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Startup brasileira desenvolve bateria para ‘carros voadores’ (10 notícias)

Publicado em 28 de outubro de 2024

As aeronaves elétricas de decolagem e aterrissagem vertical (eVTOLs) têm sido desenvolvidas para atender a demandas de mobilidade urbana. Semelhantes a helicópteros, elas usam motor elétrico e fazem pousos e decolagens de modo vertical — o que economiza bastante espaço nesses processos. Ao redor do mundo, empresas de transporte urbano já interagem com fabricantes de eVTOLs para firmar acordos para a oferta dessa alternativa de deslocamento.

Um dos principais componentes desses veículos é a bateria, que garante o funcionamento do motor elétrico. Embora seja semelhante às usadas em carros elétricos, quem produz o componente para eVTOLs tem de se atentar a outros aspectos. Um dos principais deles é o peso: se para automóveis há pouca preocupação com essa característica, para um veículo voador é fundamental que a bateria seja leve.

Com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, a startup Ocellott está desenvolvendo um componente de alta complexidade para esse fim. “Além dessa especificidade em relação ao peso, temos outros obstáculos a superar, como a necessidade de carregamento rápido, a extensão da vida útil, a capacidade de potência e outros”, conta Rodrigo Junqueira, engenheiro de controle e automação e diretor de negócios da empresa.

O engenheiro avalia que, em breve, os veículos voadores poderão ser chamados por aplicativo — como ocorre com os carros atualmente. “É um mundo novo que começa a se desenhar”, diz. “E isso não é simples: esse mercado vai encontrar vários desafios pela frente. A própria bateria é um deles, porque mesmo as melhores tecnologias que existem hoje não atendem perfeitamente às necessidades.”

O objetivo da Ocellott é fornecer baterias tanto para fabricantes de eVTOL como para operadores de serviços de transporte. “O mercado de operadores deve ser até maior do que o de fabricantes”, estima Junqueira. “Quando esse componente atingir o limite de vida operacional e tiver de ser substituído, por exemplo, o operador vai ter de comprar um novo. Esse pode ser um dos modelos de negócio.”

Dois anos

A estimativa da chegada dos eVTOLs ao mercado é a partir de 2026. “Daqui a dois anos, já deve haver veículos desse tipo certificados”, aponta. “Mesmo assim, há ainda muitos aspectos a serem abordados. Isso porque não basta criar a aeronave, é preciso definir onde e como ela vai ser recarregada, onde ela vai pousar, como vai ser a regulamentação da operação e outros. Essas dificuldades precisam ser superadas antes de o conceito se tornar popular.”

O pesquisador imagina que provavelmente haverá veículos já disponíveis em 2026, mas as operações de transporte ainda devem demorar um pouco para serem estabelecidas. “A infraestrutura necessária é complexa e ainda precisa ser preparada.”

A demanda pela produção da Ocellott deve começar já em 2026, uma vez que as aeronaves vão entrar em serviço, mesmo que em volume pequeno. É provável que, inicialmente, a necessidade seja restrita ao próprio fabricante e a alguns operadores iniciais, mas, com o tempo, ela vai aumentar até se estabilizar. “Não vai ser uma produção grande como a de uma montadora de automóveis, com milhões de unidades por ano, mas também não vai ser tão pequena quanto a de aviões, que faz pouco mais de mil veículos anualmente”, compara.

Para Junqueira, quando crescer a massa de operadores, o mercado vai aumentar exponencialmente. “Quando ele se estabilizar, cada fabricante de eVTOL deve fabricar cerca de mil aeronaves por mês. E ainda vai ter o nicho de substituição do produto”, lembra. “E isso não vai demorar muito: daqui a cinco anos, ou talvez até em menos tempo, já deve haver mercado de reposição. Não é breve, mas não é tão distante.”

O desenvolvimento da humanidade ao longo dos anos demonstra que, muitas vezes, a criação de produtos levou à criação de necessidades. Foi assim, por exemplo, com o smartphone. Quem diria, há dez anos, que hoje praticamente todas as tarefas poderiam ser feitas diretamente nesse dispositivo, sem a necessidade de um computador?

Apesar de o mercado de transporte urbano por eVTOLs ainda não existir, a existência da solução pode fazê-lo surgir. “É nisso que os fabricantes apostam. Atualmente, o mercado mais parecido com esse é o de helicópteros. Só que ele não abrange as pessoas comuns. A grande diferença é que o objetivo é usar o eVTOL para massificar esse acesso.”

Internacionalização

A escolha do nome da empresa levou em conta o fato de a startup ter intenção de atuar no exterior. “Ocelote é um sinônimo para jaguatirica, que é uma palavra de origem indígena”, revela Junqueira. “Quando repensamos a marca da empresa, buscamos elementos que a identificassem. O ocelote é um felino que tem o tamanho ideal, tem agilidade e tem adaptabilidade. É como a nossa empresa: tem agilidade para desenvolver tecnologias complexas em um tempo muito curto. Além disso, o nome funciona bem em outros idiomas.”

Com nove anos de idade, a startup já tem escritórios no exterior há três anos. “Temos duas unidades na Flórida, nos Estados Unidos. Além disso, participamos de missões internacionais. O mercado brasileiro é pequeno para o tipo de produto que fazemos. Por isso, faz sentido buscarmos mercados fora do país.”

A startup foi uma das selecionadas para participar de missões empresariais na FAPESP Week China e Itália, que aconteceram em junho e no final da primeira quinzena de outubro.

A Ocellott concorre com fornecedores tradicionais de sistemas de aviões, mas a maioria deles não está empolgada com o eVTOL. “Eles não estão interessados nesse tipo de produto ainda. Isso permite que a gente se posicione no mercado. Além disso, nossa agilidade e nossa competência fazem nosso diferencial.”

A falta de interesse tem relação com o fato de haver muita demanda no segmento de aviões tradicionais, que é um mercado já consolidado, e no setor militar. “Alguns países têm orçamentos gigantescos para essa área. Para eles, é um momento muito bom para se manter nessa área. Sobra espaço, então, para produtos novos, em que ainda há risco.”

A própria Ocellott atua no segmento de produtos de comando e controle para as forças armadas. Ou seja, a empresa não faz exclusivamente baterias para eVTOL. “Temos um conjunto de projetos e produtos de aplicação militar.”

As especialidades da startup são o desenvolvimento e a fabricação de soluções de eletrificação e a validação de sistemas aeronáuticos e de radiofrequência. “No início, oferecíamos consultoria para fabricantes de aeronaves para ajudá-los a certificar os veículos conforme os requisitos de compatibilidade eletromagnética”, conta. “Rapidamente, porém, ficou claro que seria importante direcionar a empresa para produtos.”

A partir disso, a equipe desenvolveu sistemas para aviação tradicional, que hoje estão embarcados em plataformas existentes. “Em seguida, criamos outros produtos, como é o caso da bateria para eVTOL”, relata Junqueira. “Nesse cenário, a FAPESP fez uma diferença enorme para nós. Sem esse apoio, não teríamos fôlego financeiro para avançar na velocidade que avançamos.”

Bateria de íon de lítio do carro voador da Embraer

A empresa de engenharia eletroeletrônica Ocellott está concluindo o desenvolvimento da bateria de íon de lítio do carro voador da Embraer. O projeto desafiador, sustentável e com tecnologia de ponta está a pleno vapor, desde 2020, em São José dos Campos (SP) e para tocá-lo a empresa paulista solicitou financiamentos da Desenvolve SP – agência de fomento vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo de São Paulo.

As linhas de crédito para projetos de inovação e de capital de giro da Desenvolve SP estão contribuindo para alavancar o eVTOL, sigla em inglês de “aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical”. Para o carro voador passar para a fase de testes e ser certificado, sua bateria tem que, antes, ser certificada também pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), explica o CEO da Ocellott, Henrique Lemos de Faria. “Os recursos desembolsados pela agência foram importantíssimos para que pudéssemos desenvolver o projeto.

A bateria do eVTOL é uma inovação, mas com riscos, e seria bastante complicado e custoso um investimento da Ocellott com recursos próprios. A Desenvolve SP oferece taxas atraentes”, afirma Henrique. “Estamos diante de uma solução sustentável para um meio de transporte de motorização elétrica, que substituirá um de motorização por combustíveis fósseis. Espero que, no primeiro semestre de 2025, possamos receber a certificação da Anac da bateria de íon de lítio do carro voador”, prevê o CEO.

A expectativa é de que o eVTOL entre em operação em 2026, mas, antes disso, o veículo passará por testes e certificações. Até lá, o trabalho continua na Ocellott, instalada no Parque de Inovação Tecnológica de São José. “Precisávamos desenvolver um produto seguro, com peso menor e com eficiência energética, item no qual está inclusa a autonomia. Temos aqui uma bateria de ponta, com desempenho igualmente de vanguarda. Há mais de 200 projetos de carros voadores em desenvolvimento no mundo, em países como Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e China”, explica Faria.

Atualmente, a bateria da Ocellott possui entre 700 e 800 kg (de 30 a 40% do peso total) e é feita em módulos, para se adequar à necessidade do veículo que ela irá alimentar. “Este projeto do eVTOL tem grande potencial para ser o carro-chefe da empresa, quando o carro voador estiver operando. A previsão é que, a partir de 2030, com este meio de transporte ambientalmente mais adequado sendo popularizado, possamos ter 50% de nosso faturamento gerados pela venda deste produto”, completou o executivo da Ocellott.

Em 2023, a Desenvolve SP desembolsou mais de R$ 51 milhões para projetos desta natureza de micro, pequenas e médias empresas do estado de São Paulo. No acumulado, desde 30 de setembro de 2013, quando passou a oferecer linhas com este fim, a instituição já liberou mais de R$ 322,8 milhões.