Caracterizar qualitativamente o petróleo proveniente de vazamentos naturais no mar através de imagens de satélites foi o diferencial que levou a aluna do programa de pós-graduação do Instituto de Geociências (IG), Talita Lammoglia e seu orientador, Carlos Roberto de Souza Filho, a ganharem, pela segunda vez, o Prêmio Petrobras de Tecnologia na categoria Tecnologia de Exploração Petrolífera. Intitulada “Detecção e Caracterização Qualitativa de Exsudações de Hidrocarbonetos Off-Shore por Espectroscopia e Sensoriamento Remoto Ótico”, a pesquisa do mestrado renderá a Talita e ao seu orientador, um troféu e uma premiação no valor de R$ 15 mil cada. Em 2006, ambos já haviam ganhado o mesmo prêmio, porém, na categoria Iniciação Científica. A cerimônia de entrega da premiação no Rio de Janeiro está prevista para a segunda quinzena de maio.
O trabalho de Talita consistiu inicialmente da realização de experimentos em laboratório simulando vazamentos naturais de petróleo no mar. Foram feitas medidas espectrais de reflectância (ou seja, medidas de luz refletida) para avaliar a resposta de petróleos em laboratório e, posteriormente, em sensores que operam a bordo de satélites. Os experimentos mostraram que, com base em dados de reflectância, é possível caracterizar remotamente diferentes hidrocarbonetos. Em seguida, com a colaboração do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, foram utilizadas técnicas de quimiometria para geração de modelos que permitiram a separação de óleos com diferentes graus API – que é uma escala hidrométrica idealizada pelo American Petroleum Institute utilizada para medir a densidade relativa de líquidos – e outros atributos químicos.
Uma vez comprovada a eficiência da metodologia com dados de laboratório, partiu-se para um estudo de caso. Foram realizados diversos processamentos digitais em imagens de satélite as quais haviam registrado um grande vazamento natural de óleo (exsudação) na costa brasileira. “Conseguimos, pela primeira vez, por imagens de satélite, não só mapear a mancha de óleo no oceano, mas fazer inferências sobre o grau API e outras características do óleo. O diferencial do trabalho foi justamente este: caracterizar qualitativamente o óleo por imagens de satélites”, afirmou Talita.
“A pesquisa conseguiu demonstrar que a partir de um satélite é possível não só detectar onde está o óleo, mas também qualificá-lo”, avaliou Souza Filho. Isso tem um impacto duplo. O primeiro, na exploração, onde será possível, então, mapear regiões com exsudações, que são indicativas da presença de sistemas petrolíferos em sub-superfície e, eventualmente, separar as exsudações quanto ao tipo de óleo. O outro impacto está nas aplicações de monitoramento ambiental oceânico. “Temos vazamentos de navios, por exemplo, que poderão ser caracterizados por essa metodologia que a Talita desenvolveu. É um avanço multidisciplinar significativo”, assegurou o orientador.
Investimentos
Considerando mais essa premiação e reconhecendo o que está sendo feito no IG, a Petrobras pretende agora investir na montagem de um centro de sensoriamento remoto para estudos de sistemas petrolíferos aqui na Unicamp. “O investimento por parte da Petrobras para esse projeto deve girar em torno de R$ 10 milhões nos próximos anos. O trabalho da Talita é parte desse projeto, mas sem dúvida nenhuma, antecipou e impulsionou a possibilidade dessa parceria que a Petrobras pretende estabelecer com nosso grupo na Unicamp”, avaliou Souza Filho.
Institucionalmente, o orientador da pesquisa acredita que o seu grupo acabou tornando-se uma referência desse tipo de estudo na área de exploração de petróleo. “Esses resultados positivos em pesquisa acabam atraindo recursos significativos para a montagem de infra-estrutura, formação de recursos humanos e geração de novos conhecimentos. Além do apoio da Petrobrás, é possível que tenhamos outro grande projeto nesse tema financiado pela Fapesp ainda esse ano”.
Souza Filho, em 2009, tornou-se o único pesquisador do IG a possuir a distinção de Pesquisador 1A do CNPq e antecipa: “esperamos justificar os investimentos feitos no nosso grupo com muita inovação e, quem sabe, com outras premiações nos anos a seguir”.