O peixe, cujo veneno é estudado pelo Instituto desde 1996, é venenoso e habita a costa atlântica entre o nordeste do Brasil e o noroeste da Colômbia e, por se esconder em buracos na areia e sobreviver até 18 horas fora de água, costuma causar acidentes com banhistas. O contacto com os seus espinhos provoca dor aguda, sensação de queimadura, inchaço e necrose dos tecidos.
Na investigação, publicada na revista científica Cells, os especialistas concluíram que a proteína TnP é capaz de reduzir em mais de 75% o número de células que, em decorrência da asma, causam inflamação e danos no tecido pulmonar.
Esta proteína foi descrita em 2007 pelas imunologistas Carla Lima e Mónica Lopes Ferreira, investigadoras do Butantan, e sintetizada em laboratório pela organização, que a patenteou nesse ano. Desde então vários projetos de investigação da organização têm sugerido que a partícula é uma potencial candidata ao sucesso no tratamento de algumas doenças inflamatórias crónicas.
Durante a investigação os especialistas testaram um grupo de ratinhos com asma tratados com a partícula, outro grupo tratado com dexametasona – o medicamento utilizado para combater a doença –, e um terceiro grupo que recebeu um placebo.
Verificou-se, então, que, nos animais tratados com TnP, além de uma redução de 75% no número de células que causam inflamação e danos no tecido pulmonar, a substância reduziu em 100% o número de eosinófilos, responsáveis pela inflamação em metade dos pacientes com asma.
O tratamento com a proteína sintetizada ainda reduziu a hiperplasia das células brônquicas produtoras de muco, que os médicos acreditam ser a chave para aliviar os sintomas da doença.
Importa referir ainda que não foi identificado nenhum efeito adverso nos animais – algo que é incomum em terapias convencionais para a asma, que podem causar sintomas como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares.
No estudo as imunologistas submeteram o veneno do peixe a uma cromatografia para identificar peptídeos e testaram várias moléculas. Essas toxinas provocam dor, edema, necrose. E foi assim que chegaram a uma fração de peptídeos que não causava nenhuma ação danosa, tendo o facto chamado a sua atenção.
Após os testes bem-sucedidos nos animais, a equipa realizou o sequenciamento do TnP para identificar a sua estrutura e permitir a produção de peptídeos sintéticos em laboratório. Desta forma, deixa de se depender da extração do veneno do Niquim, e podem-se testar as moléculas sintéticas em diferentes modelos de doenças.
Para além do tratamento da asma, um estudo publicado em 2017 na revista PLOS One apontou que o TnP tem potencial na terapia para a esclerose múltipla, atrasando o aparecimento dos sintomas da doença e reduzindo a sua gravidade em ratinhos. A próxima etapa dos estudos sobre o peptídeo é testá-lo como tratamento em modelos de doenças oculares.