A Agência de Inovação da Unicamp (Inova) assinará seu primeiro contrato de licenciamento de patente no próximo dia 26. A meta é chegar a dez licenças este ano. A Inova, a Unicamp e a Steviafarma, indústria especializada em produção de fitoterápicos, com sede em Maringá (PR), assinam o primeiro contrato de uma das 300 patentes da Universidade Estadual de Campinas. O contrato dará a Steviafarma o direito de usar a tecnologia agregada ao processo de extração da isoflavona de soja. A pesquisa foi apresentada na edição de novembro de 2001 na Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é do professor Yong Kun Park, pesquisador do Laboratório de Bioquímica de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (LBA/FEA) da Unicamp.
A isoflavona aglicona, com grande concentração na soja, exerce, no organismo, uma atividade biológica importante. Tem propriedade anticancerígena, de mama e próstata, é antioxidante quando neutraliza as ações dos radicais livres e reduz níveis de colesterol ruim que se acumulam em artérias. Mas o plano de negócios da Steviafarma prevê o encaixe deste produto em um outro mercado, o de reposição hormonal como substituto do estrógeno, hormônio feminino usado por mulheres durante o período da menopausa.
A estratégia comercial para o uso da isoflavona aglicona como base para tratamentos de reposição hormonal em mulheres estará assentada na condição de medicamento fitoterápico. Há controvérsias hoje em relação aos efeitos da reposição hormonal com hormônios sintéticos. Há suspeitas que estes embutem o risco de desenvolvimento de cânceres.
Segundo Fernando Meneguetti, diretor-presidente da Steviafarma, tudo indica que a produção industrial da isoflavona ocorra a partir de 2005. O volume de investimentos ainda não é conhecido. Esta informação dependerá do projeto piloto, cuja montagem começa assim que o último traço da assinatura for riscado no contrato de licenciamento no próximo dia 26. O investimento inicial será de R$ 100 mil.
Se há dúvidas quanto ao custo total da produção em escala comercial não há em relação ao tamanho do mercado. Meneguetti trabalha com estimativas. Avalia em R$ 36 milhões o mercado brasileiro de medicamentos para reposição hormonal. Cifra subestimada, ele mesmo confessa. "O número pode ser muito maior que esse", disse. O negócio indica ainda boa margem. Segundo Meneguetti, a margem de venda é de 30%. "Claro que depende dos resultados da unidade piloto", disse.
O tamanho da unidade é outra informação ainda desconhecida. Um aspecto já está definido. Não será uma unidade industrial para extração da isoflavona de soja dimensionada exclusivamente para o mercado brasileiro. A patente brasileira está depositada em outros países, o que assegura a tecnologia. A condição de maior produtor mundial de soja coloca o Brasil, naturalmente, como grande fornecedor mundial de isoflavona.
A própria Unicamp não sabe o valor exato do negócio que irá licenciar. Não existe nenhuma avaliação mais precisa sobre as receitas oriundas dos royalties, afirmou Rosana Di Giorgio, diretora de Propriedade Intelectual da Inova, uma das gerentes encarregadas pela direção da Unicamp de transformar conhecimento em negócios.
O contrato de licenciamento prevê que 6% da receita líquida da venda do produto seja revertida para a academia. O valor, ainda desconhecido, será dividido em três partes iguais, entre o pesquisador Yong Kun Park, a Faculdade de Engenharia de Alimentos e a Unicamp. O produto, como qualquer outro medicamento, terá que ter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser comercializado.
O consumo de soja como reserva de isoflavona tem se tornado corrente no Brasil, principalmente entre mulheres a partir da meia idade. A soja tem alta concentração de proteínas e é um produto até recomendado. A questão está no fato de que os benefícios terapêuticos da isoflavona são diminutos quando ocorre a ingestão da soja. Este é o principal benefício do processo industrial desenvolvido na Unicamp para a extração da isoflavona da soja. A Steviafarma poderá após a extração comercializar a substância concentrada em cápsulas, o que potencializa os efeitos no organismo.
A patente assegura domínio brasileiro do processo industrial. O grão é esmagado. O óleo é retirado e a farinha recebe um solvente para a retirada da isoflavona. A mistura é destilada. A isoflavona passa então por uma conversão, de glicosiladas para agliconas no processo de fermentação.
Notícia
Gazeta Mercantil