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Sintoma de Parkinson que ‘congela’ movimento pode ser continuado com tratamento desenvolvido no Brasil | Ciência e Saúde (67 notícias)

Publicado em 17 de julho de 2020

Por Mariana Alvim, da BBC News Brasil

Uma pessoa vai dar um passo, mas de repente, congela. A sensação é como se os pés tivessem ficado preso ao chão.

Esta é uma consequência frequente da doença de Parkinson, ou chamada “congelamento da marcha”. Pesquisadores estimam que mais de um terço das pessoas com doença sofre este sintoma, que é uma causa frequente de quedas, dependência e má qualidade de vida.

Uma equipe da Universidade de São Paulo (USP), liderada pela pesquisadora Carla da Silva Batista, pela Escola de Educação Física e Esporte da universidade, publicou em junho os resultados de um estudo clínico que mostrou a aplicação de um protocolo de treinamento para tratamento do congelamento da marcha.

O estudo dividiu 32 pessoas com Parkinson em dois grupos: um passado por fisioterapia tradicional (15 pessoas) e outro, um treino específico pelos pesquisadores (17). Este combina exercícios de sobrecarga, coordenação motora, cognição e instabilidade com bolas e pranchas – sim, cair também fez parte do treinamento para pacientes com histórico de 12 semanas, em um total de 36 sessões.

O segundo grupo, que passou pelo treinamento específico, obteve melhores resultados em vários testes, observado em questionários respondidos pelos pacientes, por avaliação médica do quadro e também pela ressonância magnética (veja detalhes dos resultados abaixo).

“Construiu um conjunto de exercícios complexos, porque uma complexidade induzida por neuroplasticidade – que é uma adaptação do cérebro a novos estímulos”, explicou Carla Batista à BBC News Brasil, destacando os problemas vividos por quem sofre de congelamento relacionado relacionado a uma parte do cérebro chamada região locomotora mesencefálica.

Uma neuroplasticidade cerebral se expressa, por exemplo, na formação de neurônios e sinapses, conexões entre eles.

“Não há treinamento específico para congelamento de marcha, combinações de tarefas concomitantes, exercícios de coordenação, força e equilíbrio. Também trabalha ou tem medo de cair, às vezes induzindo a algumas – e os pacientes não estão tão bem nos movimentos, mas também na execução. medo. ”

Os resultados dos testes com os 32 participantes, todos selecionados na Faculdade de Medicina da USP, foram publicados no mês passado em Distúrbios do Movimento, periódico da sociedade internacional dedicada ao Parkinson.

Carla Batista aparece com a autora principal, ao lado de colegas da USP, da Universidade Federal do ABC, e também de universidades no exterior, fruto do estudo de estatística dela nos Estados Unidos. Ela fez parte do doutorado na Northwestern University e agora pós-doutorou na Oregon Health and Science University, em dois casos com bolsas da Fundação de Amparo da Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O estudo publicado no Distúrbios do Movimento é do tipo clínico randomizado controlado (RCT, sigla em inglês) – que envolve pacientes (clínicos), divididos aleatoriamente (randomizados) em grupos, um deles usando o tratamento sob teste. Os experimentos, nesse caso, foram realizados entre junho de 2018 e abril de 2019.

Relatórios de participantes, o grupo que participou do treinamento específico apontou melhorias maiores do grupo que seguiu a fisioterapia tradicional sem congelamento da marcha em si (melhorias de 20% vs. melhorias de 1%) e qualidade de vida (melhorias de 23% vs. piora de 9%).

Na ressonância magnética, foi possível observar também a reativação das áreas do cérebro relacionadas ao congelamento da marcha. O modelo de análise de imagens de ressonância magnética usado neste estudo foi desenvolvido por equipes da USP e de pesquisadores dos EUA e Inglaterra, conforme publicado no artigo anterior, de 2017.

Já exames – ou seja, uma avaliação técnica e objetiva, e não relacionados aos pacientes -, indicam melhorias de 51% na frequência de congelamento da marcha entre os que usam o tratamento específico (versus 63% na terapia tradicional) e, na chamada preparação postural no início do passo, melhora de 58% versus a pior de 12%, segundo estudo.

A preparação postural é um indicador importante, ou o congelamento da marcha normalmente ocorre no início do passo ou na virada do corpo, possivelmente por anormalidades motoras e cognitivas na configuração que precede o movimento.

Entre os sintomas de Parkinson, ainda existem rigidez nos músculos, lentidão nos movimentos corporais, tremores e perda de equilíbrio.

De acordo com Carla Batista, o congelamento pode durar alguns segundos a dois minutos. Há remédios e até uma cirurgia, estimulação cerebral profunda, que são usados ??para tratar o congelamento da marcha – mas, segundo a pesquisa, até hoje, os resultados desses testes são considerados inconclusivos.

“Com nossa proposta de tratamento, estamos apostando em uma terapia de baixo custo – na comparação com uma cirurgia, por exemplo – e que é eficaz em modificar uma doença, seja diminuindo, retardando ou até impedindo a exibição de congelamento da marcha. , uma terapia poderia ser incorporada pelo Sistema Único de Saúde, por exemplo “, apontou.

Agora, um próximo passo previsto para testar ou tratar fará um estudo clínico com número maior de pessoas e, possivelmente, envolvendo pessoas que tenham Parkinson, mas não congelamento da marcha. A ideia é verificar se o treino específico desenvolvido pela equipe e aplicado durante dois anos é capaz de impedir ou detectar o sintoma.

Enquanto o tratamento não passa por esta nova validação e apresenta as incertezas atuais sobre remédios e cirurgias existentes, Batista diz que o paciente que passa pelo congelamento deve respirar o fundo e depois tenta usar a ponta do pé, seguido pelo calcanhar. Depois de respirar o fundo, uma pessoa pode tentar também equilibrar o corpo, tocar um lado para outro, até que um “gatilho” seja disparado ou disparado.

Graduado em educação física, Batista também fez seu doutorado na USP sobre o Parkinson – ela também testou um protocolo de exercícios em pacientes com quadros moderados, mostrando que foi superior à fisioterapia tradicional e ao uso de remédios no uso de diversos testes médicos e não motores, como capacidade cognitiva. Já existe trabalho atual, que resultou no artigo recém-publicado, ela e sua equipe se concentraram no congelamento da marcha e em pessoas com quadros mais severos.

Um estudo publicado em 2018 na revista científica Lancet estima que, no mundo, 6,1 milhões de pessoas vivem com Parkinson em 2016. Para o Brasil, o número estimado foi de 128.836.

O número global aumentou desde 1990, quando havia cerca de 2,5 milhões de pessoas com doença. Mas, desde então, não foi somente uma dimensão quantitativa da doença que mudou.

“Antes, acreditamos que o Parkinson afeta apenas a partir da meia idade e na função motora – levando a músculos mais fracos, tremores … Hoje, entendemos que não se trata apenas de uma desordem motora, mas também cognitiva, gastrointestinal, cardiovascular … E temos também a possibilidade de pessoas acima dos 20 anos já serem afetadas “, diz a pesquisadora.