Notícia

Jornal da USP

Tecnologia nacional contra a poluição

Publicado em 13 setembro 2004

O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, inaugurou no dia 30 passado, no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), na Cidade Universitária, em São Paulo, uma célula a combustível experimental. A célula, capaz de produzir energia elétrica por meio da quebra de moléculas de hidrogênio, foi desenvolvida pela Electrocell, empresa incubada no Cietec. Após a inauguração, que aconteceu às 12h45, Eduardo Campos anunciou que o Ministério investirá R$ 8 milhões, ainda este ano, no programa brasileiro de células a combustível, com prioridade para o uso de álcool como fonte de hidrogênio. Eduardo Campos assinou portaria nomeando os coordenadores das redes de pesquisa do Programa Brasileiro de Célula a Combustível (Procac). Ao todo, serão três redes, que reunirão 17 instituições de pesquisa em todo o País, coordenadas por Francelino Grando, secretário de Política de Informática e Tecnologia do Ministério. "O programa é coordenado pelo Ministério das Minas e Energia", explicou o ministro. "Cabe ao Ministério da Ciência e Tecnologia estimular a formação de recursos humanos e o desenvolvimento tecnológico das células a combustível." Segundo Eduardo Campos, o Ministério destinará este ano R$ 4,5 milhões para recursos humanos e R$ 3.5 milhões para compra e manutenção de equipamentos. "O Brasil está inserido numa corrida mundial para a utilização do hidrogênio como matriz energética, uma fonte renovável e limpa", afirmou. "O êxito brasileiro na produção de álcool poderá ser usado para fazer com que as células a combustível atinjam mais rapidamente um custo compatível com as necessidades do mercado." O ministro apontou que é necessária a criação de leis que regulem e estimulem a produção de energia por células a combustível. "O marco legal precisa levar em conta que as células estão em fase experimental e ainda não representam uma alternativa para disputar o mercado", disse. Tecnologia - A célula a combustível inaugurada no Cietec foi projetada para gerar 50 kw de energia elétrica e, inicialmente, fornecerá 30 kw para iluminar os corredores da sede do centro. O desenvolvimento da célula pela Electrocell levou cinco anos, com apoio da distribuidora de energia AES Eletropaulo. "A empresa investiu R$ 1,7 milhão no projeto", relatou Eduardo Bernini, presidente da AES Eletropaulo. "Hoje, toda a tecnologia da célula a combustível é nacional e 80% dos componentes são produzidos no País." O engenheiro Gehard Ett, diretor da Electrocell, explicou que a célula a combustível é um conversor eletroquímico que transforma a energia química das moléculas de hidrogênio em energia elétrica. "A conversão se dá por meio de catalisadores de platina que favorecem a oxidação do hidrogênio"', explicou. Bernini apontou que a célula produz apenas água como resíduo. "O calor produzido pode ser direcionado para o condicionamento de ar." De acordo com o engenheiro, a célula desenvolvida no Cietec está preparada para receber o hidrogênio proveniente da reforma do gás natural ou do etanol (álcool de cana). "A produção em série deverá ser iniciada em dois anos, com a ampliação da empresa", afirmou. Ett relatou que a célula pode ser utilizada em estações de telefonia, rádio, hospitais, prédios inteligentes, escritórios e shopping centers. "A iluminação é apenas um dos usos possíveis, pois a energia fornecida é de alta qualidade." O presidente da AES Eletropaulo apontou que o custo de instalação da célula a combustível varia entre US$ 1.200 e US$ 1.500 por quilowatt/hora, valor próximo ao de uma usina hidrelétrica de pequeno porte. "O custo de operação, porém, ainda é semelhante ao das termelétricas, o que tornaria o preço da energia mais caro para o consumidor", explicou Bernini. "A redução do preço dependerá do combustível utilizado e da produção em grande escala." A célula a combustível foi desenvolvida no Cietec, instituição criada em parceria pela USP, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo (Sebrae). Os estudos foram financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), e pela Fapesp. Irradiador gama - Na tarde do dia 30, o ministro Eduardo Campos participou, com o reitor Adolpho José Melfi, da cerimônia de inauguração do irradiador multi-propósito de cobalto-60, produzido com tecnologia nacional, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), também na Cidade Universitária. O evento fez parte das comemorações dos 48 anos de fundação do Ipen. O irradiador multipropósito de cobalto-60 tem diversas aplicações. Dentro de uma câmara completamente segura, coloca-se o produto já embalado e este é submetido a uma determinada carga de irradiação gama. Essa carga pode ter várias finalidades: esterilização de produtos médicos e farmacêuticos, de tecidos biológicos para implantes cirúrgicos e de alimentos; tratamento de efluentes industriais e de esgoto; indução de cor em vidro e pedras preciosas. Esse processo de esterilização não deixa resíduos químicos. Outro fator importante para a eficácia maior do irradiador é que não existe manuseio do produto e a exposição aos raios gama é realizada com ele já embalado. "A irradiação gama mata qualquer organismo vivo, interrompendo o processo de crescimento", disse Fábio Eduardo Costa, da equipe de engenheiros do projeto. "E um sistema extremamente eficaz, e o principal cuidado que se deve ter é com o tempo de exposição, mas para isso já existem normas definidas." A segurança também é garantida. Nesse processo, não há alteração da cor, textura ou sabor do alimento. O que a irradiação proporciona é o aumento do tempo de prateleira. Não há nenhum risco para os consumidores e esse tipo de esterilização já é usado em 37 países. A tecnologia, apesar de já ser utilizada mundialmente há cerca de 25 anos, é pouco difundida no Brasil. Laércio Vinhas, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), informou que, "mesmo a irradiação sendo pouco utilizada no País para esterilizar alimentos, ela atinge todo o setor de produtos farmacêuticos e íntimos, como camisinhas, cotonetes, gases, fraldas e seringas descartáveis". O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e custou R$ 1,7 milhão. Segundo Costa, esse foi um custo recorde. "Um irradiador desse tipo, importado, custa cerca de US$ 3 milhões", disse. Intercâmbio - As comemorações de aniversário do Ipen tiveram início, no dia 30, com uma solenidade que homenageou o professor Roberto Fulfaro com o título de Pesquisador Emérito do instituto. Fulfaro foi diretor técnico científico do Ipen e professor da pós-graduação. Adolpho José Melfi também fez um discurso durante a homenagem. A presença do reitor na sessão solene representou a forte ligação entre as duas instituições, tanto no intercâmbio de profissionais como na pós-graduação oferecida pelo Ipen e vinculada à USP. Durante seu discurso, o ministro Eduardo Campos discorreu sobre os novos projetos do Ministério para o setor de pesquisa nuclear no Brasil. Segundo ele, a idéia geral desse programa governamental é unificar o setor, definindo melhor a função de cada instituição existente e criando parcerias formais para facilitar a cooperação e a troca de conhecimento entre elas. Yara Camargo e Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias.