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Diário do Comércio (MG) online

Startups precisam de regime diferenciado (1 notícias)

Publicado em 16 de maio de 2014

Apesar de suas condições especiais, como ser uma companhia de pequeno porte, iniciante e lidar com uma atividade de risco como é a inovação, as startups são tratadas no Brasil da mesma forma que as grandes empresas. Elas precisam, por exemplo, cumprir exigências da legislação trabalhista, tributária e ambiental idênticas às das grandes companhias. Além disso, os empreendedores são pouco capacitados na gestão dos negócios, pois grande parte deles tem formação e experiência centrada nos aspectos técnicos e científicos. Além disso, é preciso criar condições mais favoráveis ao venture capital para criar e desenvolver startups no país.

Esses gargalos foram identificados pelos participantes do painel "Recursos para Inovação nas Startups", apresentado no Momento Fapesp, em abril, durante a 14ª Conferência Anpei, que se realiza no ExpoCenter Norte, em São Paulo. Participaram do painel: Carlos Américo Pacheco, reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), como moderador; e Cassio Spina, da Anjos do Brasil, representando os investidores anjo; Francisco Perez, da InSeed, representando os investidores de capital semente; Franklin Luzes, da Microsoft, representando fundos de investimento e participações; Ronald Dauscha, da Siemens, representando o corporate venture, e Sergio Queiroz, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), representando uma agência pública de fomento com linha de apoio às empresas startups.

O apoio às startups é, em geral, dado por fundos de investimento, como venture capitalangel capitalseed capital. "Precisamos engajar o setor privado a financiar Àstartups", sobretudo através de angelsventure", disse o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Carlos Américo Pacheco. "Se não tivermos um ambiente econômico e regulatório pertinente para os fundos, para o fortalecimento das universidades/institutos para transferir conhecimento, para estímulo ao empreendedorismo, não teremos sucesso", disse. "Além disso, temos um excesso de burocracia que atrapalha muito, e exige de uma empresa nascente as mesmas coisas que são obrigatórias para as grandes", apontou.

Competência gerencial - Segundo Sergio Queiroz, da Fapesp, um problema habitual no âmbito dos projetos de startups apoiados pelo Pipe-Fapesp é a existência de elevada capacidade técnica, mas a falta de competências gerenciais que vão fazer o negócio ser bem sucedido. "Além disso, a demanda qualificada fica aquém da oferta. A Fapesp disponibiliza R$ 15 milhões nos editais, e não tem conseguido aplicar todo esse valor porque não são apresentados projetos de qualidade", disse Queiroz. "Essa é uma questão mais séria e envolve todo o país, como gerar demanda tecnológica. Precisamos de mecanismos para empurrar empresas a fazer inovação", acrescentou. Para ele, os empreendedores precisam olhar o mercado mundial. "O palco da competição não é o Brasil, é o mundo, e acho que a adoção de uma visão mais ampla vai reforçar a criação de empresas", disse.

Há também um desconhecimento sobre os fundos. Cássio Spina, da Anjos do Brasil, apontou que o investidor anjo, por exemplo, é pouco conhecido no Brasil. Para ele, o país tem duas barreiras que precisam ser superadas. A primeira é a da proteção contra passivos. Apesar de os investidores anjos serem pessoas físicas, caso as empresas investidas tenham problemas legais, como com a legislação trabalhista ou tributária, o investidor também será punido. O outro aspecto é trabalhar numa reforma tributária que desonere os investidores e as startups.

Francisco Perez, da InSeed, deu um exemplo de gargalo provocado pela regulamentação para os fundos de investimento: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige que as empresas, para receberem os recursos, sejam Sociedades Anônimas. "Imagine o que é chegar para uma empresa nascente ou até uma que nem foi criada e dizer que ela tem de ser um S/A, com todos os custos e procedimentos que ela precisa adotar para tal", ressaltou.

Franklin Luzes, da Microsoft, identificou como gargalo o tempo no qual aceleradoras operam junto às startups. "As empresas precisam de apoio para crescer, e três, quatro meses não são suficientes para o empreendedor aprender sobre gestão, se relacionar com um fundo, gerenciar fluxo de caixa, pensar na expansão do negócio nacional e internacionalmente", disse. Por isso, a Microsoft desenvolveu o conceito de pós aceleração, com um fundo que é aplicado para preparar as empresas para receber aporte de recursos.

Na visão de Ronald Dauscha, da Siemens, para o Brasil ter um ambiente minimamente sustentável para as startups é preciso implantar regimes diferenciados para as empresas de base tecnológica. "Também precisamos de mais pessoas ou entidades trabalhando na capacitação para negócio, pois o empreendedor, além do preparo técnico, precisa ter o preparo comercial", enfatizou. "Ajudaria também a proliferação maior de entidades como aceleradoras, que permitam às empresas terem capacitação e experiência em curto espaço de tempo para vivenciar tentativa de lançar produtos no mercado", apontou.