Notícia

Gazeta Mercantil

Sobrevivência da educação para inovação

Publicado em 16 fevereiro 1998

Por Sérgio Henrique Ferreira
A SBPC está completando 50 anos de luta por uma educação calcada na ciência e voltada para a plena realização do povo brasileiro. Ao longo do tempo, a comunidade científica debate-se apaixonadamente por uma universidade competente e criativa, voltada para a geração e a distribuição do conhecimento. No passado, lutamos por estruturas de planejamento na área de ciência e tecnologia, sabendo que os investimentos nesse setor são de longo prazo e que nossa participação era vital para o futuro do País. Construímos o CNPq, a Capes e a Fapesp e, mais recentemente, as demais fundações estaduais de amparo à pesquisa. Em determinado momento da história foi preciso lutar pela liberdade de expressão para manter viva a fonte de reflexão sobre a realidade brasileira e nós estivemos presentes. Construímos nestes últimos trinta anos uma série de instituições universitárias dotadas de núcleos capazes de gerar ciência de nível internacional, colocando o Brasil entre os vinte países de maior produção científica. Construímos o maior parque de pós-graduação da América Latina. Infelizmente, a política para as universidades nunca se preocupou em valorizar a criação do conhecimento como fonte vital para a formação das novas gerações. Com isso, a massa dos egressos de nível superior não dispõe da qualificação necessária para competir em um mundo de alta tecnologia. A educação, como prioridade nacional, é fundamental para evitar a marginalização do povo brasileiro do mercado de trabalho. Neste momento, é importante que se ressalte a necessidade de manter vivos e atuantes os núcleos de competência instalados nas instituições públicas de pesquisa, particularmente as universidades públicas, que são as responsáveis pelas pesquisas científica e tecnológica existentes no País. É preciso preservar a capacidade de formação de recursos de alto nível como forma de garantir o acesso às novas tecnologias e à revolução cultural em marcha. A comunidade científica não pode eximir-se de tornar pública a sua preocupação com o recente corte intempestivo feito no sistema de ciência e tecnologia, particularmente barrando a entrada de jovens talentos no sistema. Todos nós concordamos que tanto o sistema universitário quanto o sistema de C&T devem ser avaliados e redimensionados. A adequação do sistema às novas exigências da inovação tecnológica é importante para criar em nosso país uma cultura industrial e de serviços altamente sofisticada intelectualmente em um mundo em rápida transformação. A falta de uma política de longo prazo para a área leva a atitudes impensadas e desastrosas. Não será destruindo o que foi construído que se alcançarão resultados futuros. A interrupção de financiamento pode conduzir à destruição do parque de formação de recursos humanos instalado e a sua reconstrução não só levará muitos anos, como marginalizará o País da competitividade dos mercados internacionais. Vale a pena enfatizar que nem a Coréia nem o Japão durante a atual crise econômica fizeram cortes na área de C&T. Propostas intempestivas de cortes nesta área, às vezes relativamente diminutos em relação ao orçamento global do país, refletem falta de sensibilidade quanto à importância de inovação tecnológica autóctone para o nosso desenvolvimento. Fazemos, neste momento, um apelo a todos para que se juntem a nós, na luta pela sobrevivência de uma universidade competente, apta a contribuir para a formação das novas gerações e capaz de impulsionar inovações voltadas para o bem-estar do povo brasileiro. Presidente da SBPC.