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Subnotificação de acidentes com serpentes pode prejudicar ações em saúde, aponta estudo (12 notícias)

Publicado em 14 de outubro de 2023

Por Agência Fapesp

A maior parte das vítimas de picadas de serpentes vivia na zona rural, onde também aconteceu a maioria dos acidentes peçonhentas, ainda são um problema estrutural no Brasil e em outros países, sobretudo para populações rurais.

Como parte da estratégia de enfrentamento ao problema, desde 1986 é obrigatória a notificação detalhada dessas ocorrências no Sistema Único de Saúde (SUS). A ideia é que os dados possam subsidiar ações de saúde, como a distribuição de soro antiofídico.

No entanto, um estudo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicinal Tropical mostra que esses formulários nem sempre são totalmente preenchidos, além de conterem informações provavelmente incorretas, dada a incoerência entre sintomas mencionados e a espécie que provocou o acidente.

O trabalho identificou 17.658 casos entre 2009 e 2019 e chama a atenção para a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde na notificação dessas ocorrências.

“Os profissionais da saúde não são treinados para o preenchimento adequado das fichas compulsórias de notificação, o que dificulta o planejamento de saúde pública para esse tipo de acidente. Além disso, falta conhecimento sobre as espécies mais comuns e os sintomas provocados”, afirma Sâmia Caroline Melo Araújo, primeira autora do estudo, realizado durante seu mestrado na Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

Por isso, as autoras defendem ações de curto prazo para treinar os profissionais de saúde no reconhecimento dos acidentes ofídicos de espécies clinicamente importantes, além da promoção de um atendimento adequado ao paciente e preenchimento correto dos formulários de notificação obrigatória de acidentes ofídicos. Com isso, as pesquisas sobre o assunto poderão avançar.

“Existem dados nacionais e mundiais sobre essa questão, mas são de pelo menos cinco anos atrás. O maior problema é que os trabalhos são feitos com dados incompletos, uma vez que esse tipo de acidente não é notificado ou é subnotificado. Notamos que no Maranhão, segundo Estado com maior número de ocorrências desse tipo no Brasil, o problema se repete”, conta Thaís Guedes, pesquisadora do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp).

Atualmente, Guedes coordena o projeto “ Evolução e biogeografia da herpetofauna: padrões, processos e implicações para a conservação em cenário de mudanças ambientais e climáticas ”, apoiado pela Fapesp. Um dos objetivos do projeto é justamente o mapeamento de áreas de risco de acidentes ofídicos no Brasil

Zona rural O levantamento revelou que a maior parte (66%) das vítimas de picadas de serpentes vivia na zona rural, onde também aconteceu a maioria dos acidentes (82%). Do total de ocorrências, 535 (3% das fichas) não dispunham de informação sobre o local de residência das vítimas e 425 (2%) da região onde ocorreu o acidente.

A profissão da vítima era, na maior parte das vezes (45%), trabalhador rural, embora em 31% dos casos não houvesse informação da ocupação. A imensa maioria era de homens (77%).