No cenário de isolamento imposto pela covid-19, cérebro recorre a sonhos para metabolizar emoções intensas vivenciadas durante o dia
E, de repente, foi preciso evitar beijos, abraços e até um fraterno aperto de mão. Usar máscara para sair de casa, tirar os sapatos quando voltar, higienizar tudo com álcool em gel. Dedicar mais tempo aos filhos, ficar longe dos amigos e dos colegas de trabalho. O quarto virou escritório; a sala, academia; e o velho tapete azul trazendo lembranças do mar.
Neste cenário de isolamento imposto pela covid-19, o cérebro recorre aos sonhos para metabolizar as emoções intensas vivenciadas durante o dia e assimilar eventuais experiências que possam favorecer a sobrevivência, em uma estratégia de adaptação ao “novo normal”.
“Segundo alguns teóricos, a realidade onírica é como uma super-realidade virtual que nos permite, em um contexto de medo profundo, treinar e melhorar a performance em aspectos cruciais do cotidiano”, explica à Agência FAPESP a neurocientista Natalia Mota, pós-doutoranda no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Partindo dessa premissa, a pesquisadora analisou relatos de sonhos de um grupo de voluntários com o objetivo de investigar como estavam sendo afetados pela pandemia e pelo isolamento social. Os resultados do estudo – divulgados na plataforma medRxiv, ainda em versão preprint (sem revisão por pares) – sugerem que, quanto maior era o grau de sofrimento do indivíduo no primeiro mês da quarentena, mais comuns eram as menções a termos associados à ideia de “limpeza” nos relatos oníricos.