Monitorar em tempo real uma região para ver se haverá chuvas ou incidência de raios parece coisa de meteorologista. Mas não para moradores de cidades litorâneas e do interior de São Paulo, como Limeira, Campinas e Itu.
Com a instalação do projeto Chuva na região, eles podem checar na internet as condições do tempo antes de sair de casa, sabendo as condições climáticas minutos antes de acontecerem.
O site, um braço do SOS Vale do Paraíba, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), traz um sistema aberto onde é viável checar, entre outras coisas, a incidência dos raios que estão atingindo a terra a cada 12 minutos, além da previsão de chuvas imediatas em bairros e até na ruas.
O R7 conversou com Luiz Augusto Toledo Machado, coordenador do Projeto Chuva, sobre o projeto, que, de acordo com ele, representa um grande avanço no sentido de evitar que as pessoas fiquem vulneráveis às consequências da chuva.
Em quais regiões o sistema opera?
Luiz Augusto Toledo Machado: Todo o litoral de São Paulo e algumas cidades do interior, como Campinas, Itu e Limeira. No site é possível checar o raio de ação.
Qual importância deste projeto?
LATM: Temos de pensar em duas vertentes. A científica, que é fazer uma tomografia das nuvens para saber como é o interior delas em cada um dos locais onde há precipitação, ajudando a melhorar a previsão do tempo feita em escala de ruas e bairros. E a social, que ajudará a reduzir a vulnerabilidade da população, testando um sistema de informações em tempo real. Se alguém for viajar, por exemplo, pode olhar o site para saber se chove muito forte na estrada em que vai dirigir. Se vai andar de bicicleta, é possível saber se vai ter incidência de raios no bairro. Isso sem falar nas informações que podemos fornecer à Defesa Civil para que ela aja com antecedência em casos de tempestades.
Um garoto morreu e outras cinco pessoas foram feridas no Guarujá na sexta-feira (6) enquanto passeavam no calçadão da praia da Enseada. Casos como este poderiam ser evitados?
LATM: Com certeza. Se você consultar a página e souber que haverá descarga elétrica, não vai passear à beira-mar. Repito: trata-se basicamente de redução de vulnerabilidade da população.
A página do projeto tem quantos acessos por dia?
LATM: A média é de 1500 acessos por dia. Mas há picos. Já chegamos a 5.500. Acredito que os acessos não sejam só de quem trabalha com meteorologia. Certamente há acessos vindos da população, pois não há tantos profissionais na área assim.
Existe intenção de popularizar o projeto e torná-lo mais acessível?
LATM: Uma segunda fase [posterior à implantação] seria orientar a população, com textos, avisos na página e instrução de uso. Não há ainda esta preocupação por ser um projeto piloto.
A população brasileira está preparada para este tipo de serviço?
LATM: Estamos evoluindo. O brasileiro já tem o costume de buscar informação sobre a previsão de tempo. Mas este é diferente, pois dá uma previsão imediata. É algo novo, para reduzir riscos e retirar pessoas de locais perigosos. Não é um site de previsão de tempo.
Por quê?
LATM: Este é um serviço 24 horas. O país está começando a se estruturar, não existe este tipo de serviço aqui. Isso leva um certo tempo. Para se ter uma ideia, os EUA têm 250 radares instalados e todos integrados. No Brasil temos algo na ordem de 20 radares, que não trocam informações entre si e que não disponibilizam informação imediatamente. A meteorologia no Brasil tem centros regionais, estaduais, federais... É preciso harmonizar todos os setores em cima do desenvolvimento deste serviço, investindo sobretudo na aquisição de equipamentos.
Existe possibilidade de implementação e de expansão?
LATM: Este é um ponto importante. Trata-se de um projeto científico financiado pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], que se propõe a estudar os principais regimes de precipitação no Brasil. Fomos a Alcântara, no Maranhão, Fortaleza, no Ceará, e Belém, no Pará. Depois vamos a Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Brasília e, em 2014, para Manaus, quando termina o projeto. Como estamos empregando um instrumento moderno, aproveitamos para colocar à disposição da população. É um projeto piloto, que mostra o que podemos ter em termos de prestação de serviço em épocas chuvosas. Para se chegar a este nível de tecnologia, foram mais dez anos de pesquisa.
Existe possibilidade de o sistema deixar de ser experimental?
LATM: Fortaleza, por exemplo, adquiriu um radar. Como o sistema já está disponível, pode-se usá-lo na próxima quadra chuvosa. Ele está aberto e estes locais [como Fortaleza e Belém] já o aprenderam. Fazemos um curso em cada um dos lugares em que vamos. O mais caro já foi feito, que foram todos os anos de pesquisa. Desde que se tenha um radar, o processo é rápido e barato.
Para finalizar, como as pessoas devem proceder em casos de raios?
LATM: Visualizou relâmpago e ouviu trovão? A primeira coisa é tentar se abrigar em um local coberto. Devem-se evitar descampados e praias, por exemplo. A mesma coisa na rua. Nunca se sabe se há prédios com para-raios no local. Se tiver em uma área aberta e não tiver o que fazer, fique em posição de cócoras e espere passar.
Para acessar o site: http://sigma.cptec.inpe.br/sosvale/