Um estudo recém-publicado no British Medical Journal mostra que restaurantes que vendem pratos à la carte estão exagerando no tamanho das porções. Isso significa que é preciso ligar o sinal de alerta: se as refeições são maiores do que deveriam, boa parte da população pode estar se enganando e ganhando peso enquanto acredita ter uma alimentação saudável.
Para chegar a essa conclusão, um grupo internacional de pesquisadores calculou o valor calórico de refeições em restaurantes populares de vários países do mundo. Brasil, China, Finlândia, Gana e Índia participaram do estudo. O objetivo era entender o que está por trás do aumento da obesidade nesses lugares. Por aqui, as amostras avaliadas foram coletadas em Ribeirão Preto (SP).
Os resultados mostraram que 94% das refeições à la carte tinham mais calorias do que o recomendado pelo Sistema de Saúde da Inglaterra (NHS). Ou seja, as porções servidas em uma única refeição forneciam, de uma só vez, entre 70% e 120% das calorias que uma mulher sedentária precisa em um dia inteiro (2 mil calorias).
O problema na prática
Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,9 bilhão de adultos tenha sobrepeso. Segundo o último Panorama de Segurança Alimentar e Nutricional da América Latina, o Brasil não fica para trás nessa estatística, já que pelo menos 56% dos brasileiros também podem ser incluídos nessa categoria.
De acordo com o novo estudo, parte desse cenário pode ser explicado, justamente, pela quantidade exagerada de comida em nossas refeições. Os pesquisadores mostraram que o tradicional arroz, feijão, frango, mandioca, salada e pão, por exemplo, é quase três vezes mais calórico do que deveria, com 1.656 kcal.
“O estudo serve como um alerta para que as pessoas não se enganem. Comer um PF não significa ter uma refeição saudável e na quantidade adequada. Se eu comer muito mais do que preciso por vários dias, meses e anos, também vou acumular gordura e ganhar peso”, explica a médica nutróloga Vivian Suen, professora da Universidade de São Paulo e uma das autoras da pesquisa, que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Apesar de o estudo não ter considerado a composição nutricional dos alimentos analisados, a especialista reforça que é fundamental dosar não só a quantidade de comida que colocamos no prato, mas também a qualidade dos ingredientes. Segundo ela, uma refeição saudável deve conter salada, cereais, leguminosas e proteínas em quantidades equilibradas.
Fast-food versus prato feito
Os resultados da pesquisa também mostraram que, nas redes de fast-food, 72% dos pratos tinham mais calorias que o recomendado. Na média, fast-foods continham menos calorias (809) que as comidas à la carte (1.317 kcal). Mas é preciso atenção: embora esse número seja menor que o encontrado no caso das refeições à la carte (94% estavam acima do ideal), isso não significa que lanches e snacks são “melhores”.
“Não estamos dizendo que é saudável comer fast-food. O alerta para evitar esse tipo de refeição continua o mesmo. O estudo chama a atenção para algo que estava esquecido: também precisamos prestar atenção na quantidade e na qualidade da nossa comida”, pondera Vivian.