A Onkos, empresa brasileira voltada à ciência diagnóstica, localizada no interior de São Paulo, é protagonista no avanço da medicina para pacientes com nódulos na tireoide. Com uma tecnologia desenvolvida no Brasil, e que teve o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a empresa desenvolveu um exame que reduz incerteza de médicos e pacientes quanto ao diagnóstico de nódulos indeterminados (que podem ser benignos ou malignos) reduzindo em até 52% as chances de cirurgia nestes pacientes. Com isso, se mantém a qualidade de vida nos pacientes evitando a retirada desnecessária da tireoide. Cerca de 84% dos casos de hipoparatireoidismo são causados por cirurgias de pescoço, o que pode acarretar parestesia e câimbras, cálculos renais, convulsões e hospitalização por hipocalcemia.
O acesso à cirurgia é possível na saúde suplementar, mas possui diversas consequências para quem passa por ela, e o teste molecular não expõe o paciente que não necessita da cirurgia aos riscos de realizá-la, o que, preserva a qualidade de vida e é mais econômico, mas está em avaliação e ainda não disponível no Rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde regulado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Benefícios para a saúde e para a economia Um grupo formado por profissionais ligado à avaliação de tecnologias em saúde, formado por economistas e profissionais do campo da saúde, realizaram a avaliação econômica, na qual obteve-se resultado com probabilidade de ser custo-efetivo de 77,3%, e probabilidade de ser dominante de 69,3%, ambas em relação a não realização do teste. Após a análise de impacto orçamentário, concluiu-se que com o TMT-microRNA a saúde suplementar poderá ter uma economia de R$ 48,7 milhões no período de cinco anos, podendo chegar próximo a R$ 100 milhões.
O diagnóstico de malignidade ou de benignidade em nódulos de tireoide é uma questão desafiadora no meio médico. Apesar da maioria dos nódulos serem benignos ao diagnóstico, cerca de 25% dos casos são classificados como “indeterminados”, ou seja, não é possível que o médico defina se o paciente tem um câncer ou não, após o exame da punção aspirativa (PAAF).
Nestes casos indeterminados, muitas vezes o paciente é submetido a uma cirurgia diagnóstica, onde a glândula tireoide é retirada por completo e o diagnóstico então possível. Dentre as cirurgias de nódulos indeterminados, quase 80% destes nódulos se revelam benignos, demonstrando que essas cirurgias são potencialmente desnecessárias. No Brasil, são cerca de 40 mil cirurgias desnecessárias de tireoide todos os anos. Além de potenciais problemas inerentes ao procedimento cirúrgico, a vida de um paciente sem uma glândula tão importante como a tireoide não é nada fácil e necessita de reposição hormonal por toda a vida. Importante gastos que poderiam ser evitados também impactam o sistema de saúde.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), cerca de 60% dos brasileiros irão identificar, em algum momento da vida, um nódulo na tireoide. Este estudo observou que o resultado do TMT-microRNA influenciou mais de 92% das decisões médicas sobre a realização ou não da cirurgia, reforçando o desafio na conduta destes pacientes sem o uso de testes moleculares.
“Pacientes com nódulos de tireoide indeterminados estão em uma situação muito complicada, pois não sabem se tem ou não um câncer. A cirurgia de tireoide é curativa na grande maioria dos casos, mas deve ser realizada somente nos pacientes que precisam, que são os casos com risco de malignidade muito alto. O TMT-microRNA trás benefícios a toda a cadeia de saúde: ganha o paciente, ganha o médico e ganha o sistema de saúde. O gasto público e privado com cirurgias diagnósticas, que poderiam ser evitadas, é enorme e o uso de testes moleculares é custo-efetivo”, afirma o Dr. Marcos Santos, cientista responsável pelo desenvolvimento do TMT-microRNA.
Tratamento A tireoide é uma glândula localizada na parte frontal do pescoço e tem o formato de uma borboleta de asas abertas. Os hormônios da tireoide são fundamentais para o metabolismo e bem-estar do organismo. A quantidade de hormônios que a glândula produz é regulada pela hipófise, glândula situada no cérebro que fabrica o TSH, o hormônio estimulador da tireoide.
Em geral, até o momento, o tratamento do câncer de tireoide é cirúrgico (tireoidectomia total ou parcial) e leva em conta o tipo e a gravidade da doença. É curativa em mais de 98% das vezes, mas pode gerar efeitos colaterais.
Efeitos da cirurgia A cirurgia de tireoide, apesar de simples e rápida, pode trazer complicações aos pacientes. As principais são rouquidão e queda de cálcio, além de lesões de estruturas como os nervos laríngeos e das glândulas paratireoides levando ao hipoparatireoidismo. Com acesso ao TMT-microRNA um grande número de pacientes com nódulos indeterminados podem evitar a cirurgia e assim evitar complicações e a reposição hormonal.
Na linha do desenvolvimento de tecnologias e ciência local, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde tem defendido o papel estratégico no CIS, no estabelecimento de políticas que regulamentam e promovem ações, considerando objetivos como a redução da vulnerabilidade do Sistema de Saúde brasileiro a tecnologias estrangeiras. Um dos objetivos é promover o desenvolvimento tecnológico local no campo da saúde no cumprimento dos princípios do SUS. Ressalta-se que a ANS, agência que regula os planos de saúde e subordinada ao Ministério da Saúde, está avaliando a incorporação do teste que seria muito importante para a conexão do propósito do Ministério bem como um estímulo à pesquisa nacional.
Atualmente a tecnologia está sendo avaliada pela ANS com consulta pública para incorporação, aberta entre os dias 4 e 23 deste mês.