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Só recomendar máscara confunde a população e uso deveria ser obrigatório, dizem médicos (86 notícias)

Publicado em 02 de junho de 2022

Tendência de crescimento de casos de doenças virais tem sido registrada nas últimas semanas

A decisão do Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista de recomendar o uso de máscaras em locais fechados foi uma medida correta, segundo infectologistas. Porém, para eles, as autoridades deveriam não apenas sugerir, mas obrigar o uso do item a fim de evitar a propagação do Sars-Cov-2.

Nas últimas semanas, foi observada uma tendência de crescimento de casos. Dados da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia, mostram que a média móvel de novas internações (UTI e enfermaria) aumentou 74% no estado de São Paulo em três semanas. Foram comparados os dias 6 e 27 de maio, quando as médias alcançaram 176 e 306, respectivamente.

O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados foi anunciado pelo ex-governador João Doria (PSDB) em 17 de março. O item, no entanto, ainda é obrigatório no transporte público e em unidades de saúde.

O anúncio da volta da recomendação ocorreu nesta terça-feira (31). Em nota, o governo disse que a decisão ocorre após ter se "verificado um crescimento no número de casos e hospitalizações, sem crescimento de óbitos proporcional graças à ampla cobertura vacinal do Estado de São Paulo referência e líder mundial em vacinação".

Nesta quarta (1º), a Prefeitura de São Paulo seguiu as orientações do governo e também anunciou apenas a recomendação do uso do equipamento.

Diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Monica Levi diz que a nova recomendação confunde as pessoas.

— Infelizmente, temos um país dividido em como entender e enfrentar uma pandemia. Porém, o interesse coletivo tem que prevalecer em relação a opiniões individuais — afirma.

Para ela, é impossível realizar o controle de doenças infecto-contagiosas com base no bom senso.

— É preciso que tenhamos diretrizes conforme os momentos da pandemia. É possível flexibilizar conforme as taxas baixas em lugares aberto, mas em fechados tem que ser obrigatório", disse Levi, que avalia que novas variantes têm elevado o número de casos e é preciso que "apertar medidas até que a Covid-19 se torne endêmica — diz.

A médica cita ainda que, além da Covid, nesta época do ano em que são registradas baixas temperaturas e tempo seco é comum que seja registrado o aumento de síndromes respiratórias. Assim, a máscara teria a capacidade de evitar não apenas a propagação da Covid, como de gripe e outras doenças sazonais.

Médico e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Renato Grinbaum afirma que a decisão sobre a retirada de máscaras em locais fechadas foi prematura e "com embasamento científico precário".

— Retornamos porque a pandemia não acabou — diz ele.

Grinbaum apoia o uso obrigatório das máscaras em locais fechados.

— As autoridades não querem mais ser incisivas na pandemia e estão transferindo para os indivíduos decisões referentes à saúde pública — ressalta.

Ele analisa que, apesar do aumento de número de casos, a situação epidemiológica não é tão grave quanto no ano passado. Porém, é necessário cuidado. "Falta também uma discussão do que fazer quando a pandemia acabar, como quais normas seguir e qual será o novo normal. Precisamos de uma transição não radical."

André Ricardo Ribas Freitas, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, concorda que o uso do equipamento de proteção em ambientes internos nunca deveria ter deixado de ser obrigatório.

— Ainda que essas medidas sejam tomadas agora, não me parece que serão impactantes porque não se trata de uma obrigatoriedade. As pessoas foram estimuladas a acreditar que a pandemia acabou, em decorrência da postura do estado, do governo federal e da falta da coordenação dessas ações — afirma ele.

O professor também analisa que a atual situação não chega aos níveis já vistos, como em momentos em que faltaram leitos de UTI e oxigênio.

— Porém, temos sim uma sobrecarga nos prontos-socorros para doenças respiratórias e não estou vendo uma construção de uma rede capilar que consiga aumentar leitos como aconteceu em outros momentos — afirma.

Fonte: Folhapress