Terapia fotodinâmica não invasiva foi criada por cientistas do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo e se mostrou eficaz em estudos clínicos
Por Redação
O Sistema Único de Saúde (SUS) contará com uma inovação brasileira no diagnóstico e tratamento não invasivo ao carcinoma basocelular, o tipo de câncer de pele mais comum no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A recomendação foi solicitada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e espera confirmação do Ministério da Saúde para ser colocada em prática.
Trata-se de uma terapia fotodinâmica realizada por um dispositivo e técnica de aplicação desenvolvidos por cientistas do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e sediado no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP).
O procedimento, de baixo custo operacional e fácil aplicação, tem dupla função, pois permite a realização do diagnóstico e do tratamento ao paciente no mesmo dia, dispensando a necessidade de cirurgias ou outros procedimentos mais invasivos e dolorosos. Além disso, ele pode ser utilizado em consultórios e ambulatórios simples, não demandando grandes instalações, o que facilita seu acesso ao público.
“A indicação para incorporação no SUS é uma grande conquista do IFSC-USP. Se concretizada, pelo nosso conhecimento, o Brasil será o primeiro país a oferecer a terapia fotodinâmica no sistema público de saúde. Esse resultado demonstra a importância do financiamento às pesquisas básica e aplicada, que contribuem para o desenvolvimento e implementação de novas tecnologias para a saúde”, ressaltou Cristina Kurachi, professora do IFSC-USP e uma das criadoras do método.
A tecnologia foi amplamente testada em 72 centros de saúde em todo o Brasil e em outros nove países da América Latina, revelando a sua segurança e eficácia em casos em que a intervenção cirúrgica não é recomendada.
No Hospital Amaral Carvalho de Jaú, em São Paulo, por exemplo, mais de 2 mil lesões de pacientes foram tratadas com o método. Os resultados dos ensaios clínicos indicam que o procedimento conseguiu eliminar cerca de 85% dos tumores sem causar efeitos colaterais significativos. Um novo protocolo, que utiliza duas aplicações da técnica em uma única sessão clínica, atingiu 93% de eliminação dos tumores.
A longo prazo, a terapia fotodinâmica também se mostrou eficaz. Os resultados de ensaios clínicos revelam baixo índice de recorrência do câncer após o tratamento e que o índice de cura da doença se mantém em 90%.
Como funciona o tratamento:
Primeiramente, o equipamento auxilia na identificação de toda a extensão das lesões e, em seguida, é aplicada uma pomada à base de metilaminolevulinato no local afetado. Após três horas de contato com a pele, o composto é absorvido e produz a protoporfirina no interior das mitocôndrias das células cancerígenas.
Após remover a pomada, a área é irradiada por 20 minutos por uma fonte de luz LED vermelha a 630 nanômetros, também integrada ao equipamento. Essa luz ativa a protoporfirina e desencadeia uma série de reações nos tumores, gerando espécies reativas de oxigênio capazes de eliminar as lesões, sem prejudicar os tecidos saudáveis.
Para acompanhar a resposta do tratamento, são obtidas imagens de fluorescência por meio do mesmo equipamento. O tratamento é realizado em duas sessões, repetindo o procedimento com um intervalo de uma semana entre elas. Após um mês, as lesões são submetidas à biópsia para confirmar a eliminação total do tumor.