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G1

Substâncias estudadas pela USP de São Carlos se mostram 100% eficazes contra a Covid-19 (102 notícias)

Publicado em 10 de novembro de 2021

Substâncias químicas que vinham sendo estudadas para o controle da Doença de Chagas podem se tornar medicamentos contra a Covid-19, segundo recente estudo do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQSC/USP), em São Carlos (SP).

De acordo com os pesquisadores, as moléculas conseguem interromper o ciclo biológico do novo coronavírus nas células, inibindo uma de suas principais enzimas: a Mpro, que atua para facilitar a liberação do RNA do vírus, processo fundamental para que ele se replique pelo organismo.

No laboratório, dez moléculas se mostraram 100% eficientes no tratamento de células de pulmão contaminadas com o novo coronavírus.

Uma delas, segundo os pesquisadores, foi eficaz até contra carga viral elevada, apresentando resultados similares ao medicamento que está sendo desenvolvido pela Pfizer e que se encontra na fase clínica de estudos.

A ideia de testar as substâncias veio do Grupo de Química Medicinal e Biológica (Nequimed) que já as investigava como tratamento para a Doença de Chagas.

Por meio do uso de técnicas de inteligência artificial, os pesquisadores identificaram que a cruzaína - enzima responsável por manter o trypanosoma cruzi (protozoário causador da Doença de Chagas) ativo no corpo humano - possui semelhanças estruturais com a Mpro, que atua na liberação do RNA do Sars-Cov-2 no organismo dos infectados, multiplicando o vírus pelo corpo.

Como na pesquisa contra Chagas, os pesquisadores desenvolveram cerca de 500 moléculas que interrompem o ciclo da doença, eles resolveram testar se elas tinham o mesmo efeito sobre a Covid-19.

De acordo com o doutorando Felipe Cardoso, o conhecimento prévio dos compostos trabalhados no grupo agilizou o estudo contra o novo coronavírus.

“A gente pegou moléculas que a gente já sabia que eram ativas contra a enzima do trypanosoma cruzi e pelo fato de ter uma certa similaridade entre o enzima do trypanosoma com o do coronavírus, a gente fez o teste para ver se tinham efeito sobre a enzima e viu que dez moléculas foram ativas já na primeira leva”, afirmou.

O resultado foi animador. As substâncias foram 100% eficientes na interrupção do ciclo do novo coronavírus e com a vantagem de apresentar pouquíssimos efeitos colaterais.

Agora, os cientistas estão à procura de parcerias e investimentos para que o estudo tenha continuidade e possa começar a etapa de testes com animais.

A pesquisa conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), como parte de um programa de financiamento a estudos contra a Covid-19 e está sendo realizada em parceria com equipes do cientista João Santana da Silva, da plataforma de medicina translacional da Fiocruz de Ribeirão Preto, Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto de Física da USP de São Carlos (IFSC).