A pesquisa do Estado de São Paulo recebe uma injeção de R$ 100 milhões dentro da corrida tecnológica para sustentar a competitividade do etanol de cana-de-açúcar no cenário mundial. O maior convênio já firmado entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Dedini Industrias de Base, vai incrementar as pesquisas para obtenção de álcool do bagaço e da palha de cana, além da otimização do uso desta biomassa como fonte de energia para as próprias usinas.
O convênio apoiará projetos cooperativos a serem estabelecidos entre pesquisadores da Dedini e de universidades e instituições de pesquisa, públicas ou privadas, no estado de São Paulo. A expectativa é que o aproveitamento total da cana-de-açúcar, assim como o domínio e a possibilidade de aplicação em larga escala de técnicas inovadoras de processamento, ajudem a manter o Brasil entre os principais produtores e exportadores de álcool combustível.
A Dedini Indústrias de Base é uma das líderes mundiais na oferta de tecnologia industrial para a cadeia produtiva de açúcar e álcool. O convênio é válido para cinco anos e metade do investimento será 50% da agência de fomento e 50% da empresa.
De acordo com José Luiz Olivério, vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini, o Brasil é líder mundial em cana-de-açúcar e seus derivados, produzindo o etanol mais competitivo. O custo desse produto teve uma redução da ordem de 60% nas últimas décadas, devido ao aumento da escala de produção, da maior experiência e, principalmente, pelo expressivo desenvolvimento tecnológico do setor sucroalcooleiro.
"O espetacular interesse global que hoje existe pela bioenergia tornou o etanol um dos centros de atenção da ciência e da tecnologia mundial. O Brasil precisa intensificar suas ações nessa área para garantir a sua posição", afirmou Olivério.
O Estado de São Paulo é o segundo maior produtor de açúcar e álcool do mundo. Em 2006, os derivados da cana-de-açúcar corresponderam a 14,4% da oferta de energia do país, que é uma porcentagem idêntica à oferta de energia hidrelétrica.
Propostas
O presidente da Fapesp, Carlos Vogt, lembra que, desde a década de 1990, a Fundação tem privilegiado o fomento à pesquisa tecnológica, cuja motivação está ligada à atividade empresarial. "A parceria com a Dedini foi uma escolha natural, uma vez que se trata de uma das principais empresas do mundo na área de tecnologia industrial para a produção de etanol e que tem um expressivo esforço interno de pesquisa e desenvolvimento", disse.
A primeira chamada de propostas no âmbito do convênio deverá ser lançada até o final do mês de agosto. Os recursos serão destinados exclusivamente às propostas que forem selecionados pela Fapesp, com a participação do Comitê Gestor da Cooperação, e serão desembolsados de acordo com o cronograma aprovado em cada proposta selecionada.
De acordo com o vice-presidente da Dedini, a chamada será dirigida para projetos de pesquisa com foco em áreas de tecnologias industriais de produção de etanol. "Serão aplicados R$ 20 milhões por ano durante cinco anos. Acreditamos que será suficiente para muitos projetos nessas áreas. Os valores para cada um deles dependerão de sua natureza", disse Olivério.
A previsão é que sejam fomentados projetos em: aperfeiçoamento de tecnologias em uso na planta de demonstração de hidrólise ácida da empresa, ou descoberta e desenvolvimento de novas; produção de energia a partir de subprodutos da obtenção de etanol; formas de reduzir o consumo de energia durante o processo industrial; e formas de aumentar a eficiência dos processos de destilação e fermentação.
De acordo com Olivério, um dos focos será desenvolver métodos de produção de etanol a partir de celulose. "A cana tem um terço de sacarose e dois terços de celulose. Só produzimos etanol a partir da sacarose. Quando desenvolvermos a tecnologia para produção por celulose, isso terá um grande impacto na produtividade", disse.
Safra maior
O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento — CONAB - estima que a produção nacional de cana-de-açúcar na safra 2007/08 é de 527,98 milhões de toneladas, superior à safra passada em 11,20%. Desse total, 87,43% (461,63 milhões de toneladas) são produzidas na região Centro-Sul e 12,57% (66,34 milhões de toneladas) nas regiões Norte e Nordeste.
A área ocupada com essa cultura cresceu 7,40% em relação á safra anterior e chegou a 6,6 milhões de hectares. A cana-de-açúcar vem crescendo basicamente nas áreas antes ocupadas com pastagem.
De acordo com a Conab, o setor sucroalcooleiro está em plena ascensão em função da forte demanda interna e externa, o que é justificado pela expansão da capacidade produtiva existente e pela implantação de novas unidades, bem como, melhoria tecnológica no processo de produção de cana-de-açúcar, tais como: introdução de novas variedades adaptadas ao clima, tipo de solo e sistema de corte (manual e mecânico) e maior uso de irrigação.