A paciente faleceu 24 horas após ser internada Uma nova cepa da bactéria Klebsiella pneumoniae, identificada em uma mulher de 86 anos com infecção urinária em um hospital do Nordeste, demonstrou resistência a todos os antibióticos existentes. A paciente faleceu 24 horas após ser internada. A descoberta foi realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que sequenciaram o genoma da bactéria e a compararam com 408 outras amostras.
“Ela é tão versátil que se adapta às mudanças de tratamento, adquirindo mecanismos de resistência não contemplados pelas drogas existentes”, alerta Nilton Lincopan, coordenador do estudo.
A cepa já havia sido identificada anteriormente nos Estados Unidos e representa um risco considerável de disseminação em nível global. O estudo foi publicado na revista The Lancet Microbe e integra a plataforma One Health Brazilian Resistance (OneBR), que compila informações sobre microrganismos considerados de “prioridade crítica” pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre as orientações para os serviços de saúde, destaca-se a necessidade de notificar a vigilância epidemiológica local ao identificar cepas multirresistentes. Os pacientes devem ser isolados, e a equipe de saúde precisa implementar medidas rigorosas para prevenir a transmissão.
“Em pacientes com imunidade normal, a bactéria pode não causar doença, mas em indivíduos imunocomprometidos, pode levar a infecções graves, como pneumonia”, explica Lincopan.
Pesquisadores observaram que cepas coprodutoras de carbapenemases, enzimas que hidrolisam antimicrobianos, tornaram-se mais frequentes durante a pandemia de Covid-19 na América Latina e no Caribe. Essa tendência gerou um alerta da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da OMS. Uma análise recente conduzida por Fábio Sellera, da Universidade Metropolitana de Santos, destacou a rápida evolução dessas bactérias, indicando um sério problema de saúde pública.
O antibiótico de última geração ceftazidima/avibactam, aprovado pelo FDA em 2015 e pela Anvisa em 2018, foi desenvolvido para tratar infecções graves, incluindo aquelas causadas por K. pneumoniae produtora de carbapenemase (KPC). Lincopan destaca que o aumento das internações de pacientes com Covid-19 pode ter contribuído para o uso crescente desse antibiótico, favorecendo o surgimento de cepas resistentes.
“Provavelmente, cepas tratadas com ceftazidima/avibactam evoluíram rapidamente, adquirindo resistência. Agora, enfrentamos cepas que não respondem ao tratamento com beta-lactâmicos”, lamenta. Para os pacientes, a recomendação é concluir o tratamento com antibióticos, mesmo que se sintam melhor após alguns dias, a fim de evitar o desenvolvimento de resistência.
O estudo, liderado pelo doutorando Felipe Vásquez Ponce, recebeu apoio de bolsas de doutorado, incluindo uma para Johana Becerra. A plataforma OneBR atualmente abriga 700 genomas de patógenos humanos e animais, desempenhando um papel fundamental no monitoramento e na pesquisa de novas terapias.