Sim ou não, verdadeiro ou falso, branco ou preto. É a partir dessas oposições que funciona a lógica tradicional, também chamada de lógica binária, a base da linguagem dos computadores. No entanto, mais recentemente, um outro tipo de lógica tem sido utilizado para resolver situações complexas. Criada na década de 1960, a lógica difusa — ou fuzzy logic — é empregada para enfrentar problemas em que entra em jogo a subjetividade humana e, em países como o Japão, tem sido fundamental, por exemplo, para a montagem de sistemas de controle em vias aéreas.
Criada em 1965 por Lotfi Zadeh, engenheiro elétrico da Universidade da Califórnia (EUA), a lógica difusa tem múltiplos valores e é utilizada para resolver problemas em sistemas de controle, cujo modelamento — ou seja, adaptação a um modelo — é muito difícil de ser obtido pelo método clássico.
Ainda pouco conhecida no Brasil, a lógica difusa foi utilizada para o desenvolvimento de um microprocessador criado pela equipe dos professores Leonardo Mesquita, do Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de Engenharia (FE), campus de Guaratinguetá, Galdenoro Botura Júnior, coordenador executivo da Unidade Diferenciada de Sorocaba/Iperó, e Osamu Saotome, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Usados nos mais diversos ramos industriais, microprocessadores são componentes eletrônicos formados pela conexão de vários subsistemas, que podem ser programados para executar uma determinada função. "Um exemplo, no caso de automóveis, é o controle do acionamento dos freios ABS — que não travam o volante do carro quando utilizados", diz Mesquita.
O microprocessador desenvolvido pelos pesquisadores tem 5 mm2 de "área útil", ou seja, de espaço ocupado pelos blocos eletrônicos, que, por sua vez, são organizados em células ainda menores. A principal vantagem desse aparelho em relação a outros produtos já oferecidos no mercado, segundo o docente, é a maior capacidade de manter em sigilo os códigos desenvolvidos na montagem do produto final. "Dessa maneira, eventuais concorrentes terão mais dificuldade para copiar as características de funcionamento do produto", ressalta Mesquita.
Desenvolvido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o microprocessador, de acordo com o docente da FE, também teria mais facilidade para acompanhar as inovações tecnológicas. "Essa flexibilidade decorre da possibilidade de se fazer ajustes na arquitetura das células desenvolvidas. Isso evita mudanças na estrutura externa do microprocessador", afirma. "São justamente elas que obrigam outros fabricantes a alterar os produtos a ele relacionados, aumentando os seus custos. Assim, o aparelho tem ainda maior potencial para ser fabricado de acordo com as necessidades dos clientes."
(A. L.)
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Jornal da Unesp