipo de onda foi identificado pelos aparelhos — uma série de descobertas que rendeu um Nobel de Física aos cientistas Kip Thorne, Rainer Weiss e Barry C. Barish — mas esta é a primeira vez em que a fonte da emissão é a fusão de estrelas, e não de buracos negros.

Além das ondas gravitacionais detectadas pelos equipamentos Ligo e Virgo, o satélite Fermi, da Nasa, também captou, com uma diferença de dois segundos, ondas eletromagnéticas em forma de raios gama provenientes do mesmo evento. Após as detecções, a corrida para identificar o objeto resultante da colisão começou. E o telescópio brasileiro T80-Sul, localizado em La Serena, no Chile, fez parte desta campanha para encontrar e caracterizar o fenômeno no céu.

Com a colisão das estrelas de nêutrons, foi formada uma kilonova, objeto que, devido ao seu decaimento radioativo, tem uma forte queda de seu brilho ao longo do tempo e acaba formando novos elementos químicos neste processo.

A kilonova foi encontrada na galáxia NGC 4993, na constelação de Hydra, a 130 milhões de anos-luz da Terra. A fusão das estrelas de nêutrons liberou, primeiro, ondas gravitacionais e, em seguida, houve a formação de um jato de partículas relativísticas, que emitiu os raios gama detectados pelo Fermi.

O T80-Sul

Apesar de estar localizado no Chile, o telescópio T80-Sul é um projeto brasileiro, financiado em sua maior parte pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mas também pelo Observatório Nacional (ON), USP, Universidade Federal de Sergipe e de Santa Catarina. O instrumento foi construído na região dos Andes Chilenos por causa da altitude e das condições atmosféricas do local, ótimas para observações astronômicas.

O projeto T80-Sul iniciou-se em 2010, mas tem funcionado efetivamente há cerca de um semestre, quando começou a fazer o mapeamento do céu austral Southern Photometric Local Universe Survey (S-PLUS). A descoberta histórica em questão rendeu dois artigos científicos sobre a colaboração brasileira para ciência internacional, o que anima ainda mais os pesquisadores participantes.

Trinta e cinco horas após a detecção das ondas gravitacionais, o telescópio conseguiu fazer imagens da kilonova, que agora não pode mais ser observada, por conta do decaimento de luz após o evento.

“É muito importante essa inserção da ciência brasileira no cenário internacional”, afirma Claudia Mendes de Oliveira, coordenadora do T80-Sul e professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. “É um esforço conjunto, de uma parceria internacional. A sólida contribuição de um grupo de brasileiros em algo que cientistas do mundo todo estão colaborando é muito importante.”

O diferencial do T80-Sul em relação a outros telescópios é o seu grande campo de observação no céu e a possibilidade de observá-lo com 12 filtros. Normalmente, a maioria dos telescópios tem apenas 5 destes filtros.

O T80-Sul foi construído por duas empresas, uma belga e a outra alemã, e é idêntico a um telescópio localizado na Espanha, o T80-Norte. “Juntos, eles cobrirão uma área enorme do céu. Quando terminarmos nosso projeto de mapeamento [o S-PLUS] e o Norte tiver terminado o dele, os bancos de dados do projeto formarão uma valiosa fonte para estudos de diversos tipos de ciência. Será muito importante para estudar desde o sistema solar até a cosmologia”, prevê Claudia. “Ambos os instrumentos terão mapeado dois quintos do céu ao final do processo.”

Da Redação: Com informações provenientes do Jornal da USP / Larissa Lopes – Ciências Exatas e da Terra