Diovanne Filho do Portal Correio.
Pesquisadores das universidades Federal de Campina Grande (UFCG) e de Campinas (Unicamp) desenvolveram um software capaz de auxiliar desde donas de casa a proprietários de grandes redes de supermercados sobre como melhor manipular e conservar frutas e verduras, o que evita assim que estes alimentos se estraguem devido a má conservação. A forma como estes produtos são tratados após a colheita feita de maneira errada é apontada por órgãos sanitários como maiores responsáveis pela grande quantidade de alimentos jogados no lixo diariamente em todo o país.
O resultado desta pesquisa, que durou cerca de dois anos e meio, trata-se do CoolSys, um software de fácil compreensão e posto à disposição para download no site da Unicamp há pouco mais de mês, com informações técnicas e simulações de como melhor armazenar estes produtos. Questões como temperatura, proximidade dos alimentos, período em que podem ficar condicionados, entre outros, estão dentro do software.
A coordenadora do estudo na Unicamp, Bárbara Teruel Medeiros, aponta este software como uma importante ferramenta no repasse de informação à população sobre as melhores condições de manuseio, antes feito de forma difícil e técnica.
"Este software surgiu da necessidade destes produtores em dominar esta manipulação e da dificuldade deles em entender todas aquelas fórmulas e números, muitas vezes incompreensíveis a pessoas que não tem este conhecimento. Com o CoolSys, elas terão como encontrar todas as informações e de foram rápida e fácil", disse. Segundo ela, a perda entre a colheita e a mesa do consumidor destes tipos de alimentos chega até a 40% devido o processo de manipulação e conservação.
Para o desenvolvimento do software, que teve a participação de pesquisadores da UFCG, sob a orientação do professor Antonio Gilson de Lima, uma série de modelos matemáticos e simulações foram feitos, o que resultou em princípios científicos, equacionamentos matemáticos e modelos teóricos postos em interfaces amigáveis, disponíveis na tela do computador.
Toda esta relação de números e equações passaram então a ser acessíveis tanto para o público acadêmico quanto para o setor produtivo, pois, com o software instalado no computador, basta apenas, introduzir os dados minimamente necessários, para que o usuário obtenha rapidamente respostas aproximadas para o que aconteceria com a fruta ou hortaliça ao longo do tempo em relação ao que pode acontecer com aquele alimento nas temperaturas ali simuladas.
Os especialistas explicam que a atividade metabólica das frutas e hortaliças continua mesmo após a colheita, alterando-lhes a qualidade, até a perda do valor comercial. O amadurecimento e o envelhecimento de frutas e hortaliças frescas são inevitáveis e independentes do método de conservação, mas, a velocidade desses processos é que pode ser reduzida, preservando os produtos por mais tempo.
O controle desta velocidade é o que se faz nos sistemas de refrigeração com o controle da temperatura e umidade relativa do ar, pois de cada produto se conhece os gradientes de temperatura e umidade relativa adequados para a conservação após a colheita.
Além da coordenação da professora Bárbara Teruel, o projeto foi desenvolvido por professores e alunos tanto da graduação como da pós-graduação das engenharias agrícola e química da Unicamp, além do Departamento de Engenharia Mecânica da UFCG, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e está registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Controle da embalagem à temperatura
Tomando como referência o limão, exemplificado em uma das telas que permite a simulação do processo de resfriamento, a professora Bárbara Teruel explica que ao acessar o programa, o usuário precisa informar dados como o diâmetro do fruto, sua temperatura inicial, as dimensões da embalagem, o sentido da circulação do ar refrigerado em relação ao posicionamento da embalagem, a velocidade do ar, para então, obter o tempo necessário para atingir o gradiente adequado de temperatura.
A pesquisadora disse que até as posições diferentes na embalagem em cada fruto precisam ser vistas, já que, o sentido da circulação do ar faz com que se resfriem em tempos diferentes se não estiverem postos quase que iguais.
"O desejável é que essa diferença seja a menor possível para que não influa na conservação do produto, uma vez que, quanto maior a temperatura, mais acelerado é o metabolismo e mais rápida a perda de qualidade". explicou.
Padrão de consumo
Mas Bárbara Teruel lembrou que a refrigeração não acresce qualidade ao produto, mas visa mantê-la próxima do padrão de consumo exigido pelo mercado durante um certo tempo.
O programa permite inclusive determinar a temperatura do ar refrigerado ao longo do processo, que sofre aumento de temperatura enquanto os produtos resfriam, conforme a pesquisadora.
Simulação de resfriamento de frutas
O Professor Antonio Gilson Barbosa de Lima da Faculdade de Engenharia Mecânica e o aluno Deivton Costa Santiago, explicou a coordenadora, trabalharam no modelo matemático e algoritmo, para a simulação de processos de resfriamento de frutas e hortaliças.
"O modelo desenvolvido e que é a base do módulo II do software CoolSys, considera as propriedades do ar de resfriamento variáveis com a temperatura, calculando-as para cada instante do processo, o que assemelha o modelo as condições reais do processo", disse.
Outro diferencial é que a temperatura do produto e do ar de resfriamento é calculada em várias posições dentro do leito de produtos (ou seja, para diversos produtos dentro do volume que está sendo refrigerado), em e função da direção do escoamento do ar pelos produtos.