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“Soluções baseadas na natureza” precisam considerar desigualdades sociais (2 notícias)

Publicado em 26 de abril de 2023

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Os dados estão no artigo Just cities and nature-based solutions in the Global South: A diagnostic approach to move beyond panaceas in Brazil , publicado na edição de maio da revista Environmental Science & Policy.

O professor Pedro Roberto Jacobi, orientador do trabalho, explica que o conceito de soluções baseadas na natureza surgiu nos anos 1990 com um grupo de pessoas ligadas ao terceiro setor e entidades da sociedade civil na Europa. Com a participação dos vários atores, organizou-se o ICLEI – Governos Locais para a Sustentabilidade com o objetivo de testar iniciativas, disseminar conhecimento e influenciar nas políticas públicas para apoiar o desenvolvimento de cidades sustentáveis.

A pesquisa foi dividida em cinco etapas: a revisão da literatura, as entrevistas, os grupos focais, a análise dos resultados e a proposição de recomendações. Os resultados mostraram que 29 dos 31 gestores entrevistados tinham mais de cinco anos de experiência na gestão municipal e pertenciam a cidades da região Sudeste que, segundo o artigo, se devia à rede de parceiros do ICLEI, presente nessa região. Houve representantes das regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Algumas das cidades que participaram foram: Campinas, Macapá, Fortaleza e Cuiabá.

Segundo Pedro Torres, um dos principais problemas das SbN são seus efeitos secundários indesejados. Como exemplo, ele citou o processo de gentrificação que ocorre ao redor de novas áreas verdes implementadas nas cidades, tais como parques e praças.

Como ele explica: “O processo de gentrificação é entendido como um processo de alteração de um determinado território a partir de uma renovação urbana/infraestrutura que resulta na remoção forçada ou mesmo a expulsão dos moradores que não são capazes de pagar propriedades e aluguéis mais caros com a valorização do uso do solo – transformando ao mesmo tempo novas práticas culturais e de consumo nesses locais . No caso da gentrificação verde, o processo resulta da criação ou restauração de uma amenidade ambiental.”

Além disso, destaca, “há uma distribuição desigual dessas ações que tende a favorecer determinadas áreas e deixar de lado os locais de vulnerabilidade. Com essas constatações procuramos construir no artigo uma proposta tendo como eixo o desenvolvimento de uma cidade mais justa e de uma justiça ambiental.” Como ele aponta, não há soluções prontas para resolver todos os problemas, mas é preciso considerar as especificidades de cada cidade.

O artigo também ressalta que “a escala das políticas públicas brasileiras de planejamento urbano e ambiental é marcada pela priorização das metrópoles e grandes cidades, negligenciando a agenda e as necessidades da grande maioria dos pequenos municípios.”

Nesse sentido, Sophia Picarelli, também autora do estudo, exemplifica: “Em cidades grandes, urbanas, as soluções passam pelas infraestruturas verde ou azul, ou azul e cinza. Já nos municípios menores, rurais, é uma outra linha de atuação, voltada para a conservação e restauração.” A infraestrutura verde são as áreas naturais, a azul representa os recursos hídricos e a cinza são as vias de circulação.

Sophia B. N. Picarelli - Foto: Arquivo Pessoal

Mais informações: e-mail phcampellotorres@gmail.com , com Pedro Henrique Campello Torres

*Ana Fukui é bolsista do projeto Mídia Ciência Fapesp/FMUSP