Medicamento reduz as lesões causadas por inflamações na cartilagem e ameniza as dores características da enfermidade Depois de 20 anos sem novidades acerca do tratamento da artrose, um medicamento foi descoberto como eficiente nos cuidados da doença. Comprovadamente eficaz para tratar a osteoporose, a substância ranelato de estrôncio mostrou-se benéfica também no controle da artrose, caracterizada pelo desgaste das articulações.
Pesquisa realizada por um consórcio de médicos internacionais – entre eles profissionais do Reino Unido, da Bélgica e da França – constatou que 1.371 pacientes que utilizaram a substância tiveram redução de 27% da lesão causada pela inflamação da cartilagem. De acordo com especialistas, os resultados são animadores para pacientes com acometimento leve da doença e, principalmente, os que têm os joelhos comprometidos.
A artrose é um desgaste articular originado de uma inflamação na cartilagem. De acordo com o ortopedista Itamar Lins, ela é classificada em dois tipos: primária e secundária. A primeira ocorre em maior número nos idosos e é causada por doenças, como a diabetes. Já a secundária surge após fraturas. "O tratamento clínico geralmente utiliza o ácido ialurônico, que lubrifica as articulações, ou infiltrações de corticoides", explica Lins. A artrose é um problema comum, que chega a atingir cerca de 10% da população mundial.
A pesquisa, realizada durante três anos em 18 países e com a participação de 98 centros de saúde, comprovou que a substância protege a cartilagem da inflamação. Dessa forma, a doença não progride. "O estudo foi divulgado no Congresso Europeu de Osteoporose e Osteoartrite (em março de 2012) e foi o mais signficativo. No entanto, temos que esperar mais alguns anos para saber exatamente quais são os resultados a longo prazo", opina Antônio Ferrari, reumatologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acordo com ele, o medicamento não é tão benéfico para pacientes com lesões mais antigas, justamente por ele não ter o poder de formar cartilagem. "Mas se mostrou ainda mais eficaz nas lesões no joelho", conta.
O ortopedista Lindomar Oliveira explica que a artrose pode aparecer isolada ou em conjunto e que o tratamento com o ranelato de estrôncio reforça o osso subcondral, que fica abaixo da cartilagem. "Ao reduzir a degradação da cartilagem, além de atenuar a progressão da artrose, a substância melhora a qualidade de vida dos pacientes e diminui a dor, auxiliando na vitalidade articular", descreve. Opção moderna Oliveira conta que os remédios atuais, como os anti-inflamatórios e os analgésicos, agem apenas nos sintomas. Ou seja, melhoram a dor, diminuem a rigidez muscular, mas não interferem na progressão da doença.
Diferentemente do ranelato de estrôncio, que, segundo ele, vai se transformar em "uma opção moderna e atual no arsenal de tratamentos". "Com ele, podemos retardar o progresso degenerativo e, nos graus iniciais da artrose, podemos preveni-la", ressalta. A dona de casa Ana Maria Caixeta, 55 anos, comemora a descoberta. Há aproximadamente um ano, ela descobriu que estava com artrose nos joelhos. "Eram dores fortes, inchava demais. Sofria muito com essa situação", recorda. Atendida por um médico, recebeu a prescrição de anti-inflamatório e analgésico, além das sessões de infiltração – o medicamento é aplicado diretamente na cartilagem – e fisioterapia. "Foi melhorando aos poucos, mas as dores nunca sumiram", diz. Há uma semana, Ana descobriu outra lesão nos ombros, o que causou ainda mais dores.
"Com a descoberta desse novo tratamento, eu fico mais esperançosa. Como tenho uma lesão mais recente, talvez o medicamento a faça regredir", anima-se. Comprovada a eficiência da bengala Usada para ajudar na locomoção, a clássica bengala teve os seus efeitos comprovados em um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acordo com pesquisadores, o uso do acessório faz com que indivíduos com problemas de locomoção, como a artrose, consumam menos anti-inflamatórios, além de melhorar a capacidade de movimentação. Realizado com 64 pacientes, o estudo mostrou que a bengala diminuiu a sobrecarga na articulação, fazendo com que o esforço se volte para o membro superior e que seja usado sempre ao lado contrário à perna comprometida. "Quando atinge o joelho, a artrose pode ser muito incapacitante.
O paciente sente muita dor e perde autonomia. Tem grande impacto na qualidade de vida", disse o pesquisador Jamil Natour. O estudo dividiu os pacientes em dois grupos e eles foram avaliados conforme a capacidade funcional (atividades como sentar-se, agachar e levantar), a dor que o desgaste causava e o gasto energético ao se movimentar com e sem a bengala. Uma parte do grupo recebeu o acessório para ser utilizado durante 30 dias. Outra, durante 60 dias. E uma terceira não recorreu à bengala.
Após o período, todos foram avaliados. Entre os que usaram a bengala, as queixas de dores diminuíram cerca de 30%, a capacidade funcional melhorou em 20%, assim como o consumo de medicamentos, que foi reduzido "consideravelmente". A pesquisa pode auxiliar especialistas a convencerem pacientes a usar o acessório. "Muitos resistem a usar a bengala, pois acham que a sua imagem está associada à velhice e à incapacidade. Agora, podemos mostrar os benefícios de forma objetiva", avalia Natour.