Notícia

Jornal da USP

Tecnologia com um lado humano

Publicado em 14 abril 2003

Por EDMILSON LUCHESI - DE SÃO CARLOS
Testada com sucesso em votações na Câmara dos Deputados, uma ferramenta criada por pesquisadores da USP - em parceria com cientistas norte-americanos - melhora sensivelmente a análise de bancos de dados Facilitar a análise de informações armazenadas em bancos de dados, através de representação visual. Esse é o objetivo de uma ferramenta — chamada FastMapDB — desenvolvida pelo Grupo de Bases de Dados e Imagens do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Segundo o professor Caetano Traina Júnior, coordenador do grupo, a tecnologia é resultado de uma pesquisa conjunta entre o ICMC e a Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, na qual procurou-se somar as potencialidades do homem com a do computador. "O computador é muito bom para calcular, mas não para interpretar dados. Por outro lado, o ser humano acha mais complicado, por exemplo, entender tabelas, fazer comparações entre muitos números. O projeto, então, uniu as duas coisas: o processamento matemático e geométrico feito pelo computador e a nossa capacidade de interpretação de informação visual", explica. A ferramenta, que começou a ser desenvolvida há quatro anos, através da solicitação de uma empresa, utiliza-se dos recursos da tecnologia conhecida como mineração de dados (data mining) para fazer o cruzamento de dados e gerar as ilustrações. Como teste, a FastMapDB foi usada para analisar dados de 15 votações ocorridas na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), de março a junho de 2002. O voto de cada deputado foi registrado, bem como seu partido de filiação. Os dados foram processados e o resultado é uma espécie de nuvem formada por ícones distintos pela cor e formato. "Navegando" em meio a essa representação visual, é possível extrair informações como o comportamento do partido ou do deputado diante da votação dos projetos. "O programa faz a distribuição gráfica dos pontos, ficando a interpretação a cargo do usuário. Pela visualização, dá para saber quão coeso, ou não, é um partido. Na análise desse período, percebemos que alguns deputados de 'esquerda' acabam, pela semelhança do voto, ficando mais próximos do grupo de 'direita'. Isso qualquer um pode perceber. É só comparar visualmente", acrescenta o professor. Ele lembra que os avanços tecnológicos possibilitaram um salto qualitativo e quantitativo no tráfego, coleta e armazenagem de dados, o que fez com que as empresas, por exemplo, começassem a perceber que informações valiosas poderiam estar escondidas em sua base de dados (perfil dos clientes, características de seus produtos e transações comerciais, entre outras). "As redes de supermercados, as empresas de telefonia e principalmente as do setor financeiro já utilizam-se da tecnologia de mineração de dados para fazer um levantamento do comportamento de seus clientes e, assim, obter mais resultados. Nossa ferramenta vem facilitar e agilizar o processo de análise." Hoje, a ferramenta está pronta para análise estática e disponível para download através da Internet (gbdi.icmc.usp.Br/imimd/download.html), para usuários registrados. O próximo passo do grupo é fazer o tratamento temporal e conseguir uma representação visual seqüencial, levando em conta a dinâmica dos dados em determinada situação. A pesquisa do FastMapDB é financiada pela Fapesp e pelo CNPq. Além de Caetano Traina, integram o grupo os professores Agma Juci Machado Traina, do ICMC, Christos Faloutsos, da Universidade Carnegie Mellon, dos Estados Unidos, o técnico Humberto Razente, do ICMC, e a bolsista do CNPq Maria Camila N. Barioni.