Notícia

Jornal do Brasil

Tecnologia é um bom negócio?

Publicado em 19 dezembro 1999

Por MAURO MARCONDES RODRIGUES*
Nos últimos anos, a produção de ciência no Brasil apresentou grande avanço, podendo ser medido pelo significativo incremento das citações de trabalhos científicos brasileiros em publicações internacionais e pelo fato de o Brasil já participar com quase 1% da produção de publicações científicas mundiais, contra 0,5% ao final dos anos 80. Essa performance é conseqüência dos investimentos governamentais realizados nas últimas décadas na formação de recursos humanos altamente qualificados e na infra-estrutura de ciência e tecnologia. Como resultado desse esforço, anualmente 4 mil novos doutores das mais diversas áreas da ciência são incorporados ao universo de profissionais atuando no Brasil. Do lado do desenvolvimento tecnológico e da inovação no setor produtivo, observa-se, no entanto, um distanciamento acentuado dos padrões verificados nos países desenvolvidos. A questão é: quantos, dos 4 mil doutores, são absorvidos anualmente pela indústria e pelo setor privado no Brasil? Poucos, muito poucos. Para se ter uma idéia, enquanto nos EUA 80% dos profissionais de pesquisa e desenvolvimento trabalham em empresas e centros de pesquisa associados, no Brasil esse número é, quando muito, de apenas 11%. Na Inglaterra, dos aproximadamente 3 mil doutores que são formados anualmente, uma parte não desprezível é empregada pelo setor produtivo. Outra questão importante: quantas patentes brasileiras são registradas nos EUA? Poucas, muito poucas. Em contrapartida, a Coréia já opera na faixa dos 1.500 registros ao ano. Por que o Brasil, 8ª economia do mundo e 9º produtor de automóveis, com uma indústria complexa e diversificada, só investe marginalmente em desenvolvimento tecnológico e inovação? São vários os fatores determinantes dessa realidade brasileira: originam-se na ausência de um ambiente institucional e econômico que induza e provoque a empresa a investir em pesquisa e desenvolvimento, e passam por questões culturais e comportamentais dos empresários brasileiros que privilegiam a importação de tecnologia - seja diretamente ou mediante a compra de máquinas e equipamentos - em detrimento do seu desenvolvimento no país. Também são pouco percebidos pelo mercado o potencial e a oportunidade que representam para as empresas os investimentos governamentais na área de formação de profissionais qualificados (mestres e doutores), haja vista o pequeno número desses profissionais trabalhando em pesquisa e desenvolvimento no setor produtivo e a inexpressiva interação das empresas privadas brasileiras com universidades e institutos de pesquisa. O tema é complexo, abrangente e instigante. Precisamos colocá-los na agenda do país e propor uma ação articulada, envolvendo o Congresso Nacional, os governos e suas agências de desenvolvimento e fomento à pesquisa, as universidades e centros de pesquisas, o setor empresarial e suas entidades representativas, assim como mobilizar a sociedade para a importância desse tema para o desenvolvimento do Brasil. O fato é que a variável desenvolvimento tecnológico/inovação ainda não está incorporada às estratégias de crescimento de nossas empresas. O sucesso da Petrobrás e da Embraer, fortemente associado ao contínuo investimento dessas empresas em desenvolvimento tecnológico, parece ser percebido como sucesso de casos isolados e não replicáveis pelas demais empresas brasileiros. Temos a obrigação de alterar essa situação para colocar o Brasil num novo patamar de desenvolvimento no século XXI. * Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)