A empresa paulista Timpel desenvolveu um aparelho que ajudou médicos do Massachusetts General Hospital, em Boston (EUA), a reduzir em 80% a necessidade de pacientes com insuficiência respiratória aguda que estavam internados a serem submetidos à terapia com ‘pulmão artificial’, também conhecido como ECMO.
A Oxigenação por Membrana Extracorpórea é um equipamento de alta complexidade que possibilita substituir a atividade do coração e do pulmão e vem sendo amplamente utilizada em casos graves de COVID-19. Apesar de trazer bons resultados, é um procedimento caro e que demanda alta qualificação técnica da equipe médica
Já o equipamento desenvolvido pelos cientistas brasileiros consiste em um tomógrafo por impedância elétrica e foi desenvolvido em 2016, com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
Os resultados do estudo foram descritos em artigo publicado na revista Respiratory Care.
“Resultados espetaculares”
O tomógrafo permite que médicos monitorem ininterruptamente e de forma não invasiva, à beira do leito, a condição do pulmão de pacientes com insuficiência respiratória.
Isso ajuda a otimizar a ventilação mecânica com o objetivo de reduzir complicações e lesões pulmonares e evitar o prolongamento desnecessário do procedimento.
“A ventilação mecânica é complexa, não intuitiva e apresenta vários perigos que não são visíveis à beira do leito. Além disso, as respostas dos pacientes são muito heterogêneas”, apontou um dos pesquisadores da Timpel, Rafael Holzhacker.
Em palestra apresentada no webinário Empreendedorismo científico e inovação em resposta à COVID-19, promovido pela FAPESP na semana passada, o pesquisador disse que a equipe de médicos de Boston está obtendo “resultados espetaculares” com o aparelho.
Como funciona o aparelho que reduz necessidade de ECMO?
A evolução dos pacientes durante a intubação é lenta e a estratégia de ventilação mecânica adotada em um caso pode não funcionar em outro.
“Por isso, é muito importante a equipe médica ter indicadores individualizados para visualizar a condição do pulmão de um paciente para realizar a ventilação mecânica adequadamente, com a finalidade de diminuir o tempo de dependência e, consequentemente, os efeitos colaterais da intubação”, afirmou Holzhacker.
O tomógrafo faz a avaliação da resistência à passagem de uma corrente elétrica (a impedância), que varia substancialmente devido ao ar nos pulmões, na medida em que o paciente inspira e expira.
Por meio de uma cinta com 32 eletrodos, o equipamento emite uma corrente elétrica de baixa intensidade ao redor do tórax do paciente. O caminho da corrente elétrica indica a região dos pulmões onde o ar está circulando.
Com base na impedância medida na superfície do tórax são geradas 50 imagens por segundo, que representam a distribuição e a dinâmica de insuflação do pulmão, fornecendo uma informação vital ao médico, em tempo real, à beira do leito.
Um software integrado ao equipamento permite à equipe médica avaliar a melhor estratégia de ventilação protetora para o paciente.
Sucesso já era atestado antes da pandemia
Com a ajuda do aparelho, a equipe médica do Massachusetts General Hospital desenvolveu estratégias de ventilação individualizadas para 15 pacientes internados na instituição e com indicação de ECMO.
Assim, eles conseguiram evitar que a maioria dos pacientes (13) utilizassem, de fato, a terapia.
Mas antes mesmo da pandemia da COVID-19, a mesma equipe médica já havia publicado um estudo descrevendo que o tomógrafo da Timpel foi utilizado para reduzir pela metade o risco de morte de pacientes obesos com insuficiência respiratória e que necessitavam de intubação.
“A conexão com a equipe médica desse hospital, que é o maior da Universidade Harvard, e de outras instituições hospitalares, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil, Itália e Espanha, foi fundamental para respondermos às demandas apresentadas pela pandemia de COVID-19”, afirmou Holzhacker.
*Com informações da Agência FAPESP.