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Valber Santos

Tabagismo e HPV aumentam o risco de câncer de cabeça e pescoço (80 notícias)

Publicado em 04 de julho de 2023

O tabagismo e o papilomavírus humano (HPV) são fatores de risco bem conhecidos para câncer de cabeça e pescoço, mas há ampla evidência para mostrar que eles podem interagir para aumentar ainda mais o risco de contrair a doença, de acordo com um estudo realizado por cientistas do Universidade de São Paulo (USP) no Brasil e a Universidade do Chile. Um artigo sobre o estudo foi publicado no Jornal Internacional de Ciências Moleculares.

Os resultados do estudo esclarecem aspectos dos mecanismos moleculares envolvidos no câncer de cabeça e pescoço, abrindo caminho para novas estratégias de prevenção e tratamento, ou outras intervenções que possam beneficiar os pacientes.

O câncer de cabeça e pescoço é um grupo de cânceres de boca, nariz, seios nasais, amígdalas, garganta e tireóide. Afetou cerca de 830.000 pessoas em todo o mundo em 2020, causando a morte de mais de 50%. No Brasil, causou quase 21 mil mortes em 2019, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Historicamente falando, suas principais causas foram o álcool, o tabaco e a má higiene bucal, mas nas últimas décadas o HPV tornou-se um fator de risco significativo, especialmente para pessoas mais jovens e pacientes relativamente abastados. O câncer de cabeça e pescoço é agora um dos tipos de câncer associados ao HPV que mais cresce no mundo.

Em vez de continuar a analisar o tabagismo e o HPV como fatores oncogênicos separadamente, decidimos nos concentrar em sua possível interação”.

Enrique Boccardo, penúltimo autor do artigo e professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) no Brasil

“Tanto o tabagismo quanto o HPV estão associados ao aumento do estresse oxidativo e danos ao DNA, que são fatores de câncer e, de acordo com pesquisas anteriores, podem common a superóxido dismutase 2 (SOD2), um biomarcador putativo de malignidade do câncer oral e outras doenças associadas ao HPV”.

Os pesquisadores primeiro conduziram experimentos in vitro para analisar células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6 e E7 (mostrando infecção por HPV) e foram expostos ao condensado de fumaça de cigarro. Verificou-se que os níveis de SOD2 e danos ao DNA aumentaram significativamente em comparação com os controles, apontando para uma interação prejudicial entre o HPV e a fumaça do cigarro. As células de controle expressaram menos SOD2 do que as células que expressaram E6 e E7 ou as células expostas à fumaça de cigarro, enquanto as células que expressaram as oncoproteínas e foram expostas à fumaça de cigarro expressaram mais SOD2 do que ambas, indicando interação entre a presença de genes de HPV e fumaça de cigarro.

A segunda etapa do projeto, apoiada pela FAPESP (bolsas nº 2010/20002-0 e 2019/26065-8), envolveu a análise de dados genômicos de 613 amostras do The Most cancers Genome Atlas (TCGA), repositório público que contém as informações genéticas mutações responsáveis ​​pelo câncer (derivadas do sequenciamento do genoma e da bioinformática). Os pesquisadores se concentraram na análise das transcrições do SOD2 para confirmar as descobertas.

Ponto de partida

“Embora os estudos in vitro ocorram em um ambiente synthetic, eles são um ponto de partida para entender o que acontece em modelos mais complexos e podem nos permitir no futuro intervir objetivamente com algum benefício”, disse Boccardo. “Por exemplo, a vacinação contra o HPV atualmente está disponível apenas no SUS (Sistema Único de Saúde, serviço nacional de saúde do Brasil) para crianças de 9 a 14 anos, pois estudos evidenciam sua eficácia contra patologias genitais, mas acredito que se deve pensar em estender a faixa etária para prevenir doenças em outras regiões anatômicas.”

Esse estudo em explicit, acrescentou, traduz os resultados obtidos em laboratório para análises clínicas ao superar o “calcanhar de Aquiles” da pesquisa básica, que é a dificuldade de acesso a amostras humanas, graças aos avanços tecnológicos que levam à criação de bancos de dados para amostras humanas como a usada no estudo. Esses bancos de dados incluem análise de expressão de RNA e proteínas, além de conter dados coletados por longos períodos.

“O próximo passo seria aumentar a complexidade do modelo utilizado, analisando a questão funcional no contexto da expressão regular de proteínas virais, onde o promotor do HPV de fato regula a expressão de E6 e E7”, disse Boccardo. “Não devemos esquecer, por exemplo, que eventos como processos inflamatórios não podem ser vistos in vitro, mas são conhecidos por desempenhar um papel muito importante nos resultados da doença”.