Ministra disse que Lula é como o técnico de um time e que as mudanças são naturais; Padilha toma posse na próxima semana
A agora ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta quarta-feira (26) que “faz parte da vivência de qualquer governo a substituição de ministros”. A declaração veio após decisão do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de substituí-la do comando da pasta por Alexandre Padilha , atual responsável pelas Relações Institucionais.
Nísia também contou o que ela conversou com o Lula após o anúncio da decisão do presidente em conversa nesta terça-feira (25). A ex-ministra acrescentou: “Isso nada depõe em relação ao meu trabalho, sou muito consciente disso”.
“Ele [presidente Lula] me comunicou a sua avaliação desse segundo momento do governo, que ele achava importante uma mudança de perfil na frente do Ministério da Saúde, e me agradeceu pelo trabalho realizado. O presidente entende que nesse momento são importantes dimensões técnico políticas”, observou.
Depois de semanas de especulação de uma eventual saída da agora ex-ministra, Lula bateu o martelo e decidiu substituí-la. Nos bastidores, as principais críticas à gestão de Nísia são a falta de uma “marca” na Saúde e a condução do combate à dengue.
Ela é a terceira mulher a ser demitida do primeiro escalão do petista — todas foram trocadas por homens. Daniela Carneiro, que chefiava o Turismo, e Ana Moser, titular do Esporte, deixaram o governo em julho e setembro de 2023, respectivamente.
O governo ganhou mais uma representante feminina após a demissão do então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em setembro do ano passado, por denúncias de assédio. Ele foi substituído por Macaé Evaristo.
Com isso, o terceiro mandato de Lula começou com 11 ministras e, com a saída de Nísia, são nove mulheres à frente de ministérios.
Em nota divulgada após a publicação desta reportagem, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) confirmou a troca e informou que a posse de Padilha no novo cargo deve ocorrer na quinta-feira após o carnaval (6). “O presidente agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério”, diz o texto.
Da articulação à saúde
Padilha é responsável pela articulação política entre Executivo e Legislativo. Ainda não há definição de quem assume a pasta de Relações Institucionais.
Na tarde de terça-feira (25), Lula chamou Nísia ao Planalto, em encontro fora da agenda. Logo depois, o presidente reuniu-se com Padilha, o que também não estava previsto na agenda do petista.
O ministro, que é médico, foi titular da Saúde da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014. Ele é próximo de Nísia e tem diversos aliados abrigados em secretarias do ministério. A ex-ministra não é filiada a nenhum partido.
Mudanças na Esplanada
Além das críticas a Nísia, a troca faz parte de uma reforma ministerial debatida desde o fim do ano passado, quando Lula criticou publicamente a gestão da comunicação do governo federal
A insatisfação do presidente levou à substituição do titular da Secom, logo no início de janeiro. Lula demitiu Paulo Pimenta e nomeou o marqueteiro Sidônio Palmeira, que comandou a campanha do petista de 2022.
Condução do combate à dengue
A demissão ocorreu horas depois de um evento sobre saúde no Planalto, em que Lula e Nísia estiveram lado a lado. Na cerimônia, o presidente anunciou a produção da primeira vacina 100% nacional e de dose única contra a dengue. O investimento é de R$ 1,26 bilhão.
Na agenda, Nísia informou que o imunizante, desenvolvido em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa WuXi Biologics, será distribuído a partir de 2026. A vacina será válida para combater os quatro sorotipos da doença. Ao todo, 60 milhões de doses serão disponibilizadas à população.
A luta contra a arbovirose, inclusive, também pode estar por trás da saída de Nísia. Em meio à alta dos diagnósticos e óbitos no país, o ministério deixou vacinas passarem do prazo de validade. No ano passado, o Brasil registrou 6.484.890 casos prováveis de dengue e 5.972 mortes provocadas pela doença. Em 2023, foram 1.658.816 diagnósticos e 1.179 óbitos.