Programa de computador está sendo desenvolvido por pesquisadores de uma empresa incubada pela Unicamp
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acabam de concluir a primeira etapa do projeto que pretende colocar no mercado, até 2009, um programa de computador capaz de transformar palavras escritas em voz de alta qualidade.
A tecnologia, desenvolvida pela Vocalize (empresa residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp), consumiu seis meses de pesquisas e envolveu três especialistas. Edmilson Morais e Jaqueline Gonçalves são engenheiros em telecomunicações; Jussara Melo é fonoaudióloga e lingüista.
O primeiro protótipo do software, pelas estimativas dos pesquisadores, deve estar pronto em seis meses.
A tecnologia que converte texto em fala é disponível há mais de uma década nos Estados Unidos e Europa. Já existem conversores comerciais de texto em versões da língua de origem dos respectivos países.
Mas, segundo Edmilson Morais, o software desenvolvido por aqui oferece uma fala nítida, em português, rica em diversos aspectos da prosódia (entonação dos sons). "A base do programa contempla diferentes estilos de locução. É possível, por exemplo, captar a emoção em uma frase emitida" , explica.
A tecnologia evolui a ponto de despertar o interesse no mercado brasileiro. Entre suas aplicações práticas estão sistemas para vocalização de qualquer texto digital (como e-mails e fashes jornalísticos no celular, por exemplo).
À primeira vista, o maior beneficiado pelo sistema é o deficiente visual, que pode ouvir a mensagem que chega escrita. Mas a tecnologia possui um número enorme de aplicações em serviços corporativos: call center, portal de voz, e-learning e vocalização de livros.
A vantagem do software é a mobilidade e o conforto. "O profissional não precisa interromper qualquer atividade para ler um texto. Ele simplesmente o ouve" , explica Jussara.
Saga
A pesquisadora Jaqueline conta que o projeto se torna real depois de uma batalha incansável por financiamento. A idéia que credenciou a Vocalize à condição de "pré-incubada" na Inova surgiu ainda em 95.
O projeto chegou a ser apresentado em um concurso do Banco Santander para o fomento às pequenas empresas. Mas o 5 lugar (dentre cerca de 800 concorrentes de todo o Brasil), só conferiu aos pesquisadores um certificado de mérito.
Incansável, a equipe conseguiu em agosto de 96 bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Com os recursos, a Vocalize adquiriu computadores e gravadores avançados, de alta fidelidade.
Tecnologia usa banco com 2,5 mil sentenças gravadas
A tecnologia desenvolvida pela Vocalize usa um banco com 2,5 mil sentenças gravadas. São frases segmentadas em fonemas e sílabas. A partir dessas unidades de som, o programa sintetiza a voz humana. As palavras escritas se transformam em faladas, dotadas de ritmo e entonação semelhantes aos da voz humana. O programa é "treinado" para fazer uma análise sintática das sentenças e das vozes que podem ser utilizadas em cada situação. (RV/AAN)
Conhecimento é convertido em produtos na incubadora
A Vocalize é uma das empresas incubadas na Agência de Inovação da Unicamp (Inova), fundada em 2003 para ser rede de relacionamento entre universidade e sociedade. A proposta é incrementar a pesquisa e o ensino, de forma que o conhecimento acadêmico seja convertido em serviços.
A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), incorporada à Inova, mantém hoje 11 empresas incubadas.
Enquanto a Unicamp fornece o espaço físico e os gestores, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) financia as atividades da incubadora. Após organizada, com projeto definido, a incubada procura por financiamento e patrocínios para executar seus projetos.
Nos últimos três anos, a Inova depositou cerca de 200 patentes, com aplicações em medicina, saúde e nutrição; produção industrial; comunicação e tecnologia da informação; produção rural e exploração de recursos naturais. A Unicamp é a universidade com o maior número de patentes depositadas.
"Só no ano passado, os 75 acordos de pesquisa colaborativa com empresas geraram R$ 11 milhões em recursos que entraram na Unicamp" , afirma o diretor executivo da Inova, Roberto de Alencar Lotufo. Nove empresas, diz, foram incubadas no passado e hoje disputam o mercado, definitivamente instituídas. (RV/AAN)
O número
90 mil REAIS - São os recursos investidos nos últimos seis meses pela Fapesp no desenvolvimento do software da Vocalize
Inovação - Avanço nas patentes
CaracterísticasAntes da Inova (15 anos)Após a Inova (3 anos)Patentes depositadas: 217200
Patentes licenciadas: 743
Contratos de licenciamento: 525
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)