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Valor Especial

Talento em resolver questões concretas para a sociedade

Publicado em 20 junho 2011

Por Por Genilson Cezar

A inovação acontece nas empresas, insistem pesquisadores e dirigentes de instituições de ensino e de pesquisa do país. O papel da universidade, segundo eles, é o de formar talentos. Mas formar profissionais com espírito e inspiração no trabalho aplicado à resolução de problemas concretos da sociedade. "Precisamos olhar para os problemas sociais e econômicos do Brasil, inspirar nossas pesquisas nas necessidades da indústria, dos processos, das políticas públicas, e com isso contribuir para a inovação", avalia Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Não se trata de puro exercício teórico. Inserir pesquisadores (mestres e doutores) em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas brasileiras tem sido uma prática efetiva cotidiana dentro do plano estratégico do CNPq, voltado para a tecnologia e a inovação. De 2008 a 2010, a instituição investiu R$ 76 milhões em três editais de projetos de subvenção, para apoio a 500 empresas, beneficiando cerca de 1,7 mil bolsistas. Pelo menos 60% dos projetos foram para microempresas e empresas incubadas.

"Para 2011, nossa previsão é investir mais R$ 40 milhões em apoio a 230 empresas", diz Oliva. "Na primeira das três rodadas deste ano já foram selecionadas 67 empresas", indica. E um projeto voltado para favorecer a inovação dentro da empresa, segundo o presidente do CNPq. "O pesquisador aprende com o empresário e vice-versa", observa. O pesquisador, mestre ou doutor, recebe uma subvenção de até R$ 300 mil para um trabalho de pesquisas de 24 meses e, em contrapartida, a empresa fornece as condições mínimas para o desenvolvimento do projeto.

Na verdade, para Oliva, este é hoje um dos grandes desafios para a ciência brasileira. "Nos últimos 30 anos, todo o nosso esforço foi no sentido de consolidar e expandir nossa fronteira científica, que era limitada do ponto vista geográfico e de massa crítica. Desde o fim da década de 1980, o CNPq oferece bolsas de produtividade em pesquisa e premiamos cientistas que produzem ciência e publicam trabalhos científicos. Isso foi um estímulo para que nossa comunidade se engajasse em fazer ciência, relata. O crescimento foi expressivo, segundo Oliva. Hoje, o Brasil responde por quase 3% de todo o conhecimento produzido no mundo, formamos 12 mil doutores, 40 mil mestres, 27 mil grupos de pesquisa cadastrados no diretório Grupo de Pesquisas do CNPq, atualizado a cada dois anos, e temos 1,8 milhão de currículos registrados, dos quais .350 mil são de mestres e doutores", conta.

Agora, avalia Oliva, é hora de dar um salto para o futuro: estimular a comunidade científica a buscar os seus temas de trabalho de pesquisa nos grandes desafios nacionais. O CNPq, segundo ele, participa desse movimento e decidiu introduzir no currículo da instituição uma área dedicada ao registro de atividades de inovação, que valoriza o engajamento do cientista em atividades de inovação dentro das empresas. O CNPq trabalha em parceria com empresas e entidades, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mas está preocupado com o contingenciamento dos recursos que a instituição sofreu neste ano, algo em torno de R$ 200 milhões. "Ainda assim, vamos investir neste ano na execução de projetos cerca de R$ 1,7 bilhão."

Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e membro da Academia Brasileira de Ciências, o cenário para a inovação tecnológica é mais favorável no Brasil do que há 15 anos. "Mas temos que levar em conta que o que determina o processo de inovação no país não são apenas as universidades, mas as ações do governo e a atitude das empresas em respostas a essas políticas governamentais", diz. "Hoje, o que limita a capacidade de inovação na empresa não é a atitude das universidades. Os limitadores são fatores relacionados com a macroeconomia - taxas de juro e de câmbio e o pequeno apetite internacional das organizações brasileiras", afirma.

A interação universidade-empresa faz parte do esforço da academia para "formar" os profissionais que vão criar inovação nas empresas. E o foco deve estar concentrado no binômio produtos e produtividade. "A estratégia de envolvimento da empresa para conseguir atingir mais o mercado consumidor que define é a própria empresa, mas invariavelmente ela precisa aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos que fornece", diz.