As mortes diárias por coronavírus no estado de São Paulo podem continuar em um “patamar elevado” até 2021, segundo projeção apresentada nesta terça-feira (14) pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
“Nós vamos manter essa epidemia por um bom tempo ainda. A taxa de mortalidade, embora possa estar estabilizada, está em um patamar elevado. Temos algo em torno de 300 óbitos por dia no estado de São Paulo. O que corresponde a um Boeing 747. Estamos tendo a explosão de um Boeing 747 por dia e pode ser que isso se prolongue até o ano que vem”, afirmou durante debate virtual com especialistas realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) e o Butantan.
Dimas Covas faz parte do Centro de Contingência montado pelo governo de São Paulo e já coordenou o grupo em um dos revezamentos de seus membros. No entanto, apresenta posições diferentes das defendidas pela gestão João Doria (PSDB).
Nesta semana, o governo comemorou o fato de que as mortes semanais no estado tenham caído pela 3ª semana seguida e anunciou a maior flexibilização da quarentena em 9 regiões do estado. Embora os números semanais tenham sido menores no estado, a média móvel de mortes diárias indica uma estabilidade nos registros (platô) no ponto mais alto, acima de 200 mortes por dia, e não uma queda.
De acordo com as projeções apresentadas por Dimas Covas, os números de mortes e casos devem continuar subindo no estado, já que a taxa de transmissão da doença ainda não caiu o suficiente para derrubar o contágio.
“Embora muitos tenham a falsa sensação de que estamos em um momento de inflexão, de platô, na realidade esses casos ainda devem continuar aumentando. Da mesma forma, o número de óbitos deve continuar aumentando”, afirmou.
No mesmo seminário, o matemático Eduardo Massad também criticou a utilização do platô como meta de política pública.
"Alguns dirigentes têm usado esse platô como argumento pra dar sustento às suas políticas de relaxamento das medidas de isolamento social. Na verdade, é o que eu venho dizendo a algum tempo: o platô é a assinatura do fracasso. Toda curva epidêmica que se preze ela tem que atingir um pico e cair", afirmou.
Segundo Dimas Covas, a solução para diminuir as mortes e casos seria aumentar o isolamento social para 70%, o que já era recomendado por especialistas no início da pandemia, mas que deixou de ser o principal critério para a reabertura.
“Considerando o que nós temos mantido de isolamento social, abaixo de 50%, em torno de 45% no estado como um todo, nós vemos essa espécie de platô. A alternativa a isso seria aumentar as medidas de isolamento para 70%, com isso nós seguramente teríamos um comportamento diferente da epidemia”.
Em 11 de junho, Dimas Covas já havia criticado o plano de reabertura do comércio em São Paulo.
"Quando você faz um planejamento, você tem que prever quando é que você vai sair DO (Diário Oficial). Mas nenhum especialista, nenhum infectologista, nenhum epidemiologista fala pra você que você pode sair com curva em ascensão. Quer dizer, isso não faz muito sentido, você tá entendendo? E no estado de São Paulo, nós não temos nenhuma curva em descensão", disse ele na ocasião.
Fonte: G1 Notícias