A professora de matemática Helen Liberatori quase desistiu do magistério ao se deparar com a realidade em uma escola de periferia de Ribeirão Preto. "Não sabia como ia sobreviver um ano até poder pedir transferência. Então, em 2005, montaram um grupo na escola e comecei a falar e escrever sobre o que acontecia. Isso me deu força e consegui novas formas para gerenciar essa relação", disse Helen.
A experiência professora e de outros membros do grupo na sala de aula vão virar livro com objetivo de ajudar professores de todo o País. O material é pioneiro na área de educação e aborda novas tecnologias e práticas para lidar com situações violentas na escola, como assédio sexual, uso de drogas e assédio institucional.
Com a coordenação do psicólogo Sérgio Kodato, o grupo de Helen desembocou no chamado Observatório da Violência e Práticas Exemplares, da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados dos dois últimos anos de encontros, entretanto, já não cabiam mais em escritos e falas das reuniões e foram organizados em 20 relatos que devem ficar prontos na próxima semana.
Como não há patrocinador ainda, a publicação não foi marcada. "O que percebemos é que a casos, como o do bullying, que ocorrem tanto em escolas públicas, quanto em particulares. Mas não é que os professores, diretores e coordenadores ignorem isso, é que não sabem mesmo como lidar", disse a pesquisadora Helen. Carlo Rondinoni, também pesquisador do observatório, afirmou que a intenção é utrapassar as fronteiras da escola e chegar à comunidade.
"O formato dos relatórios para Fapesp (agência de fomento que financiou parte das pesquisas) era científico e precisávamos de algo que atingisse também aos leigos. É preciso uma nova interface. No meu caso trabalhei com a produção de vídeos, mas há experiências com ioga, multimídia, dança, entre outros", disse Rondinoni.
A proposta é tornar o observatório uma empresa de consultoria nacional (os núcleos para o projeto já aguardam liberação de verba do MEC). "Não vamos dar receita de bolo, mas as pessoas vão poder se ver nos personagens e fazer esta catarse", disse Helen. Para saber mais: http://observatorioviolencia.blogspot.com/.
Casos verídicos relatam drama
"Uma vez durante uma dinâmica de grupo, durante uma briga violenta, a menina teve crise convulsiva e desmaiou e ninguém se intimidou; desmaios, sangue, lesões, se desenrolam sem um fim claro." O trecho acima é parte da apresentação do livro do Observatório e dá uma mostra da proposta do grupo. Baseado em fatos reais, os textos contam histórias de violência dentro do convívio escolar e discutem soluções para situações que não estão previstas nos cursos de formação de docentes. "Observamos muita violência direta e simbólica; buscamos analisar suas causas, para engendrar perspectivas de prevenção, aquela famosa luz no fim do túnel", sinalizam os autores. (DC)